100 mil pessoas lotam as ruas de Fortaleza pela democracia

A tarde desta sexta-feira (18/3) começou fervendo nas ruas do Centro de Fortaleza, quando foram ser pintadas de vermelho, verde, azul e amarelo da multidão que se ia formando na Praça Clóvis Beviláqua, mais conhecida como Praça da Bandeira. Cerca de 100 mil pessoas reuniram-se do início ao fim do percurso, encerrado no coração da Capital – Praça do Ferreira. Elas se uniram às mais de 1 milhão e 260 mil vozes que ecoavam por todo o Brasil, defendendo os direitos e a democracia. A Frente Brasil Popular (FBP) no Ceará –  formada por mais de 30 movimentos sociais e sindical, partidos de esquerda e setores progressistas da sociedade – mobilizou o ato pedindo o basta ao golpe que se mantém em curso no País. Também foram registradas manifestações em Sobral e Juazeiro do Norte.

Em uma tarde e noite históricas em Fortaleza, duas importantes praças da cidade foram se enchendo de gente já por volta das 15 horas. A caminhada partiu cerca de uma hora depois, partindo da Praça da Bandeira em direção à do Ferreira, onde outra multidão já aguardava no evento Manifesta Cultura. Na ocasião, dezenas de artistas que apoiam o movimento contra o golpe se revezaram nas apresentações. “Em nome da Frente Brasil Popular no Ceará, queremos agradecer a cada um de vocês, que seguem firmes e fortes na contramão do discurso da intolerância e do ódio. Não vai haver golpe nesse país!”, discursou o presidente da CUT-CE, Wil Pereira, durante a chegada à Praça do Ferreira e pouco após a multidão entoar o hino nacional.

Wil referiu-se à adesão espontânea da multidão e aos movimentos organizados como mulheres, juventude, comunidades eclesiais de base, via campesina e trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade. Nágyla Drumond, da União Brasileira de Mulheres (UBM), emocionou-se com o que classificou uma das maiores passeatas, em Fortaleza, dos movimentos progressistas e em defesa da democracia. “Vivemos num país livre e soberano. O Brasil é do povo brasileiro!”, discursou ao microfone, sobre aplausos.  

“O clima aqui hoje foi de muita euforia, alegria e de certeza de que o povo não está do lado do golpista, mas sim da democracia, tão suada para ser conquistada”, disse o estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC), Mateus Figueiredo. Ele salientou o clima pacífico do ato – não foi registrada qualquer ocorrência envolvendo vandalismo ou violência – e a predominância do discurso de paz. “É um clima do amor. Não existe ódio entre a gente. E essa é a mensagem que estamos passando para as pessoas: a de renovação da esperança. Viemos aqui, mães, pais, crianças, dizer que não há mais espaço para a ditadura dos brancos e dos ricos. E que queremos um Brasil de governo popular”.

O médico Arruda Bastos afirmou que não ter se surpreendido com a grande movimentação no Ceará e demais estados.  “Nosso povo não aceita mais retrocessos. Não aceita voltar à ditadura militar nem se submeter a uma ditadura do Judiciário e de alguns partidos políticos que querem retroceder as últimas conquistas sociais. Vivemos um momento crítico, mas não vamos baixar a guarda. Não existe fato concreto que justifique o impeachment da presidenta Dilma Roussef”, afirmou.

Juristas pela legalidade e pela democracia

Para Ingrid Viana, do Coletivo Advogados e Advogadas Cearenses pela Democracia, a condução dos processos na atual conjuntura do País vem se apresentando como uma afronta à constituição. “Esse evento foi lindo e extramente produtivo. Espero que a gente possa sair outras veze. Não vamos aceitar o golpe”, disse. O coletivo do qual a advogada faz parte lançou, no mesmo dia, a nota “Juristas pela Legalidade e pela Democracia – Ceará”. No documento, o grupo manifesta-se sobre os fatos acontecidos no cenário político e jurídico do País no dia anterior (17/3).

Eles consideram os fatos “uma afronta às instituições democráticas do País” e repudiam “qualquer tentativa de aliança institucional com o Golpe à democracia que está em curso o Brasil”. O coletivo reúne-se virtualmente por meio da rede social Facebook. Em ato na faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), juristas condenam espetacularização do processo

500 mil em São Paulo e discurso de Lula

Na noite dessa sexta-feira (18/3), 500 mil pessoas foram à Avenida Paulista, em São Paulo, para pedir por mais democracia no Brasil. O ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, foi ao evento e encerrou um discurso emocionado gritando para a multidão: “Não vai ter golpe.” Durante toda a tarde e a noite, a Avenida Paulista não lembrava em nada o ambiente dos últimos dias, quando desfilaram por lá discurso de ódio e intolerância. A esperança e a alegria, carregada nos rostos que representam a diversidade brasileira, fizeram até mesmo Lula se comover.

“Ao completar 70 anos de idade, passando tudo que nós passamos juntos, sendo presidente do meu País, eleger a primeira mulher presidenta do Brasil, eu pensei que nada mais pudesse me emocionar”, afirmou. Lula justificou sua ida para Brasília, como ministro: “Ao aceitar ir para o governo, eu virei outra vez o ‘Lulinha Paz e Amor’. Eu não vou lá para brigar, eu vou lá para ajudar a Dilma a fazer as coisas que a gente precisa fazer para esse país”, explicou o petista.

CNBB rechaça Golpe

O bispo Dom Ailton Menegussi, da Diocese de Crateús (CE), rechaçou duramente a tentativa de golpe contra o governo da presidenta Dilma Rousseff. Ele disse que a Confederação Nacional dos Bispos Brasileiros (CNBB) não aceita que partidos políticos se aproveitem a crise para dar golpe no País. “Não vamos apoiar a troca de governo, de pessoas interesseiras. Tem muita gente posando de santinho, mas nunca pensou em pobre. Fazem discurso bonito porque querem poder, e a CNBB não concorda”, disse ele esta semana para religiosos em Tauá, no sertão cearense. Na avaliação do bispo, a Justiça está tratando suspeitos como criminosos antes de provar as coisas.

(*) Com informações de CUT Nacional, Brasil 247 e Barão de Itararé-CE

(**) Confira AQUI os números de pessoas que participaram das manifestações nos estados

(***) Confira GALERIA DE FOTOS do Dia de Mobilização em Fortaleza na Fanpage da CUT-CE