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Barbárie e covardia sem limites

O caráter essencialmente nazista da política de Israel

Publicado: 03 Junho, 2010 - 20h28

Escrito por: Leonardo Wexell Severo



Nembem terminei de ler “A linguagem do Império – Léxico da ideologia estadunidense”,de Domenico Losurdo (Boitempo, 306 páginas), o terrorismo de Estado de Israelceifa a vida de dezenas de ativistas na madrugada dentro de um barco, alvejamuitos e prende como criminosos centenas de homens e mulheres que, navegando emáguas internacionais, insistiam em levar ajuda humanitária à Faixa de Gaza,mantida sob bloqueio criminoso, ilegal e imoral pelos sionistas.

Comose tivesse feito um livro sob encomenda para explicar o ocorrido, o autorquestiona: “o caráter essencialmente ‘fascista’ e até mesmo ‘nazista’ dapolítica de Israel explica tudo isso?”.

Se“a ideologia da guerra que se desenvolve nos nossos dias é a linguagem doimpério”, a manipulação dos meios de comunicação tem sido historicamente umaarma dos que procuram justificar suas práticas genocidas. “Essa inversão doslados de agredidos e agressores, oprimidos e opressores, não deve espantar, éparte integrante da ideologia colonial. Enquanto grassa o escravismo, seusbeneficiários e apologistas classificam os abolicionistas de ‘avessos aosbrancos e assassinos’ ”.

Hoje,o país que se arvora campeão da liberdade coonesta os crimes de Israel,perpetua o criminoso bloqueio a Cuba, bombardeia e assassina centenas demilhares no Iraque e no Afeganistão, investe contra o acordo de paz com o Irã,cultua prisões como a de Guantánamo e de Abu Ghraib, da mesma forma comotransformava o suplício dos negros pela Ku Klux Klan em cruel espetáculo demassa, anunciado pela imprensa. Da mesma forma que financiou, armou e sustentouSomoza, Pinochet e Papa Doc, entre outros sangrentos marionetes.

Agora,“o uso terrorista da categoria terrorismo chega a seu auge na Palestina” etodos os que são movidos pelo “desejo de resistir à invasão estrangeira”, “delutar contra os que oprimem e humilham seu país” – ou apenas se solidarizam,como foi o caso dos integrantes da “Frota da Liberdade” - viram “terroristashostis”. A desinformação é acompanhada pelo rótulo depreciativo, endereçada aosque lutam contra a agressão, seja no Iraque, no Afeganistão ou na Palestina,transformada em “gueto mundial”. “Se o garoto palestino que protesta contra aocupação jogando pedras é ‘terrorista’, devemos considerar campeão da lutacontra o terrorismo o soldado israelense que o mata a tiros?”. Infelizmente,não é um exemplo imaginário, mas de “um traço essencial da tradição colonial”.Talvez isso explique ser o sionismo “a única filosofia política autônomapermitida pelo Terceiro Reich”.

Pelotratamento dispensado aos integrantes da “Frota da Liberdade”, dá para ter umaideia do que padecem os milhares de palestinos encarcerados por Israel,inclusive crianças. Na descrição do escritor Ghassan Abdallah, internado naprisão de Ansar-3, no deserto, “a antecâmara do inferno”. Nem mesmo os oficiaisisraelenses suportavam o seu papel de carcereiros e tinham “necessidade derecorrer aos tranqüilizantes”. Para os palestinos, a “tortura”, o “infernocotidiano”: “de dia, no verão, chega-se aos 40º, enquanto de noite se podechegar a 0º”.

Enquantoera obrigado a esconder-se nas ruas de Dresden para escapar da “solução final”que os nazistas reservaram aos judeus, o professor e filólogo Victor Klempererdenunciava o “extraordinário parentesco” e os “profundos pontos em comum” entreo sionismo, fundado por Theodor Herzl e o nazismo. Não por acaso, Herzl é oisraelense a quem os vestais da mídia (anti) brasileira queriam que opresidente Lula colocasse flores no túmulo durante sua visita a Jerusalém,tentando imputar inclusive ao governo brasileiro uma suposta “gafe diplomática”por deixar de fazer o que sequer estava agendado.

