Privatização dos Correios: Uma logística reversa e oposta aos interesses do Brasil
Publicado: 10 Março, 2021 - 00h00 | Última modificação: 10 Março, 2021 - 13h39
Bolsonaro foi pessoalmente ao Congresso Nacional entregar o projeto de privatização da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Tratou-se de uma movimentação equivalente a uma logística reversa, fora de moda e prejudicial ao país e ao povo brasileiro. Feita para beneficiar concorrentes internacionais e nacionais dos Correios, que dele tem se valido para fazer as entregas nas periferias e áreas de risco.
Fora de moda porque só em oito, dos quase 200 países do mundo, o serviço postal é privado. Nos demais, predomina o caráter público. E onde foi privatizado a população clama pela reestatização, como em Portugal, onde os preços subiram e o serviço piorou.
Logística reversa porque o Brasil precisa dos Correios para retomar as atividades e o crescimento econômico, da mesma forma que precisa de suas empresas públicas e estatais, para exercer suas atribuições por meio de operações cruzadas, lucrando nos grandes centros para fazer seus serviços chegarem a regiões distantes, cidades pequenas e favelas a preços muitas vezes abaixo do custo.
Os Correios desempenham e podem ampliar ainda mais papel estratégico com centros de distribuição nos entrocamentos dos distintos modais de transporte, pela terra, água e ar, melhorando substancialmente a movimentação de mercadorias, por meio de uma logística integrada. Papel tão relevante como o da produção de petróleo, gás e seus derivados feitos pela Petrobras, que Bolsonaro insiste em fatiar e entregar aos pedaços aos tubarões e a cardumes de piranhas, que aguardam anciosos para abocanhar o patrimônio alheio. Comparável à importância da Eletrobras e de todo o sistema de produção e distribuição de energia, sem o que não teria havido luz para todos. Essencial como os bancos públicos, agentes financeiros que levam os programas sociais às classes populares, usam sua capilaridade e destreza técnica para ajudar na avaliação e pagamento das obras com recursos federais em todos os cantos do país.
Poucos são os países que contam com um serviço postal abrangente como o brasileiro, capaz de chegar, levar e buscar em locais com pequena população e baixa demanda, mas também nas áreas consideradas perigosas. Trata-se de uma infraestrutura relevante que poderia estar sendo utilizada para superar importantes gargalos logísticos do comercio nacional e internacional, nestes tempos de vendas e compras virtuais. Empresa que, por vocação, deveria se constituir em órgão impulsionador dos negócios e articulador dos sistemas de distribuição por meio de uma logística voltada para integrar os modais de transporte.
Nossa esperança é que a mentalidade reversa não predomine na Câmara e no Senado Federal. Que prevaleçam os interesses do povo e do Brasil. Ao invés de entregar uma empresa estratégica, como os Correios do Brasil, aos rentistas dos fundos de investimento, em cuja cabeça logística e distribuição são sinônimos de lucro fácil, que encarecem o preço das mercadorias para o consumidor.
Pensam e atuam ávidos por extrair ganhos extraordinários no curto prazo, sem se importar com o desenvolvimento do país e de seu povo. Milhares de carteiros saem às ruas todos os dias. Conhecem as cidades, e muitas vezes seus moradores, como ninguém. Caminham pela Avenida Paulista, mas também pela favela da Rocinha, pelos alagados do Pantanal e navegam pelos rios da Amazônia, onde chegam a percorrer quilômetros para fazer suas entregas.
Os processos de privatização são semelhantes a logística reversa porque caminham na contramão da história, visam interesses opostos aos do Brasil. Anunciam benefícios que ninguém vê e jamais verá. Propaganda enganosa pura para enrolar o povo e facilitar a aprovação das intragáveis medidas legislativas no Congresso Nacional. É triste, mas não custa lembrar. Privatizaram a Vale do Rio Doce e os desastres se sucederam, ceifando a vida de trabalhadores e moradores, causando desastre ambiental avassalador, tudo decorrência da ganância dos compradores e acionistas da Vale do Rio Doce. Quem não se lembra do recente apagão no Amapá, consequência direta da privatização no setor elétrico naquela região. Os inacreditáveis preços da gasolina, óleo Dieesel e gás de cozinha, decorrentes do desmonte e da desativação do refino promovidos pela gestão Bolsonaro na Petrobras, que abandona o papel social e estratégico da empresa para viabilizar altos lucros aos acionistas e entregar nossas riquezas para empresas americanas.
Em face do crescimento do comércio on line os Correios têm auferido lucros extraordinários, suficientes para cobrir suas despesas e ainda repassar dividendos para seu acionista, no caso o governo brasileiro. Por ser a empresa que tem a maior estrutura de distribuição no país tornou-se a menina dos olhos de banqueiros e especuladores, visando embolsar os lucros gerados por um serviço que é público desde 25 de janeiro de 1663. Por isto, conclamamos a todos e todas que cobrem seus parlamentares para que não entreguem, inteira ou aos pedaços, um patrimônio construído pelo Estado Brasileiro em mais de mais de três séculos, para meia duzia de tubarões e cardumes de piranhas, ávidos por lucros no curto prazo, sem qualquer compromisso com o desenvolvimento e as necessidades do povo brasileiro.
O Brasil precisa de uma infraestrutura instalada que possa ser utilizada e estar sob seu comando para implementar um projeto estratégico de desenvolvimento, autônomo e soberano. Privatizar os Correios é uma logística reversa fora de moda e contrária aos interesses nacionais. Em tempos nos quais a manutenção e geração de empregos e oportunidades de trabalho são essenciais para recolocar o país no caminho do desenvolvimento e para reverter o empobrecimento de nosso povo, a privatização, de novo, propiciará o inverso, como revelam os desmontes de empresas e as privatizações já realizadas.
Pelas razões acima expostas, apelamos a V.Exas, senhoras e senhores parlamentares, para que rejeitem as medidas privatistas e se coloquem ao lado de quem sempre esteve ao lado do povo, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, o nosso Correios.