COP30: Ministério da Saúde apresenta AdaptaSUS e Mais Saúde Amazônia Brasil
Novas ações nacionais e amazônicas reforçam o SUS contra emergências climáticas; Presidenta da CUT-Pará enfatiza centralidade da saúde e da democracia durante evento de lançamento
Publicado: 14 Novembro, 2025 - 19h05 | Última modificação: 14 Novembro, 2025 - 20h05
Escrito por: Redação CUT | texto: André Accarini
Durante a programação da COP30, em Belém, o Ministério da Saúde apresentou, na tarde desta sexta-feira (14), o AdaptaSUS, novo plano nacional de resposta a emergências climáticas, e a Agenda Mais Saúde Amazônia Brasil, que amplia o acesso à saúde e enfrenta desigualdades históricas na Amazônia Legal.
As duas estratégias compõem um legado estruturante para o país, que fortalecem a capacidade do SUS de proteger a população frente aos efeitos das mudanças climáticas.
O plano reúne 27 metas e 93 ações, organizadas em eixos que priorizam o fortalecimento da vigilância em saúde ambiental, a integração da atenção primária, o planejamento de infraestrutura hospitalar adaptada a eventos extremos e o estímulo a práticas sustentáveis nas unidades de saúde.
O documento ainda reconhece que populações vulneráveis e vulnerabilizadas estão mais expostas aos efeitos das mudanças climáticas. Por isso, propõe ações articuladas com sociedade civil, universidades, movimentos sociais e organismos internacionais para coordenar a resposta nacional às emergências climáticas, com foco nessas populações.
Mais Saúde Amazônia Brasil
A Agenda Estratégica Mais Saúde Amazônia Brasil busca diminuir desigualdades regionais e ampliar a presença do Estado em territórios indígenas, ribeirinhos e tradicionais, integrando políticas de atenção, vigilância, ciência, tecnologia e desenvolvimento sustentável. Uma das principais estratégias incluem o Plano Mercúrio, criando para mitigar os impactos da substância na saúde da população.
“A Amazônia é um território vivo, onde cidades, florestas, rios e pessoas se conectam em uma mesma história. Nela, saúde e ambiente são indissociáveis. Mas é também o território onde mais se sente o impacto combinado das mudanças climáticas, do desmatamento, das queimadas e da contaminação ambiental”, disse Padilha.
O Mais Saúde Amazônia Brasil expressa um compromisso político e simbólico que articula saúde, vigilância, tecnologia e sustentabilidade, reconhecendo o papel central das populações tradicionais e dos povos originários. Representa, também, o compromisso do Brasil com um futuro mais saudável, inclusivo e ambientalmente equilibrado para a Amazônia e o planeta.
Está previsto um conjunto de ações na Amazônia, incluindo a criação do Centro de Clima e Saúde da Fiocruz em Rondônia; um Centro de Referência em Saúde Indígena para o território Yanomami em Roraima; ampliação do programa Agora Tem Especialistas, com R$ 230 milhões para cirurgias, exames e ambulanchas; reforço da Atenção Primária em Belém, com oito UBS requalificadas e 554 novos agentes comunitários; investimentos nas Medicinas Tradicionais; implantação de 20 UBS Saúde da Floresta no Amazonas e no Pará, equipadas com energia solar; e a Casa do Saneamento da Funasa, voltada a comunidades rurais e ribeirinhas.
Saúde como eixo vital da adaptação climática
Ao lado do ministro Padilha no palco, Vera Paoloni, presidenta da CUT-Pará, levou ao lançamento a perspectiva construída pelas escutas ativas realizadas pela Central no estado ao longo de 2025. Nesse processo, a CUT percorreu municípios do estado realizando diálogos ativos com a sociedade para compreender como as mudanças do clima afetam a rotina das pessoas. “A saúde é tão indispensável, ela é tão fundamental, que as pessoas enlouquecem quando o clima está extremo como está agora — ora muito sol, ora muita quentura”, destacou a dirigente.
Vera reforçou que a crise climática exige respostas urgentes e planejadas, e que o plano apresentado pelo Ministério da Saúde dialoga diretamente com as demandas identificadas nas bases. “Além do diagnóstico, nós temos resposta para o que fazer. Essa pauta atravessará 2025, irá para 2026”, afirmou.
