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Barracos de acampamento viram opção para...

Com salário médio de R$ 600,00, funcionários da Seara/Marfrig vivem sem luz nem água encanada

Publicado: 09 Setembro, 2011 - 12h09

Escrito por: Marcos Tomé e Flávio Paes

 

Com salários miseráveis, morar em barraco foi a única opçãoCom salários miseráveis, morar em barraco foi a única opçãoO acampamento que os sem-terra mantém há seis anos no corredor de acesso à Fazenda Brejão  na saída para Campo Grande, se transformou numa alternativa de moradia para funcionários da Seara/Marfrig que com um salário médio de R$ 600,00,  enfrentam dificuldades para pagar  entre R$ 200,00 e R$ 250,00  preço médio de uma casa de três peças e banheiro na periferia de Sidrolândia.

Entre as 300 famílias que moram nos barracos na expectativa de receber um lote da reforma agrária, há trabalhadores como Emerson de Souza e sua mulher Rosiclair dos Santos, grávida de três meses, que há duas semanas conseguiram autorização para se instalar num barraco vazio desde que o antigo ocupante se cansou  de esperar pela terra e mudou d a cidade.

Emerson, um rapaz de 32 anos, integra o grupo de 1.431 novos moradores que segundo o IBGE  vieram para Sidrolândia neste ano, a maioria oriundos de cidades vizinhas como Dois Irmãos do Buriti, Aquidauana, Nioaque e Miranda, onde há poucos oportunidades de trabalho.  Ele veio de Jardim onde trabalhava como moto-taxista, o que lhe rendia no máximo R$ 25,00 por dia, descontados os gastos com combustível e manutenção da moto.

Há três meses mudou com a mulher para Sidrolândia. Se cadastrou na Seara e em duas semanas estava empregado, ganhando pouco mais de um salário mínimo na carteira, R$ 620,00, em torno de R$ 480,00 com os descontos. Com o aluguel de R$ 220,00 sobrava para o casal R$ 260,00 para o restante das despesas (alimentação), água luz e a gasolina da motocicleta.

Como já no primeiro mês pagando aluguel constatou que não tinha como se manter (ao lado da mulher ) com R$ 8,66 por dia,  tomou a decisão de procurar o Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Obteve autorização de um dos líderes do acampamento para ocupar um barraco, tendo como  único compromisso financeiro pagar R$ 36,00 por mês (R$ 25,00 para o líder e R$ 11,00 para o Sindicato).

“Aqui não tem  conforto, não tem água encanada, nem luz, mas pelo menos é perto do serviço, o que também garante a economia de  combustível”. Emerson não tem como prioridade obter terra da reforma agrária. Ele teve uma experiência de cinco anos  acampado em Guias Lopes da Laguna. “Como a terra não sai acaba desiste e voltou a trabalhar na cidade”, revela.

Quem também não tem alternativa a não se continuar morando no acampamento é o casal Teresa Feliz e Pascoal Bento. Mesmo depois que foi descartada a desapropriação ou compra (pelo Incra) da Fazenda Brejão, adquirida por Olindo Comparim que pagou ao Grupo Bertin R$ 40 milhões,  os dois resolveram continuar morando no barraco onde estão há seis anos.  

A casa que eles têm no distrito Quebra Coco está ocupada pela filha. “A gente só tem algum dinheiro quando surge algo bico, como a limpeza de terreno na cidade. Fica difícil pagar aluguel, por mais barato que seja”, reconhece.

Enquanto alguns acampados só ficam aos finais de semana nos barracos,  a família de dona Maria Terezinha teve que mudar de vez para o acampamento. “Nossa renda não chega a um salário mínimo. Não tem como ficar na cidade pagando aluguel, água e luz”, relata. Ela ainda tem esperança que vai receber um lote da reforma agrária. “Eles nós ofereceram uma área na região do Alambari. Não quis ir, porque além de ser longe, a terra é um areião danado”, revela.