As mãos que alimentam a nação
Encontro Nacional da Agricultura Familiar reforça luta por mais crédito e contra concentração fundiária
Publicado: 23 Julho, 2010 - 17h17
Escrito por: Leonardo Wexell Severo, de Feira de Santana

Agricultores familiares reivindicam avanços
Lula com Elisângela (Fetraf/CUT)
Cerca de cinco mil lideranças do campo, de 19 estados, participaram nesta sexta (23), em Feira de Santana (BA), do II Encontro Nacional da Agricultura Familiar, que além de fazer um balanço dos avanços conquistados no último período, decidiu ampliar a mobilização por “mais crédito e contra a concentração fundiária”, defendendo a reforma agrária como “indispensável para a promoção da justiça social”.
Organizado pela Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (Fetraf-CUT), o evento contou com a participação do presidente Lula; do governador da Bahia, Jaques Wagner; de ministros como Guilherme Cassel, do Desenvolvimento Agrário, e Luiz Dulci, da secretaria geral da Presidência; da secretária nacional de Comunicação da Central Única dos Trabalhadores, Rosane Bertotti; do presidente da CUT Bahia, Martiniano Costa, e de dirigentes do Incra, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, parlamentares e prefeitos.
INDUTORA DO DESENVOLVIMENTO
“Neste governo, a agricultura familiar passou a ser reconhecida como indutora do desenvolvimento social e econômico, e vetor de distribuição de renda. Foi reconhecido o importante papel no combate à pobreza e segurança alimentar e nutricional, e como promotora de justiça social. Inclui ainda a família no conceito de políticas públicas para o campo brasileiro”, frisou a coordenadora geral da Fetraf-CUT, Elisângela Araújo.
Para além dos avanços conceituais, lembrou Elisângela, é preciso destacar a política de Habitação Rural, o Programa Luz para Todos, o Programa de Construção de Cacimbas no Nordeste e o Projeto de Transposição do Rio São Francisco, em andamento. Ela destacou a importância do Programa Bolsa Família que, “com portas estruturantes em educação, qualificação profissional, desenvolvimento da atividade agrícola familiar e a significativa política de recuperação do salário mínimo, fizeram a diferença e inverteram o gráfico de concentração de riqueza no país”.
REVOLUÇÃO NO CAMPO
Conforme a dirigente da Fetraf/CUT, a nova dinâmica da agricultura familiar renovou as esperanças do povo no campo e alterou o mapa da migração social. “A ampliação do volume de recursos de crédito agrícola e a diversificação das linhas de financiamento para custeio, investimentos, preservação e manejo ambiental contribuíram em muito para isso. Porém é na instituição de Programas de Aquisição de Alimentos (PAA) e Política Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que iniciou uma verdadeira revolução no campo. Os programas carecem de aperfeiçoamentos e ampliação de volume de recursos, porém já apresentam significativos resultados. Estas políticas estimulam o cooperativismo e contribuem para o fortalecimento sindical e comunitário”, pontuou.
Enfatizando a necessidade de pisar fundo no acelerador em relação à reforma agrária, Elisângela defendeu que “é imperativo o Estado brasileiro criar mecanismos eficazes de combate à violência no campo, identificar e punir os responsáveis dos crimes contra os trabalhadores que lutam pela terra e pela vida”. Entre as medidas a serem adotadas com urgência para “garantir segurança e paz no campo”, sublinhou, encontram-se a atualização dos índices de produtividade da terra - já que perpetuando os atuais não se consegue mais desapropriar, mantendo o latifúndio improdutivo intocável, assim como suas mazelas econômicas, sociais e ambientais - e assegurar maior rapidez nos processos desapropriatórios.
CENSO COMPROVA
Conforme o Censo Agropecuário de 2006 do IBGE, a agricultura familiar é responsável por 87% da produção nacional de mandioca, 70% da produção de feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz, 58% do leite , 59% do plantel de suínos, 50% das aves, 30% dos bovinos e, ainda, 21% do trigo. “
É do nosso suor que, faça chuva sol ou chuva, enfrentando de seca a inundação, se origina essa riqueza. Também somos responsáveis por 58% do leite de vaca e 67% do leite de cabra”, tem reiterado Elisângela..
O ministro Guilherme Cassel sublinhou o “protagonismo da Fetraf que com sabedoria, capacidade política e combatividade” tem pressionado e possibilitado tantos avanços no campo.
