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Artigo

O banco anti-mendigo de Kassab e a política higienista do PFL

Publicado: 28 Fevereiro, 2007 - 00h00

O PFL foi o Partido que ajudou a sustentar a ditadura militar. Já se chamou ARENA, PDS e agora, que o seu nome é identificado com tudo que significa atraso no nosso País, resolve mudar novamente de nome e irá se chamar Partido Democrata, numa homenagem aos seus verdadeiros patrões e ídolos: os Estados Unidos da América.

Mudar a denominação, maquiar-se, "renovar-se", colocando nos postos de direção os filhos e netos dos coronéis do nordeste, demagogos descarados do sudeste e fascistóides racistas do sul não fará com que este Partido mude a sua essência.

Na cidade de São Paulo, comandada pelo até, então anônimo, vice de José Serra, Gilberto Kassab, a política da agremiação se manifesta de maneira muito clara: abandono de todo e qualquer projeto social, sucateamento da educação, privatização, repressão ao funcionalismo, perseguição aos trabalhadores da economia informal. A isso se soma o autoritarismo exacerbado, exemplificado pela agressão e humilhação a um cidadão que protestava contra uma lei que o impedia de trabalhar.

Quando se fala que o PFL é legítimo herdeiro das oligarquias que, desde a invasão européia do continente, detém o poder no País não é apenas figura de retórica. A sua prática política demonstra coerência com o comportamento das elites escravistas, que amealharam fortunas explorando o suor negro nos canaviais, nas minas e nos cafezais. As mesmas elites que ao final do regime escravista, atiraram os ex-escravos e seus descendentes na marginalidade, negando-lhes o acesso à terra e ao trabalho.

Um pouquinho de História

Na capital paulista, ao final do século XIX, no centro velho, na época dividido entre Paróquia da Sé e Paróquia de Santa Ifigênia, viviam diversas famílias de negros alforriados e libertos, que sobreviviam de suas "quitandas", lavando roupas na Várzea do Carmo, praticando agricultura de subsistência, trabalhando na construção civil e nas obras públicas, transportando toda sorte de mercadorias.

Ao final do século XIX, quando as fortunas produzidas pelo braço escravo nas fazendas de café, proporcionou o enriquecimento da cidade, imediatamente os poderosos iniciaram sua política de expulsão de negros e pobres do centro com o argumento que suas casas não atendiam as determinações dos códigos de posturas, serviam como esconderijos de bandidos e escravos fugidos, eram anti-higiênicas e inseguras e seus encontros sociais e de lazer redundavam em atos criminosos.

Essa lógica acompanhou a maioria dos governos brasileiros ao longo da nossa história e a política higienista fez escola entre os administradores públicos do País. Rio de Janeiro e São Paulo, a duas maiores cidades, se destacaram em políticas de exclusão. Na capital carioca, em meados do século XIX, o poder público cometeu todo tipo de abusos, que redundou na "Revolta da Vacina". Em São Paulo, os pobres foram sendo expulsos para cada vez mais longe, primeiro para o Brás e o Bexiga, depois para Casa Verde e Brasilândia, em seguida para Penha e Jabaquara, depois para São Miguel Paulista e Santo Amaro. Na década de 70, em plena ditadura militar, são criados os bairros dormitórios, Cidade de Deus no Rio e a Cidade Tiradentes, em São Paulo, a 40 quilômetros do centro, verdadeiros guetos, com as conseqüências sociais que a própria mídia já demonstrou diversas vezes.

A história de repete

A Prefeitura de São Paulo, em 2007, age exatamente como seus antecessores do século XIX. Não combate a pobreza, combate os pobres. Não procura erradicar a miséria, criminaliza os miseráveis.

A reforma da Praça da Sé e da Praça da República, com seus bancos anti-mendigos faz parte da mesma lógica da classe dominante destes vários períodos. Ao invés de desenvolver ações para resgatar socialmente os pobres e miseráveis, promovem maquiagem, expulsam para longe aqueles que "tornam a cidade feia", tanto como fizeram com as crianças e jovens viciados em drogas que freqüentavam a "cracolândia", expulsos e já de volta ao local, perpetuando sua miséria e exclusão.

Enquanto 2008 não chega, quando o povo de São Paulo certamente fará com esse grupo político aquilo que o povo brasileiro fez em nível nacional, resta ao movimento social resistir, denunciar e lutar para derrotar sua política higienista, anti-povo, excludente e autoritária que têm se manifestado com toda a plenitude na frase lapidar do seu dirigente nacional que pretendia "acabar com essa raça" e no destempero do prefeito que aos berros de "vagabundo", expulsa um trabalhador que, de maneira pacífica, foi manifestar sua discordância.

A CUT, as entidades dos movimentos populares e todo paulistano que têm a cabeça no século XXI, e não no século XIX, certamente estarão juntos nessa luta.