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Agrotóxico em campo, prejuízo para o...

Em Seminário da CUT, professor Wanderlei Pignatti afirma que não há um nível seguro para o uso de agrotóxicos

Publicado: 28 Abril, 2014 - 21h15

Escrito por: William Pedreira

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O professor Wanderlei Pignati, médico sanitarista e doutor na área de toxicologia, tem dedicado seus estudos sobre os impactos do agronegócio no meio ambiente e na saúde da população.

Atualmente, o professor foca seu trabalho na questão dos agrotóxicos. Ele apresentou nesta terça-feira (28) no primeiro dia do Seminário Nacional sobre o Uso Indiscriminado de Agrotóxicos e Modelo de Produção no Campo promovido pela CUT em parceria com o centro de solidariedade da AFL-CIO, alguns fatos e dados que comprovam não haver um nível seguro para o uso de agrotóxicos.

Lideranças da CUT falam sobre os desafios para a classe trabalhadoraLideranças da CUT falam sobre os desafios para a classe trabalhadoraA abertura política contou com a participação de Jasseir Fernandes, Jacy Afonso, Eduardo Guterra e Rogério Pantoja, todos da executiva nacional da CUT, além do presidente da CUT-DF, Rodrigo Britto e da diretora do programa Solidarity Center, Jana Silverman. As lideranças deram cartão vermelho ao uso desenfreado dos agrotóxicos e enfatizaram a importância do Seminário para aprofundar a análise e o debate sobre um tema ainda pouco conhecido na sociedade.

Os impactos da cadeia produtiva do agronegócio são diversos. Aqueles de maior efeito para saúde e meio ambiente como poluições, intoxicações agudas e crônicas estão diretamente relacionados ao uso de agrotóxicos. “Verdadeiros venenos que apresentam riscos sanitário, ocupacional e ao meio ambiente”, resumiu Pignati.

Estudo da professora e doutora Larissa Mies, orientanda de Pignati, mostra que nos últimos 11 anos foram notificados 60 mil casos de intoxicação por agrotóxicos no Brasil. Isso representa cinco mil casos por ano e um episódio de intoxicação a cada 90 minutos.

Já o relatório divulgado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre a presença de resíduos de agrotóxicos em 1.655 amostras de alimentos apontou que em 36% das amostras analisadas em 2011 e 29% das amostras verificadas em 2012 apresentaram resultados considerados insatisfatórios.

Um caso emblemático - em 2006, fazendeiros dessecavam soja transgênica para a colheita com paraquat (herbicida) em pulverizações aéreas no entorno do município de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso. Uma nuvem tóxica foi levada pelo vento para a cidade e matou milhares de plantas ornamentais e medicinais, dessecou as plantas de 65 chácaras de hortaliças do entorno da cidade e desencadeou um surto de intoxicações agudas em crianças e idosos.

A partir deste fato, uma equipe do Núcleo de Estudos Ambientais e Saúde do Trabalhador da Universidade Federal do Mato Grosso, liderada pelo professor Wanderlei Pignati, iniciou uma pesquisa no local entre 2007 a 2010 para coleta de dados e amostras.

O município de 37 mil habitantes, possuía IDH (Índice de Desenvolvimento Human) de 0,818 (3º do MT), produziu em 2010 cerca de 420 mil hectares entre soja, milho e algodão e consumiu 5,1 milhões de litros de agrotóxicos, principalmente herbicidas, inseticidas e fungicidas.

“Os resultados detectaram um uso intensivo de agrotóxicos nas lavouras, fato determinante para a contaminação dos vários componentes ambientais e da população, das famílias e do leite materno”, relatou Pignati.

O professor ressaltou que apesar da publicação da instrução normativa 02/2008 do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) que proíbe a pulverização aérea a 500 metros de fontes de água potável, córregos, criação de animais e residências, há um desrespeito contínuo a norma.

Pignati apresenta seus estudos sobre o impacto dos agrotóxicos na sociedadePignati apresenta seus estudos sobre o impacto dos agrotóxicos na sociedadeEle aponta também falhas no controle social, na fiscalização pública e nos estudos sobre o impacto da utilização desenfreada destes produtos.

Banidos em outros países, alguns agrotóxicos continuam sendo empregados livremente no Brasil, país que lidera o ranking mundial de consumo de agrotóxicos e que mais emprega pesticidas em suas lavouras. Em 2010, o consumo foi de 828 milhões de litros, o equivalente a cerca de cinco litros de veneno por habitante.

Os danos a saúde vão desde aos agravos agudos (gastrointestinais e hepáticos), como também agravos crônicos psiquiátricos (depressão, distúrbios do desenvolvimento), neurológicos (surdez, doença de Parkinson), desreguladores endócrinos (diabetes, hipotireoidismo, infertilidade, aborto), teratogênicos (má formação, abortos), mutagênicos (induz defeitos no DNA dos espermatozóides e óvulos) e carcinogênicos (mama, ovário, próstata, testículo).

Pignati destacou algumas medidas urgentes a serem ratificadas como o cumprimento da legislação, proibição de pulverizações por avião e do uso de agrotóxicos já barrados na União Européia, fim dos subsídios públicos a esses venenos.

“Esta deve ser uma luta da CUT e de toda população, seja ela rural ou urbana, pois direta ou indiretamente todos são afetados. Na União Européia a proibição dos agrotóxicos ocorreu a partir de uma conscientização e mobilização dos consumidores e esse é o caminho que devemos seguir, com a divulgação sobre efeitos da utilização indiscriminada destes produtos para a saúde e meio ambiente”, afirmou Pignati, que participou do Congresso de fundação da Central Única dos Trabalhadores e integrou a primeira direção nacional da Central representando o estado do Mato Grosso..

Para o secretário Jasseir Fernandes, o problema está no modelo produtivo, na sanha do agronegócio por lucros e aumento de produção a qualquer preço, mesmo quando o custo atinge vidas humanas, arrasa comunidades, compromete a saúde das mulheres e crianças e até mesmo o leite materno. “Vamos aprofundar estes debates e continuar lutando por qualidade de vida para a classe trabalhadora”, afirmou.

- Fortalecer a agricultura familiar é garantir a soberania alimentar do País