No caso específico da Bahia, estado que sediou o encontro, Cassel lembrou que existem 665.831 estabelecimentos da agricultura familiar, 87% do total de propriedades, responsáveis por 34% da área e 44% da produção. “Temos um milhão e oitocentos mil pessoas na Bahia trabalhando na agricultura familiar, auxiliando o Brasil a crescer e a se desenvolver. Como o censo agropecuário demonstrou, a agricultura familiar é moderna, produtiva e decisiva para que o país cresça de forma justa e harmoniosa”, declarou.
Saudando o papel da Fetraf/CUT, o governador Jaques Wagner disse que o Estado tem uma Superintendência da Agricultura Familiar, mas que é um desejo natural do segmento passar a ter uma Secretaria, devido ao seu imenso potencial. “Nós investimos porque não queremos uma agricultura familiar do coitadinho, mas com trator, com matrizes de qualidade, com industrialização, para fortalecer a sua produção orgânica, com recursos para os assentamentos, com regularização fundiária. Os empreendimentos estão demonstrando que isso é possível e necessário, pois enquanto o agronegócio chega pedindo bilhão, vocês pedem tostão e isso se reverte em comida mais barata para a nossa população”, acrescentou o governador, sob aplausos.
LINHA DE FRENTE
Entusiasticamente saudado pelos milhares de agricultores, o presidente Lula elogiou a coragem da Fetraf de colocar uma mulher nordestina na sua direção e sublinhou a relevância da agricultura familiar para os destinos do país. Disse que sai da Presidência com a compreensão “de que fizemos muito, mas falta muito” e “a convicção de que foram vocês os responsáveis pelo acerto”. Sorrindo ao olhar camisas estampadas com seu rosto ao lado de outras com Che Guevara e a bandeira do Brasil, agradeceu a confiança e a sensibilidade dos presentes e de todo o povo brasileiro.
De acordo com o presidente, é importante elencar os avanços dos quais “o povo foi responsável, ao eleger um igual para dirigir o país”. Em 2002, o BNB (Banco do Nordeste) emprestou R$ 262 milhões e tinha 37% de inadimplência e em 2009 emprestou R$ 22 bilhões, com apenas 3,3% de inadimplência. “O mais importante é que R$ 1,3 bilhão foi para os pequenos produtores do Nordeste brasileiro”.
MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES
Lula disse que com a concepção e compromisso de “fortalecer o pequeno” foi feito o “milagre da multiplicação dos pães” e que a queda da inadimplência ocorreu “porque o pobre paga, pois só tem o seu nome e a sua cara como patrimônio, pobre não gosta de ir pro Serasa, pro SPC”. Por isso o presidente disse que teve de conversar de perto com algumas instituições que dificultavam os empréstimos populares, colocando muitas letras e nomes diferentes, que inviabilizavam o entendimento e o atendimento, distanciando o pobre dos bancos. “Eu disse para diminuir aquele monte de letras, baixar os juros e aumentar o dinheiro”, declarou o presidente, sob um mar de aplausos. “Quando assumi, tínhamos R$ 300 bilhões de crédito disponível, hoje temos R$ 1,5 trilhão. A Caixa Econômica Federal tinha R$ 77 bilhões de crédito, agora tem R$ 281 bilhões. Apenas nos últimos seis meses a Caixa já emprestou mais do que em todo o ano passado. Nós aprendemos rápido e no Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), saltamos de R$ 2,4 bilhões no início do governo para R$ 16 bilhões este ano”.
Um dos pontos altos do discurso foi quando o presidente citou os resultados obtidos com o Programa Luz Para Todos, que já alcança 2,4 milhões de famílias. “O IBGE tinha divulgado que eram dois milhões de casas, a maioria no campo, sem energia. Já utilizamos um milhão e cem mil quilômetros de fio, quantidade que dá para enrolar mais de 27 vezes o planeta, colocamos seis milhões de postes, 860 mil transformadores e quando terminamos os dois milhões vimos que faltavam ainda mais um milhão de casas.
Já estamos com 2,4 milhões de moradias e vamos em frente tirando as famílias do século 18 para o século 21”. Lula levou muita gente às lágrimas ao lembrar quando pegou o dedo de uma mãe que encontrava-se ao lado dos filhos em volta de uma lamparina, respirando querosene, e apertou, acendendo a luz: “ela não acreditava. Lembrei quando Miguel Arraes levou a luz para a minha tia, que saiu correndo”.
A luz era intensa para os seus olhos acostumados com a escuridão, lembrou o presidente, ressaltando o progresso que acompanha a melhoria da qualidade de vida: “com a luz vem a geladeira, o liquidificador, a cerveja gelada, afinal ninguém é de ferro”. Risos na platéia. E mais, acrescentou, “vem a televisão para ver a cara do presidente e ver muita gente falando mal do presidente”. Os risos inundaram o encontro.
