Centenário Solano Trindade
Evento em Recife homenageia poeta da resistência negra
Publicado: 16 Setembro, 2008 - 14h58
Escrito por: CUT Nacional
O Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco (Sintepe), entidade filiada à Central Única dos Trabalhadores (CUT-PE) promoveu na segunda-feira (15), um evento para comemorar os 100 anos do poeta Solano Trindade. A atividade aconteceu no auditório do Sindsep, em Recife.
Durante o encontro, foram realizadas apresentações de trabalhos acadêmicos com temas relacionados à cultura negra, debates sobre a militância de Solano Trindade, o resgate histórico do Movimento Negro Unificado (MNU) e a questão racial nos sindicatos, além de apresentações de grupos culturais. O evento contou com a participação de sindicalistas e representantes de movimentos sociais. O secretário nacional de Políticas Sociais da CUT, Expedito Solaney, participou da atividade.
A sessão solene teve início por volta das 15h, com uma emocionante homenagem ao centenário de Solano Trindade, no plenarinho da Assembléia Legislativa de Pernambuco (Alepe).
Poeta da resistência negra - Solano Trindade era poeta, pintor, teatrólogo, ator e folclorista. Nasceu no dia 24 de julho de 1908, no bairro de São José, no Recife, capital de Pernambuco. Era filho de Manuel Abílio, mestiço, sapateiro, e da quituteira Merença (Emerenciana). Estudou até completar um ano de desenho no Liceu de Artes e Ofício. A partir de então, começa a escrever. Sua 'carreira' como militante inicia-se, de fato, a partir de 1930, quando começa a compor poemas afro-brasileiros e, já integrado nesta corrente, participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro, no Recife e Salvador. Em 1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o Centro de Cultura Afro-brasileiro, que tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros. Em 1944, edita o livro 'Poemas de uma vida simples', onde se encontra o seu declamadíssimo 'Trem sujo da Leopoldina'. Em 1945 funda o Comitê Democrático Afro-brasileiro, com Raimundo Souza Dantas, Aladir Custódio e Corsino de Brito.Em 1954 está em São Paulo, criando na cidade de Embu, um pólo de cultura e tradições afro-americanas. Em São Paulo também funda o Teatro Popular Brasileiro – TPB, onde desenvolveu uma intensa atividade cultural voltada para o folclore e para a denúncia do racismo. Em 1955 viaja para a Europa, com o TPB, onde dá espetáculos de canto e dança. Em 1958 edita 'Seis tempos de poesia'; em 1961, 'Cantares ao meu povo' (com uma reunião de poemas anteriores). Solano Trindade faleceu no Rio de janeiro, em 19 de fevereiro de 1974. Sua obra, não. Continuará eternamente viva, como que escrita com brasas na pele escura de todo afrodescendente, mesmo que não queira, mesmo que não saiba.
SOU NEGRO
Sou Negro
meus avós foram queimados
pelo sol da África
minh'alma recebeu o batismo dos tambores atabaques, gonguês e agogôs
Contaram-me que meus avós
vieram de Loanda
como mercadoria de baixo preço plantaram cana pro senhor do engenho novo
e fundaram o primeiro Maracatu.
Depois meu avô brigou como um danado nas terras de Zumbi
Era valente como quê
Na capoeira ou na faca
escreveu não leu
o pau comeu
Não foi um pai João
humilde e manso
Mesmo vovó não foi de brincadeira
Na guerra dos Malês
ela se destacou
Na minh'alma ficou
o samba
o batuque
o bamboleio
e o desejo de libertação.