“Adoutrina da raça de Herzl é a fonte dos nazistas, são eles que copiam osionismo, não o contrário”, sublinhou Klemperer, mostrando simpatia pelapopulação árabe que se insurge “contra o processo de expropriação e colonizaçãoe o ‘destino de índios’ a ela reservado pelos colonos sionistas”. Com efeito, éo próprio Herz que se refere de modo explícito ao modelo estadunidense deexpansão do Far West, e ao extermínio dos peles-vermelhas, a quem  literalmente se arrancava o couro para fazer“rédeas”.

“Caracterizao sionismo uma palavra inequívoca – “uma terra sem povo para um povo semterra”. Nas palavras de Herzl: “queremos levar limpeza, ordem e costumesiluminados do Ocidente a esse canto agora infecto e desolado do Oriente, a essecanto doente”. “Ao estabelecer-se na Palestina, os judeus podem ‘sanar aquelachaga do Oriente’. Concluindo: ‘os judeus são o único elemento civilizador quepode colonizar a Palestina”. Folheando os diários de Herzl, nos encontraremos“diante de um álbum de família do colonialismo e do imperialismo entre osséculos XIX e XX”.

Nãopor acaso, a Assembleia Geral da ONU decretou em 1975 que “o sionismo é umaforma de racismo e de discriminação racial”. Afirmava a declaração que “acooperação e a paz internacionais requerem a realização da liberação e daindependência nacional, a eliminação do colonialismo e do neocolonialismo, daocupação estrangeira, do Sionismo, da segregação e da discriminação racial sobtodas as suas formas, bem como o reconhecimento da dignidade dos povos e de seudireito à autodeterminação”. Contra esta interpretação se perfilavam osgovernos dos EUA, Israel e... da África do Sul, do apartheid, que mantinhaencarcerado a Mandela. Com a desaparição do campo socialista, em 1991, estadeclaração foi revogada.

Ésabido e reconhecido o recurso sistemático de Israel à eliminação física ou aoassassinato de palestinos acusados ou mesmo suspeitos de realizar ações“terroristas”, prática que “recorda os esquadrões da morte aos quais recorreramcertos regimes da América Latina”, financiados e treinados pelo governoestadunidense. “Só se pode falar em justiça quando quem julga é um órgãoimparcial, que julga a partir não de impressões ou certezas subjetivas, mas deprovas obtidas e confirmadas durante um debate com a defesa. Nada disso severifica quando os aviões e os helicópteros israelenses lançam seus mísseiscontra as vítimas designadas”. Na prática, uma “limpeza étnica” na Palestina,“acrescentada às injustiças e humilhações ligadas ao processo de colonizaçãoque vem ocorrendo há décadas”.

Quantoao “caráter escrupulosamente planejado das execuções ou dos assassinatosorquestrados pelo exército israelense”, vale lembrar uma citação de HenrySiegman, ex-chefe executivo do Congresso Judaico Americano: “Foi perguntado aogeneral Dan Halutz, chefe do Estado Maior de Israel, em 2002, quando dirigia aaviação israelense, o que sentiu quando soube que a bomba de uma toneladalançada sobre um líder do Hamas tinha matado também nove crianças palestinas –um resultado bastante previsível, dado que a bomba fora lançada sobre um prédiocujos apartamentos eram habitados por civis. Como se sabe, ele respondeu tersentido em seu avião ‘um leve choque’ no momento em que a bomba caía. (Essa foia única perturbação que sentiu). Ele acrescentou que, naquela noite, dormiumuito bem”. Resultado: foi promovido a chefe do Estado maior.