Ao final da abertura, pelas mãos de Elisângela Araújo e Rosane Bertotti, o presidente e o governador receberam uma cesta de produtos da agricultura familiar. A atividade encerrou ao som do hino “agricultura familiar, mãos calejadas que alimentam o povo, sonhando terra solidária, política agrária, plantando um sindicalismo novo”.


Organizado pela Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (Fetraf-CUT), o evento contou com a participação do presidente Lula; do governador da Bahia, Jaques Wagner; de ministros como Guilherme Cassel, do Desenvolvimento Agrário, e Luiz Dulci, da secretaria geral da Presidência; da secretária nacional de Comunicação da Central Única dos Trabalhadores, Rosane Bertotti; do presidente da CUT Bahia, Martiniano Costa, e de dirigentes do Incra, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, parlamentares e prefeitos.
INDUTORA DO DESENVOLVIMENTO
“Neste governo, a agricultura familiar passou a ser reconhecida como indutora do desenvolvimento social e econômico, e vetor de distribuição de renda. Foi reconhecido o importante papel no combate à pobreza e segurança alimentar e nutricional, e como promotora de justiça social. Inclui ainda a família no conceito de políticas públicas para o campo brasileiro”, frisou a coordenadora geral da Fetraf-CUT, Elisângela Araújo.
Para além dos avanços conceituais, lembrou Elisângela, é preciso destacar a política de Habitação Rural, o Programa Luz para Todos, o Programa de Construção de Cacimbas no Nordeste e o Projeto de Transposição do Rio São Francisco, em andamento. Ela destacou a importância do Programa Bolsa Família que, “com portas estruturantes em educação, qualificação profissional, desenvolvimento da atividade agrícola familiar e a significativa política de recuperação do salário mínimo, fizeram a diferença e inverteram o gráfico de concentração de riqueza no país”.
REVOLUÇÃO NO CAMPO
Conforme a dirigente da Fetraf/CUT, a nova dinâmica da agricultura familiar renovou as esperanças do povo no campo e alterou o mapa da migração social. “A ampliação do volume de recursos de crédito agrícola e a diversificação das linhas de financiamento para custeio, investimentos, preservação e manejo ambiental contribuíram em muito para isso. Porém é na instituição de Programas de Aquisição de Alimentos (PAA) e Política Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que iniciou uma verdadeira revolução no campo. Os programas carecem de aperfeiçoamentos e ampliação de volume de recursos, porém já apresentam significativos resultados. Estas políticas estimulam o cooperativismo e contribuem para o fortalecimento sindical e comunitário”, pontuou.
Enfatizando a necessidade de pisar fundo no acelerador em relação à reforma agrária, Elisângela defendeu que “é imperativo o Estado brasileiro criar mecanismos eficazes de combate à violência no campo, identificar e punir os responsáveis dos crimes contra os trabalhadores que lutam pela terra e pela vida”. Entre as medidas a serem adotadas com urgência para “garantir segurança e paz no campo”, sublinhou, encontram-se a atualização dos índices de produtividade da terra - já que perpetuando os atuais não se consegue mais desapropriar, mantendo o latifúndio improdutivo intocável, assim como suas mazelas econômicas, sociais e ambientais - e assegurar maior rapidez nos processos desapropriatórios.
CENSO COMPROVA
Conforme o Censo Agropecuário de 2006 do IBGE, a agricultura familiar é responsável por 87% da produção nacional de mandioca, 70% da produção de feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz, 58% do leite , 59% do plantel de suínos, 50% das aves, 30% dos bovinos e, ainda, 21% do trigo. “
É do nosso suor que, faça chuva sol ou chuva, enfrentando de seca a inundação, se origina essa riqueza. Também somos responsáveis por 58% do leite de vaca e 67% do leite de cabra”, tem reiterado Elisângela..
O ministro Guilherme Cassel sublinhou o “protagonismo da Fetraf que com sabedoria, capacidade política e combatividade” tem pressionado e possibilitado tantos avanços no campo.
No caso específico da Bahia, estado que sediou o encontro, Cassel lembrou que existem 665.831 estabelecimentos da agricultura familiar, 87% do total de propriedades, responsáveis por 34% da área e 44% da produção. “Temos um milhão e oitocentos mil pessoas na Bahia trabalhando na agricultura familiar, auxiliando o Brasil a crescer e a se desenvolver. Como o censo agropecuário demonstrou, a agricultura familiar é moderna, produtiva e decisiva para que o país cresça de forma justa e harmoniosa”, declarou.
