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O perigo Trump, para o mundo e para nós brasileiros

Publicado: 22 Janeiro, 2025 - 00h00 | Última modificação: 22 Janeiro, 2025 - 18h03

Para começar a entender o tamanho do perigo que representa o novo mandato de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, seja para o mundo, seja para nós brasileiros, é preciso observar o presente e perceber que o neoliberalismo falhou. 

A alternativa capitalista para favorecer o setor financeiro em detrimento do setor produtivo não traz perspectiva melhor de vida para a classe trabalhadora mundial. Somente os bancos, os fundos de investimento e especulação financeira saem ganhando nesse sistema. O neoliberalismo falhou, falha e falhará.

A ascensão de Trump ao poder, um homem que era negociador de imóveis, depois apresentador de televisão, e agora chega ao segundo mandato à frente dos Estados Unidos, é o retrato da ascensão ao poder da extrema direita mundial. Voltemos ao passado. 

Nos anos 80, o neoliberalismo disputava o espaço das ideias no mundo com ideias de esquerda. Havia a União Soviética, a guerra fria. A esquerda denunciava os malefícios que o neoliberalismo poderia trazer ao mundo. Porém, ao final da década, com as vitórias de Ronald Reagan, nos Estados Unidos, e de Margareth Tatcher, no Reino Unido, e o fim da União Soviética, o sistema neoliberal tem sua vitória definitiva na briga das ideologias. O resquício de políticas de bem estar social que existiam, na Europa e nos Estados Unidos, foram sendo eliminados pelo ideal neoliberal, que exigia menos Estado e mais privatizações.

Com o neoliberalismo ganhando a batalha das ideias, a classe trabalhadora mundial viu o que havia de proteção social se extinguir em vários lugares. Além do fim da proteção do Estado, sindicatos perderam o poder na Inglaterra, por exemplo. O paradoxal dessa história é que a América Latina vivia um momento diferente do que ocorria no mundo no mesmo período. Os países do continente estavam saindo de ditaduras sanguinárias e construíram modos mais democráticos de poder. O Brasil elaborava a sua primeira Constituição cidadã, em 1988, que tinha ideais a partir da defesa do bem estar social da população. Movimentos sociais, democráticos, sindicatos, partidos, estavam construindo algo que não seguia a tendência dos países do norte global.

Não demorou muito para a aventura democrática dos países da periferia do capitalismo, como o Brasil, terminar. O neoliberalismo ganhou força política por aqui e passou a disputar espaço com outras forças democráticas do campo de esquerda. 

Aos poucos, o ideal neoliberal toma conta do ambiente das ideias e a esquerda deixa de apresentar alternativas de um mundo melhor. O que era anteriormente o sonho de transformação social ou mudança do capitalismo, torna-se a tarefa de conduzir melhor o neoliberalismo. Não existe mais ruptura, e sim a defesa da continuidade.

Isso ocorre pois do outro lado surge uma extrema direita poderosa, defendendo um modelo de neoliberalismo mais radical, ultraliberal na economia e ultraconservador nos costumes. É dentro desse contexto que movimentos como o MAGA (Make America Great Again), na tradução literal ‘Torne a América Grande Novamente’, aparecem. Esse tipo de ideia sustenta até hoje a plataforma política de Trump e de seus apoiadores. 

As ideias de Trump estão espalhadas pelo mundo. Aqui do lado, Javier Milei impõe um governo com agenda ultra liberal e de destruição de direitos da classe trabalhadora. Na Europa, partidos de extrema direita se mostram competitivos nas disputas eleitorais e também apresentam uma plataforma radical. 

Um dos principais alvos da nova extrema direita mundial é o ataque aos direitos sociais. Atacar minorias, imigrantes, o movimento LGBTQIA+, a luta feminista, o empoderamento do povo negro. As chamadas pautas de costumes são apenas a desculpa que utilizam para acabar com aposentadorias, programas sociais, direitos trabalhistas, diminuir cada vez mais o poder de compra dos salários, fazer com que a população não tenha mais saúde, escolas públicas, que as universidades tenham acesso somente para quem tem dinheiro, que haja aumento na jornada de trabalho e precarização dos serviços de atendimento a população, e para disseminar esses ideais, usar principalmente as redes sociais, contando com apoio dos bilionários que administram esses espaços, como Mark Zuckerberg, Elon Musk, entre outros. É só lembrarmos dos governos neoliberais e ultraliberais que governaram depois do golpe em Dilma: acabou-se com a estrutura da aposentadoria aumentando o tempo de contribuição, fez-se uma reforma trabalhista que acabou com a proteção do salário e permitiu-se que trabalhadores ganhassem menos de um salário mínimo nacional, o que antes de Temer e Bolsonaro era inconstitucional.

O novo presidente norte-americano representa também o capitalismo que não se beneficiou com os processos de globalização. Grandes empresas dos Estados Unidos que não conseguem competir com novas forças globais, como a China. Os chineses não seguem a receita neoliberal, e utilizam o planejamento estatal para se desenvolverem socialmente e tecnologicamente.

Olhando a América Latina, Trump e seu governo querem fazer valer a velha Doutrina Monroe, criada há 202 anos nos Estados Unidos para justificar o domínio estadunidense sobre os países do continente americano, considerados “quintal” deles. O Brasil, dentro desta visão, serviria apenas para fornecer matérias primas às indústrias americanas e teria que abandonar sua soberania. Vale lembrar que, mesmo sem Trump, com Obama e Biden no poder, os estadunidenses espionaram a presidenta Dilma, e quase tomaram a Petrobras para empresas de lá.

Hoje o Brasil vem se tornando um ator relevante na dinâmica geopolítica mundial por conta da transição para o uso de fontes de energias renováveis, algo que o novo governo Trump não demonstra interesse.

Por fim, a ameaça mais direta a nós é o possível empoderamento da extrema direita nacional. Bolsonaro e seus asseclas, de triste lembrança, apostam as fichas na influência de Trump no continente para voltarem ao poder e continuar seu projeto de destruição do Brasil. É preciso estar atento para que a nossa democracia não volte a um passado amargo.

Maicon Michel Vasconcelos da Silva

Secretário de Relações Internacionais da CNM/CUT