Conformeartigo publicado no International Herald Tribune, para “desacreditar” o governonacionalista de Nasser, em 1954, “agentes recrutados por Israel colocarambombas nas bibliotecas estadunidenses de Alexandria e do Cairo, fazendo com queos egípcios parecessem culpados”.

Omais difundido jornal israelense noticiou episódios e fotos que esclarecem bemcomo pensam – e agem – as tropas sionistas: “Uma mostra um soldado israelensecom a bota sobre o tórax de um palestino que acabara de ser morto em um campode pimentões no Gush Katif, ao sul de Gaza. O militar parece imitar um caçadorque acabara de abater um animal”. No Canadá, um desertor do exércitoestadunidense relata que seus “companheiros de arma jogavam futebol com acabeça de um iraquiano decapitado”.

“OEstado de Israel ampliou suas fronteiras em mais de 50% além das áreasatribuídas ao Estado judeu pela ONU em 1947, enquanto a área destinada aospalestinos já foi reduzida em cerca de 60%, e tudo isso sem contar as colôniase as outras expropriações realizadas por Israel na Cisjordânia”, conformeanálise de “conceituados” órgãos de imprensa estadunidense, judeus israelensesou norte-americanos. E não é tudo: “o furto da terra, que anda ao lado do muro,chega a aproximadamente 12% da Cisjordânia”. Uma realidade “cada vez maissemelhante à da África do Sul do apartheid”, bantustões, formalmente “Estadosindependentes”, mas de fato sem qualquer autonomia no plano econômico emilitar. “A aplicação de tal modelo à Faixa de Gaza e à Cisjordânia permitiria queIsrael se mantivesse como ‘Estado judeu’ evitando a ameaça representada pelorápido crescimento demográfico dos ‘negros’ palestinos e perpetuando asubjugação destes de diferentes formas... Não obstante o ‘desempenho’, Israelcontinua a ter total controle sobre a Faixa de Gaza e arredores, o espaçoaéreo, o fornecimento de água e energia elétrica, a vida e a morte – comodemonstram as recorrentes incursões de carros armados e blindados -, osbombardeios, as ‘execuções extrajudiciais’ com seu séquito de ‘danoscolaterais’ mais ou menos amplos, tudo decidido de forma soberana por TelAviv”.

Oentranhamento desta ideologia fascista é visível, estampada no “culto reservadoa Baruch Goldstein, ‘o médico colono que em fevereiro de 1994 invadiu aMesquita de Abraão, em Hebron, e disparou sobre os crentes ajoelhados pararezar’. Morreram 29, enquanto os feridos passaram de uma centena. Em 1997, emhonra deste ‘santo’, é publicado um livro: O homem bendito”.

Comojornalista do HP visitei em 2001 os territórios palestinos ocupados. Lembro dosolhos das crianças como o alvo principal das balas de aço israelenses,revestidas de borracha para não matar, “apenas” para servir de alerta aosjovens braços que jogavam pedras contra os tanques nazi-israelenses na segundaIntifada. Da fila de crianças nos hospitais no aguardo de um visto dossionistas para poderem viajar e serem operadas na Alemanha, já que a pista deseu aeroporto havia sido tomada por crateras após os bombardeios. De um senhorbaleado na cabeça enquanto conversava a meu lado na cidade de Hebron, doshospitais repletos de mutilados pela covardia, do esgoto correndo a céu abertoem Gaza, das estradas bloqueadas na Cisjordânia, do roubo da água, do assaltoàs terras. De lá para cá, a segregação, como o muro do apartheid, só cresceu...Como a consciência e o repúdio internacional à ocupação.

Encerrocom as palavras de Ho Chi Minh. Em 1924, quando era tão somente mais um jovemindochinês, de nome Nguyen Sinh Cung, chegando à República estadunidense embusca de trabalho, assistindo horrorizado a um linchamento: “No chão, cercadade um cheiro de gordura e de fumaça, uma cabeça negra, mutilada, assada,deformada, faz uma careta horrível e parece perguntar ao sol que se põe: ‘Istoé civilização?’ “.