Se somos boas de limpeza, porque não limpar a política?
Publicado: 24 Março, 2017 - 00h00 | Última modificação: 24 Março, 2017 - 16h07
Realmente vivemos tempos sombrios, não são apenas dois passos atrás como escreveu Lênin, são séculos, se considerarmos todos os retrocessos que vimos presenciando em menos de um ano após o Golpe.
Eleger pela primeira vez uma mulher como Presidenta da República desse país nos trouxe a perspectiva de que estávamos no caminho da igualdade, ou seja, a sociedade havia amadurecido e começava a entender a importância do papel das mulheres na construção social em todas as suas dimensões.
Em pouco tempo começou-se a perceber o quanto seria difícil à tarefa. Não por falta de capacidade da Presidenta Dilma Rousseff, mas pela formação da sociedade, que se mostra conservadora, em especial naquilo que se refere à participação das mulheres na política.
Neste contexto, poucas mulheres são eleitas ao parlamento, que continua majoritariamente constituído por homens brancos representando o que há de pior na composição social do país. O fato de as mulheres começarem a entender que poderiam ser o que quisessem, trás a tona o desconforto daqueles que passam a ver seu poder ameaçado.
Muito do que estava “escondido no armário”, por ser politicamente incorreto, resurge nas falas, pensamentos e ações de misoginia, machismo, sexismo, homofobia e racismo passam a dar o tom com a complacência de parte da sociedade e da mídia tradicional.
As mensagens diretas são retomadas: “elas são belas, recatadas e do lar”, “elas servem para fiscalizar os preços no supermercado” “mães que trabalham são responsáveis pela obesidade dos filhos e das filhas”, entre outras com o objetivo de moldar as mulheres como uma figura submissa e padronizada.
Tais práticas, tem se potencializado ao longo deste processo, possibilitando que homens medíocres de plantão, que exercem cargos públicos se sintam a vontade para falar e praticar ações contra as mulheres. Exemplo disso têm sido os debates em torno de projetos que retiram direitos da classe trabalhadora, em especial as mulheres, caso das reformas da previdência e trabalhista, só para citar alguns.
Sobre a proposta do Governo para a previdência, que equipara a idade entre homens e mulheres, alguns parlamentares têm afirmado barbaridades em suas falas, uma delas é que “as mulheres querem ter dupla jornada para se aposentar mais cedo”, numa tentativa de invizibilizar o trabalho reprodutivo e do cuidado, nos quais o Estado também está ausente.
No debate sobre o Projeto de Lei de terceirização, aprovado pela Câmara neste último dia 22 de março, o relator do projeto, Laércio Oliveira (SD-SE), apoiador do Temer, para justificar a sua posição a favor da aprovação, afirmou que “mulher é quem faz limpeza direito” e que “ a mulher do terceirizado vai ser legal, vai trazer um cafezinho ou vai ficar reclamando, mandando trocar a roupa do menino”. Ou seja, volta a toda carga a tentativa de desqualificação das mulheres na política e no mercado de trabalho, cabendo a ela as “qualidades” apontadas acima e aceitas por eles.
A luta pela igualdade na vida, no trabalho e na sociedade, muito embora tenha estado presente na agenda política, neste momento é urgente a sua afirmação e as ações nesta direção precisam ser reforçadas. Atitudes como as do ilegítimo Temer e de grande parte dos parlamentares precisam ser refutadas. Mulher deve estar onde ela quiser e não onde querem que estejamos. Ao tal parlamentar que cita o papel das mulheres na limpeza eu diria, a limpeza será completa quando nós mulheres retirarmos gente como você da política.
#NemRecatadaENemDoLarAMulheredaEstáNaRuaPraLutar
#NenhumDireitoAMenos
#MaisMulheresNaPolítica