Saudando o papel da Fetraf/CUT, o governador Jaques Wagner disse que o Estado tem uma Superintendência da Agricultura Familiar, mas que é um desejo natural do segmento passar a ter uma Secretaria, devido ao seu imenso potencial. “Nós investimos porque não queremos uma agricultura familiar do coitadinho, mas com trator, com matrizes de qualidade, com industrialização, para fortalecer a sua produção orgânica, com recursos para os assentamentos, com regularização fundiária. Os empreendimentos estão demonstrando que isso é possível e necessário, pois enquanto o agronegócio chega pedindo bilhão, vocês pedem tostão e isso se reverte em comida mais barata para a nossa população”, acrescentou o governador, sob aplausos.
LINHA DE FRENTE
Entusiasticamente saudado pelos milhares de agricultores, o presidente Lula elogiou a coragem da Fetraf de colocar uma mulher nordestina na sua direção e sublinhou a relevância da agricultura familiar para os destinos do país. Disse que sai da Presidência com a compreensão “de que fizemos muito, mas falta muito” e “a convicção de que foram vocês os responsáveis pelo acerto”. Sorrindo ao olhar camisas estampadas com seu rosto ao lado de outras com Che Guevara e a bandeira do Brasil, agradeceu a confiança e a sensibilidade dos presentes e de todo o povo brasileiro.
De acordo com o presidente, é importante elencar os avanços dos quais “o povo foi responsável, ao eleger um igual para dirigir o país”. Em 2002, o BNB (Banco do Nordeste) emprestou R$ 262 milhões e tinha 37% de inadimplência e em 2009 emprestou R$ 22 bilhões, com apenas 3,3% de inadimplência. “O mais importante é que R$ 1,3 bilhão foi para os pequenos produtores do Nordeste brasileiro”.
MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES
Lula disse que com a concepção e compromisso de “fortalecer o pequeno” foi feito o “milagre da multiplicação dos pães” e que a queda da inadimplência ocorreu “porque o pobre paga, pois só tem o seu nome e a sua cara como patrimônio, pobre não gosta de ir pro Serasa, pro SPC”. Por isso o presidente disse que teve de conversar de perto com algumas instituições que dificultavam os empréstimos populares, colocando muitas letras e nomes diferentes, que inviabilizavam o entendimento e o atendimento, distanciando o pobre dos bancos. “Eu disse para diminuir aquele monte de letras, baixar os juros e aumentar o dinheiro”, declarou o presidente, sob um mar de aplausos. “Quando assumi, tínhamos R$ 300 bilhões de crédito disponível, hoje temos R$ 1,5 trilhão. A Caixa Econômica Federal tinha R$ 77 bilhões de crédito, agora tem R$ 281 bilhões. Apenas nos últimos seis meses a Caixa já emprestou mais do que em todo o ano passado. Nós aprendemos rápido e no Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), saltamos de R$ 2,4 bilhões no início do governo para R$ 16 bilhões este ano”.
Um dos pontos altos do discurso foi quando o presidente citou os resultados obtidos com o Programa Luz Para Todos, que já alcança 2,4 milhões de famílias. “O IBGE tinha divulgado que eram dois milhões de casas, a maioria no campo, sem energia. Já utilizamos um milhão e cem mil quilômetros de fio, quantidade que dá para enrolar mais de 27 vezes o planeta, colocamos seis milhões de postes, 860 mil transformadores e quando terminamos os dois milhões vimos que faltavam ainda mais um milhão de casas.
Já estamos com 2,4 milhões de moradias e vamos em frente tirando as famílias do século 18 para o século 21”. Lula levou muita gente às lágrimas ao lembrar quando pegou o dedo de uma mãe que encontrava-se ao lado dos filhos em volta de uma lamparina, respirando querosene, e apertou, acendendo a luz: “ela não acreditava. Lembrei quando Miguel Arraes levou a luz para a minha tia, que saiu correndo”.
A luz era intensa para os seus olhos acostumados com a escuridão, lembrou o presidente, ressaltando o progresso que acompanha a melhoria da qualidade de vida: “com a luz vem a geladeira, o liquidificador, a cerveja gelada, afinal ninguém é de ferro”. Risos na platéia. E mais, acrescentou, “vem a televisão para ver a cara do presidente e ver muita gente falando mal do presidente”. Os risos inundaram o encontro.
Ao final da abertura, pelas mãos de Elisângela Araújo e Rosane Bertotti, o presidente e o governador receberam uma cesta de produtos da agricultura familiar. A atividade encerrou ao som do hino “agricultura familiar, mãos calejadas que alimentam o povo, sonhando terra solidária, política agrária, plantando um sindicalismo novo”.