Ainda em sua fala, Vera reiterou que ‘saúde e democracia são condições essenciais para a sobrevivência e o bem-estar da população trabalhadora’.
“Estamos brigando para que, junto com o meio ambiente, nós tenhamos trabalho decente, sem privatização, com o trabalhador sendo valorizado, com remuneração digna – mas, com certeza absoluta, com democracia. Porque sem democracia a gente morre e sem saúde a gente morre. São dois bens universais absolutamente indispensáveis”
Vera também levou um recado direto ao governo federal, de agradecimento por realizar a COP30 em Belém.
Nosso agradecimento público ao presidente Lula por ter trazido a COP 30 para Belém, porque era absolutamente necessário que se visse a Amazônia real. Aqui não somos só rios, nem só floresta. Aqui tem gente, aqui tem trabalhador, aqui tem trabalhadora
Ao finalizar, ela reforçou a importância do engajamento político e do fortalecimento das instituições democráticas. “É preciso ter uma grande bancada de esquerda e progressista no Senado, na Câmara, além, é claro, de reeleger o presidente Lula. Siga na luta. Viva a Central Única dos Trabalhadores e das Trabalhadoras”, finalizou.
Plano de Ação em Saúde de Belém,
Outra importante ação que relaciona a saúde às condições climáticas ocorreu durante a COP-30. Na noite da quinta-feira (13). Foi lançada a primeira proposta internacional dedicada exclusivamente à adaptação climática nos sistemas públicos de saúde. O anúncio foi conduzido pelo ministro Alexandre Padilha e contou com a presença de organizações sociais, entidades científicas e representantes do movimento sindical, entre eles dirigentes da CUT e de sindicatos cutistas de várias categorias.
O Plano de Ação em Saúde de Belém (BHAP) traz uma estrutura abrangente para fortalecer a adaptação do setor saúde frente aos desafios impostos pelas mudanças climáticas, reconhecendo-as como uma das ameaças globais mais urgentes. O principal objetivo é aprimorar os sistemas de saúde por meio de três linhas de ação inter-relacionadas: Vigilância e Monitoramento baseados no clima, Políticas e Estratégias Baseadas em Evidências e capacitação e Inovação, Produção e Saúde Digital.
As ações, de acordo com o ministério, serão guiadas pelos princípios transversais de Fortalecimento da Equidade em Saúde e Justiça Climática, além da Governança com Participação Social, garantindo que as políticas sejam inclusivas e foquem nas populações vulneráveis.
Em suma, o docu
mento apresentado pelo ministério reúne diretrizes e ações para que os países fortaleçam a capacidade de seus sistemas de saúde para enfrentar os impactos crescentes da crise climática – fenômenos como ondas de calor extremo, secas, enchentes e outros eventos que atingem de maneira mais severa as populações vulneráveis.
“Estamos convocando um mutirão mundial para proteger a saúde das pessoas mais vulneráveis, reforçando a preparação dos sistemas de saúde para enfrentar o calor extremo, enchentes, secas e outras emergências”, afirmou Padilha durante o lançamento. O ministro também recordou que mais de 540 mil pessoas morreram no último ano em decorrência do calor extremo em várias regiões do planeta, sublinhando a urgência de medidas globais.
Segundo o Ministério da Saúde, o Plano de Ação em Saúde de Belém já conta com a adesão de 80 países e organizações internacionais. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), que apoia o documento, a iniciativa preenche uma lacuna histórica. O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, destacou que colocar a saúde no centro das negociações climáticas é essencial para ampliar a mobilização global.
“A saúde é a raz
ão mais convincente para agirmos em relação ao clima, mas, por muito tempo, ela foi relegada a um segundo plano nas negociações. O Plano de Belém muda isso ao apresentar ações concretas que os países podem colocar em prática ao construir comunidades mais saudáveis e resilientes em um mundo em aquecimento”, afirmou.
CUT presente na construção de soluções
A delegação cutista que acompanha a COP30 destacou que a inclusão do tema da saúde nas ações globais de adaptação climática reforça o papel do movimento sindical na defesa da vida, dos territórios e dos direitos.
O Plano de Ação em Saúde de Belém, ao propor medidas concretas e articuladas internacionalmente, representa um marco para que políticas públicas de saúde estejam preparadas para os efeitos crescentes da crise climática — especialmente em regiões como a Amazônia, onde os impactos já se manifestam de forma intensa.
