• Kwai
MENU

Ata do Copom decreta fim da queda de juros e...

Arrocho só contribui para afundar ainda mais a economia que prevê crescimento menor que 2%

Publicado: 24 Outubro, 2012 - 10h28

Escrito por: Valdo Albuquerque/Hora do Povo

A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central sinaliza que a taxa básica de juros ficará no atual patamar (7,25% ao ano). “O cenário prospectivo para a inflação ainda comportava um último ajuste nas condições monetárias”, diz o documento.

Como observou o ex-ministro Delfim Netto, em termos reais a taxa de juros está em torno de 2%, o que confrontado com a média das taxas internacionais, que está negativa (cerca de -2,0%), dá um diferencial de juros por volta de 4,0%, o que ainda é bastante expressivo.

Além de decretar o fim da redução dos juros – pelo menos por um certo período -, a ata do Copom segue a sua campanha pelo arrocho salarial, repetindo as mesmas palavras da ata anterior: “Um risco significativo reside na possibilidade de concessão de aumentos de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade e suas repercussões negativas sobre a dinâmica da inflação”.

Deve ser por isso que o BC “reafirma sua visão de que cabe especificamente à política monetária manter-se especialmente vigilante para garantir que pressões detectadas em horizontes mais curtos não se propaguem para horizontes mais longos”. O que significa dizer que não está descartado o aumento dos juros.
Apesar de avaliar “como decrescentes os riscos derivados da persistência do descompasso, em segmentos específicos, entre as taxas de crescimento da oferta e da demanda”. Contudo, “o nível de utilização da capacidade instalada se encontra abaixo da tendência de longo prazo”. De acordo com a FGV, o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) na indústria de transformação, com ajuste sazonal, ficou em 84,1% em setembro, 2,6 p.p. abaixo do máximo da série histórica registrado em junho de 2008, isto é, antes da explosão da crise nos EUA. No setor de bens de capital (máquinas e equipamentos), o Nuci recuou para 82,0%.

O BC, que no último Relatório de Inflação estimou um crescimento do PIB em apenas 1,6% este ano, avalia que são “favoráveis as perspectivas para a atividade econômica” para este e para os próximos trimestres. Porém, para isso é preciso aumentar os investimentos – até para recuperar o Nuci de antes da crise – para os quais é necessária a continuidade da redução dos juros.

Por outro lado, além dessa história de que aumento de salário causa inflação já estar mais do que desmoralizada, o arrocho salarial longe de contribuir para concretizar as perspectivas favoráveis para atividade econômica iria contribuir para afundá-la ainda mais. Não se trata de um desejo, mas é que não há saída para o baixo crescimento – 2,7% em 2011 e menos de 2% este ano, segundo o próprio BC, depois de um crescimento de 7,5% em 2010 – se não for com base no fortalecimento do mercado interno, para o qual o aumento de salário é fundamental. Afinal, vai se vender para quem, com salários arrochados?

A ata registra os números do IBGE sobre o PIB do segundo trimestre, “quando a expansão da atividade foi de 0,5% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior e de 0,4% ante o primeiro trimestre de 2012, segundo dados dessazonalizados. Dessa forma, a taxa de crescimento acumulada em quatro trimestres recuou de 1,9% para 1,2%, ratificando a visão de que a economia tem crescido abaixo do seu potencial”.

Como é sabido, conceito de PIB potencial do BC é 3,5%. Ou seja, o Brasil estaria condenado à eterna estagnação.

É bom lembrar que grande parte para os fiascos do PIB em 2011 e 2012 é de responsabilidade do BC ao elevar por cinco vezes seguida a taxa Selic, em 2011, e posteriormente com a redução à conta gotas. E mais: os juros siderais do BC se transformaram em um verdadeiro imã a avalanche de dólares emitidos pelo FED – as superemissões -, desequilibrando o câmbio e acelerando o processo de desnacionalização e, por consequência, a desindustrialização.