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39% dos patrões que dispensaram diaristas durante a quarentena não pagam diária

Segundo a pesquisa feita pelo Instituto Locomotiva, nas classes A e B, com rendas muito maiores, o percentual dos empregadores que dispensaram diaristas sem pagar nada foi maior ainda: 45%

Publicado: 23 Abril, 2020 - 09h00 | Última modificação: 23 Abril, 2020 - 11h11

Escrito por: Marize Muniz

Agência Brasil
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Pesquisa do Instituto Locomotiva revela que 39% dos brasileiros que contratam diaristas dispensaram o serviço das trabalhadoras, mas não mantiveram o pagamento das diárias desde que as grandes cidades decretaram quarentena para conter a disseminação do novo coronavírus (Covid-19). 

Entre os empregadores das classes A e B, com renda por pessoa da família superior a R$ 1.526 mensais, o percentual dos que dispensaram os serviços sem pagamento de diárias é maior ainda, atinge 45%.

A história de Maria Luzinete Souza, diarista de São Paulo, que está em casa há 37 dias, ilustra bem o triste resultado da pesquisa. Das cinco faxinas que ela fazia por semana, apenas uma empregadora manteve o pagamento da diária semanal. Outro empregador, onde ela fazia faxina quinzenalmente, também manteve o pagamento a cada 15 dias, claro. O marido dela, que é garçom, foi dispensado do trabalho sem salário. O filho que é estagiário também está em casa sem renda.

Desesperada, como ela mesma definiu a situação da família, Luzinete se inscreveu para receber o auxílio emergencial de R$ 600 no dia 7 de abril, mas até agora não recebeu nada, nem sequer um comunicado de que seu cadastro foi analisado.

A pesquisa do Instituto Locomotiva mostra também que 23% dos empregadores de diaristas e 39% dos patrões de mensalistas afirmaram que suas funcionárias continuam trabalhando normalmente, mesmo durante o isolamento social, única maneira de impedir a proliferação da doença que não tem vacina, não tem remédio.

Sem garantias em tempos de crise

O Brasil tem cerca de 6,5 milhões de trabalhadoras domésticas. Atualmente, 11% das famílias brasileiras contam com o serviço de ao menos uma trabalhadora doméstica.

E de acordo com o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, muitas dessas trabalhadoras estão sem poder atender às recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) de ficar em casa para reduzir a circulação do vírus.

Pior que isso, elas podem ser a ponte de transmissão do coronavírus entre os bairros de classe média, onde o vírus começou a ser detectado entre pessoas que haviam viajado para a Europa e para os Estados Unidos no início do ano, e a periferia.

Em São Paulo, a maioria das mortes já estão sendo registradas na periferia e os distritos que lideram em numero de óbitos são Brasilândia, na zona norte,  Sapopemba, na zona sudeste, São Mateus e Cidade Tiradentes, ambos na zona leste, todos fornecedores de mão de obra barata e, como indicam os números da pesquisa, descartáveis.

“Do ponto de vista trabalhista, elas são a representação da fragilidade do trabalho eventual, sem garantias em períodos de crise”, diz Meirelles.

De acordo com o estudo, outros 39% dos patrões de diaristas e 48% de mensalistas declararam que suas funcionárias estão recebendo o pagamento normalmente, mas sem trabalhar, para cumprir o distanciamento social requerido contra a doença.

Preocupadas com a situação das trabalhadoras, dirigentes da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), estão publicando em seu site alertas e orientações para a categoria se prevenir contra o coronavírus (Covid-19) e também lançou um abaixo-assinado para conscientizar os empregadores e a sociedade sobre a responsabilidades de todos no enfrentamento à pandemia. No texto, que já tem mais de 1.800 assinaturas, a Fenatrad exige ‘justiça e proteção para nossa categoria!’.

Elas pedem também que os empregadores liberem suas trabalhadoras domésticas, com salário, e quando for possível, antecipem suas férias e 13° salário .

Metodologia

O Instituto Locomotiva entrevistou 1.131 pessoas por telefone, entre os dias 14 e 15 de abril, em cidades de todos os estados do país. A pesquisa ouviu homens e mulheres com 16 anos ou mais, e tem margem de erro de 2,9 pontos.