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Artigo

Letramento racial: o que a linguagem tem a ver com o racismo?

Publicado: 20 Novembro, 2023 - 00h00 | Última modificação: 20 Novembro, 2023 - 15h16

Escrito por Maria Julia Reis Nogueira e Nadilene Sales (secretaria de Comabte ao Racismo da CUT), e Tino Lourenço e José de Ribamar Barroso (secretaria de Cultura da CUt Nacional)

 

O conceito de racial literacy (letramento racial) foi criado pela socióloga americana France Winddance Twine em 2003 e a primeira tradução para o português é atribuída à psicóloga Lia Vaine Schucman. 

De acordo com Lia, o letramento racial está relacionado com a necessidade de desconstruir formas de pensar e agir que foram naturalizadas. 

O letramento racial é um processo de reeducação racial que reúne um conjunto de práticas com o intuito de desconstruir formas de pensar e agir naturalizadas e normalizadas socialmente, em relação a pessoas negras e pessoas brancas. 

Pode ser definido por um conjunto de práticas pedagógicas que têm por objetivo conscientizar o indivíduo da estrutura e do funcionamento do racismo na sociedade e torná-lo apto a reconhecer, criticar e combater atitudes racistas em seu cotidiano. 

Apresentamos 4 pontos que podemos iniciar o processo de desconstrução do agir e pensar em cada um de nós: 

  • Reconhecimento da branquitude

É a ideia de que a raça branca é superior às outras, e que diante disso passa a não ser nem considerada uma raça, mas seres humanos. Os outros são racializados, os brancos são pessoas. 

  • O racismo não está no passado

Infelizmente o racismo está bastante presente e precisamos ter uma atuação consciente e consistente para combatê-lo, para assim poder construir um futuro sem racismo.

O mito da democracia racial é só um mito. O racismo está nas estruturas da sociedade e impõe aos indivíduos o seu lugar no mundo. Impõe às mulheres negras os piores lugares no mercado de trabalho e um salário que corresponde a 48% do que ganham os homens brancos*. No caso de mortes violentas, 76,9% das pessoas assassinadas em 2022 eram negras*. Em 2021, um total de 2154 pessoas negras foram mortas em ações policiais, segundo a Rede de Observatórios em Segurança Pública. Em 2022, havia 442.033 pessoas negras encarceradas, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. 

  • O racismo é aprendido

O racismo está nas pequenas e grandes atitudes. Uma pessoa não é racista somente quando ofende pessoalmente outra pessoa, mas também quando não reconhece seus privilégios e não faz nada para mudar a estrutura da sociedade.

Temos raros exemplos de pessoas negras de grande destaque na sociedade e isso faz com que crianças e jovens negros tenham poucos exemplos para se espelhar. E isso não se dá por falta de esforço ou talento, mas por falta de oportunidades. 

  • Vocabulário racial

A semântica é de extrema importância. Lançamos na CUT as pílulas antirracismo como metodologia de apoio a desconstrução do vocabulário racista que persiste em nosso cotidiano. Mas é preciso querer fazer essa mudança. É de extrema importância saber ouvir as pessoas negras e alterar a forma de falar que seja ofensiva e excluir palavras de cunho racista.

Sempre aproveitamos o mês da Consciência Negra, ou seja, o mês de novembro, para falar sobre as temáticas raciais. Mas o racismo não descansa. Os registros de racismo saltaram de 1.464 casos em 2021 para 2.458 em 2022. Os registros de injúria racial chegaram a 10.990. Precisamos mudar essa realidade. Nossa luta deve ultrapassar o mês de novembro, deve ser uma luta diária, em todos os momentos. Essa luta deve ser parte do nosso cotidiano. 

Fazemos um chamado a toda a nossa base para unir forças e mudar as estruturas. Vamos aproveitar esse novo Brasil que estamos reconstruindo para que possamos fazê-lo sem racismo. Somos fortes, somos CUT e podemos alterar essa realidade aprendendo, mudando e ajudando o país a mudar. 

Vamos juntos combater o racismo em todas as suas formas. Basta de Racismo no Trabalho e na Vida. 

 


 

*Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) aponta que, no primeiro trimestre de 2023

*Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023, na 17ª edição do levantamento