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Aeroportuários farão ato contra desmonte do Santos Dumont, no RJ, nesta sexta (6)

Manifestação será pacífica, às 10h no aeroporto Santos Dumont. Sindicato denuncia esvaziamento do terminal e convoca sociedade a reagir ao risco de desativação do aeroporto.

Publicado: 05 Junho, 2025 - 16h56 | Última modificação: 05 Junho, 2025 - 17h41

Escrito por: André Accarini

Casa Civil/Presidência da República
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O Sindicato Nacional dos Aeroportuários está mobilizado contra o processo de esvaziamento do aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, e convoca um ato no dia 6 de junho, às 10h, no próprio terminal. A manifestação, segundo o presidente do sindicato, Marcelo Tavares, será pacífica e busca chamar a atenção da população para os impactos da possível inclusão do Santos Dumont no processo de concessão do aeroporto do Galeão.

Segundo o sindicato, o plano em curso poderá levar à desativação do terminal para voos regulares, a exemplo do que ocorreu com o aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte. “A carta expõe com clareza o que está em jogo: a retirada gradual de voos e a perda da relevância operacional do Santos Dumont, sob o falso discurso de ‘otimização’”, afirma Tavares.

A entidade publicou, em maio deste ano, uma carta aberta à sociedade carioca, na qual denuncia uma “movimentação silenciosa e perigosa para enfraquecer” o Santos Dumont e empurrar os voos para o Galeão. A carta alerta: “Se o Santos Dumont for incluído na concessão do Galeão, ele será desativado. Simples assim. O motivo? Cortar custos. Maximizar lucros. Enxugar a operação. E quem paga a conta é você: com distâncias maiores, gastos a mais, tempo perdido e um Rio menos conectado”.

A manifestação marcada para o dia 6 de junho pretende informar a população sobre o que está ocorrendo. “A nossa ideia é de um ato pacífico que não gere transtorno para os passageiros, porque senão isso seria um tiro no pé”, afirma Tavares. Segundo ele, a ação contará com falas, distribuição da carta aberta e diálogo com os usuários do terminal.

Dirigentes sindicais de outros estados também devem participar da mobilização. “Está vindo um pessoal de São Paulo, dos sindicatos. Mas eu quero envolver os trabalhadores do Santos Dumont, porque aqui é o emprego deles que está em risco”, afirma.

Ao convocar a sociedade para se mobilizar, o sindicato reforça que a ameaça não diz respeito apenas aos aeroportuários. “A sociedade também é impactada”, diz Tavares. Ele conclui: “O nosso intuito é justamente trazer a sociedade para essa discussão. Pedir o apoio de todo mundo. Que pegue o seu congressista, que pegue o seu deputado, que pegue o seu vereador. Porque essa jogada vai ser muito desastrosa se realmente for adiante”.

Por que defender o Santos Dumont?

A experiência recente com o aeroporto da Pampulha, citada na carta e nas falas do dirigente sindical, é apontada como um alerta. Em 2019, o terminal central de Belo Horizonte foi praticamente desativado após a concessão de Confins, realizada em 2013.

“Quem arrematou esse leilão foi a CCR, que também é sócia em Confins. Eles praticamente desativaram o aeroporto da Pampulha, que é o aeroporto central, para beneficiar Confins”, explica Tavares.

Ele explica ainda que o resultado foi a exclusão da população da possibilidade de acesso fácil e econômico ao transporte aéreo, além do impacto negativo sobre a mobilidade e a economia local, no entorno do aeroporto.

O sindicato afirma que o mesmo padrão está se repetindo no Rio. O Santos Dumont, localizado em área central da cidade e com vocação para voos domésticos de curta e média distância, está sendo alvo de restrições operacionais que, segundo a entidade, têm o objetivo de desviar o fluxo de passageiros para o Galeão. Tavares aponta que o movimento de passageiros no Santos Dumont foi reduzido pela metade.

“Esse aeroporto tinha projetado uma movimentação de 12 milhões de passageiros por ano. Com as restrições para beneficiar o Galeão, hoje chega no máximo à metade desse movimento”, afirma.

A carta aberta reforça que o Santos Dumont “é mais do que um terminal. É parte da rotina, da vida, da cultura do Rio”. No texto, a entidade defende a manutenção da gestão pública do terminal e critica a lógica de concessões que visa “maximizar lucros” às custas do interesse público.

A preocupação com os empregos diretos e indiretos ligados ao Santos Dumont também é um dos motivos da mobilização. Tavares relata que os trabalhadores estão apreensivos com a possibilidade de desativação. “A gente já está há dois dias aqui conversando com os concessionários, com o pessoal que trabalha aqui, com os taxistas. Está todo mundo desesperado com a queda de movimento que houve aqui”, afirma. Segundo ele, há relatos de lojistas entregando pontos comerciais no terminal por causa da redução no fluxo de passageiros.

O impacto também é sentido na economia do entorno. “A economia aqui já está afetada”, diz o dirigente, que reforça: “Se privatizar, pode ter certeza que vai ser o péssimo caminho”.

Na avaliação do sindicato, o processo de relicitação do Galeão agrava a situação. A operadora que havia arrematado o terminal em 2013 com uma proposta de R$ 19 bilhões para exploração, enfrenta problemas em seu plano de negócios e agora poderá permanecer com o aeroporto pagando apenas R$ 930 milhões, com isenção de obras previstas no contrato original e a retirada da Infraero da sociedade. “O governo está dando um presente para os operadores do Galeão”, diz Tavares.

A Infraero, estatal que historicamente atuou na gestão equilibrada dos aeroportos brasileiros, com aeroportos superavitários financiando os de menor rentabilidade, também é tema da carta e das críticas do sindicato. “A Infraero, que sempre soube equilibrar aeroportos rentáveis e sociais, será desmantelada se esse processo seguir adiante. Enquanto ela cuidava dos dois terminais, você nunca precisou escolher entre mobilidade e dignidade”, afirma o texto.

O sindicato contesta a narrativa de que o esvaziamento do Santos Dumont seria necessário para garantir a “viabilidade econômica” do Galeão. “Viabilidade pra quem? Para o povo, ou para o lucro de grupos privados?”, questiona a carta.

Para além dos efeitos sobre o transporte aéreo, o sindicato argumenta que o processo coloca em risco o direito de ir e vir da população. “O que está em jogo é o seu direito de ir e vir. É a liberdade de escolher o que funciona. É o respeito ao seu tempo. À sua cidade. À sua história. O Rio não pode aceitar menos. O Santos Dumont é da sociedade carioca”, diz o texto.