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Confundido com professor

Policial civil denuncia à Corregedoria prisão e tortura em viatura da PM

Publicado: 30 Março, 2010 - 15h36




Jefferson Cabral sendo preso. Foto: UOLJefferson Cabral sendo preso. Foto: UOLNa sexta-feira passada, maisde 40 mil professores paulistas foram impedidos pela tropa de choque da PolíciaMilitar de chegar até o Palácio do Morumbi, sede do governo estadual, para apresentarsuas reivindicações.

Na oportunidade, bombas de gáslacrimogêneo e de efeito moral, gás pimenta e muitas balas de borracha transformaramas imediações do Palácio em palco de uma batalha campal.

Sindicalista e policial civil,Jeferson Cabral foi confundido com um professor, mantido preso e espancado porcerca de três horas dentro de uma viatura até que foi levado ao 34ª DP deFrancisco Morato. Com a roupa rasgada e acompanhado por dirigentes do Sindicatodos Investigadores de Polícia, Jeferson foi até a Corregedoria denunciar osinumeráveis abusos dos quais foi vítima.

Ainda mancando com problemasno joelho e dores por todo o corpo, Jefferson Cabral falou sobre os descaminhosdo desgoverno tucano e da importância da unidade de todos os servidores com acomunidade para derrotar a intransigência.

Como você foi preso?

Eu estava junto com osmanifestantes quando começaram a atirar bombas. Em meio às nuvens de gás,comecei a tirar as pessoas dali, socorrê-las, levar para um lugar seguro.Quando estava tirando o segundo não vi que estava muito próximo de um policialmilitar motociclista. Entre vários, conseguiram me prender. (Na foto da UOL,vê-se que o cacetete está dobrado em seu pescoço). Disse que era delegadosindical dos investigadores. Foi quando me disseram: você vai pagar pelosoutros.

E depois disso?

Fui colocado algemado etrancado numa viatura da Polícia Militar. Fui hostilizado, ofendido e ameaçadodurante três horas e tratado como bandido, com todo tipo de ofensas,impublicáveis.

Houve ameaça?

Diziam a todo tempo que iam melevar para o “esquisito”, que na gíria é um local ermo, onde você pode sersubmetido a qualquer agressão pois não haverá ninguém para testemunhar. Diziamque iam acabar com a minha raça. As ameaças vieram de alguns policiais,desavisados, que me dominaram e não sabiam o que estava acontecendo, que haviaum movimento lutando por direitos, reivindicando melhorias para toda asociedade.

E então?

Foi quando trouxeram ocomandante da operação, o coronel Veloso, que então se deu conta do tamanho doerro cometido. Me perguntaram se eu atirei pedras. Eu retirei paus e pedras dasmãos de muitos, porque acredito que o nosso inimigo não é a polícia, mas ogoverno que a manipula para reprimir.

E aí, junto com os advogadosdo Sindicato, te dirigiste à Corregedoria para denunciar os abusos...

Exatamente. Fiz um Boletim deOcorrência (nº98/10) e fui ao IML fazer o exame de corpo delito. Não consigoandar devido aos chutes que levei no joelho, na cabeça, costas e barriga.

Quando foste agredido destaforma?

Antes, durante e depois dealgemado. O pior é que sou asmático e me deixaram um bom tempo com o cacetetevergado, como dá para ver pela foto, inclusive, quase sem respirar. Tive medoque me matassem.

Apesar da intensa brutalidadea que foste submetido, fizeste questão de estabelecer uma diferença entre ocomportamento de meia dúzia de covardes e o grosso da corporação.

Antes de ser investigador dePolícia, e delegado sindical em Taubaté, fui policial militar por quatro anos.Meu pai é policial militar. As agressões de que fui vítima, assim como uma boaparte dos manifestantes, foi provocada por indivíduos isolados.

Que estavam cumprindo ordensdo governo Serra...

Infelizmente, sim. É umagrande pena e um verdadeiro tiro no pé essa orientação do governo porque muitosprofessores têm filhos que são policiais militares, têm o mesmo sangue. Achoque essa agressão deve servir para a PM refletir e se unir à comunidade.