Legalização do aborto, essa luta também é nossa
Publicado: 30 Setembro, 2010 - 00h00 | Última modificação: 25 Setembro, 2014 - 12h50
O aborto é uma realidade para muitas mulheres: mães, filhas, irmãs, amigas, sobrinhas, sempre há alguém que conhecemos que necessitou interromper uma gravidez e correu riscos por isso.
Embora a lei proíba, “Uma em cada sete brasileiras entre 18 e 39 anos já realizou ao menos um aborto na vida, o equivalente a uma multidão de 5 milhões de mulheres”. É o que revela a Pesquisa Nacional de Aborto feita pela Universidade de Brasília (UnB), com o apoio da Agência Ibope Inteligência e do Ministério da Saúde. De acordo com o estudo, na faixa etária entre 35 e 39 anos a proporção é ainda maior: uma em cada cinco mulheres já fez um aborto. "A pesquisa mostra a magnitude do aborto no Brasil.”
Por não terem dinheiro muitas mulheres recorrem à prática clandestina, a ingestão de Cytotec, de chás caseiros ou introduzem instrumentos pontiagudos em seus ventres objetivando causar sangramentos. A criminalização não impede que ele seja realizado nem reduz sua incidência, mas aumenta as condições de risco de vida para as mulheres, em especial para as mulheres mais pobres.
E quem são as mulheres que abortam?
A maioria delas é pobre, jovem, casada ou têm relação estável e católica.
Temos convicção que nenhuma delas busca o aborto como método contraceptivo de emergência. É a última alternativa a qual recorrem quando, num determinado momento de suas vidas, não querem ou não podem ser mães, e se vêem numa situação de gravidez indesejada. A maternidade não pode ser imposição, castigo ou obrigação; deve ser uma decisão da mulher.
CUT participa de ato pela legalização do aborto
O dia 28 de setembro é o Dia Latinoamericano e Caribenho de Luta pela Legalização do Aborto.
Para marcar essa data a Frente Nacional Contra a Criminalização das Mulheres e pela legalização do Aborto, da qual a CUT participa desde o início, lançou a Plataforma para a legalização do aborto.
A Plataforma propõe a legalização do aborto, a retirada do Código Penal e a garantia do atendimento, pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Defende que o Estado deve garantir o direito ao aborto para todas as mulheres sem discriminação de raça ou classe.
A Frente, que foi criada nacionalmente em 2008 e agora está se estruturando nos estados, reúne pessoas, organizações, movimentos sociais e parlamentares comprometidos com a defesa das mulheres criminalizadas pela prática do aborto e a luta pela defesa do direito ao aborto legal e seguro
A CUT, desde 1991, em seu IV Congresso Nacional, tem posição favorável à descriminalização e legalização do aborto por entender que ele afeta diretamente a vida de milhares de trabalhadoras. Além de ser uma questão de saúde pública, a legalização do aborto é também uma questão de classe, pois são as mulheres da classe trabalhadora as punidas e criminalizadas ao precisarem recorrer a um aborto na clandestinidade.
O aborto é um direito das mulheres!
Nenhuma mulher é obrigada a fazer um aborto. Cada uma segue seus valores e religião. Mas aquelas que tiverem uma gravidez não planejada devem ser respeitadas na sua decisão de interrompê-la. O Estado deve garantir isso, sem que elas corram o risco de morrer ou irem para a cadeia. Nenhuma mulher deve ser perseguida, humilhada, condenada ou presa pela prática do aborto! Criminalizar a prática do aborto é uma forma de controlar a vida, o corpo e a sexualidade das mulheres.
Seguimos na luta pelo direito ao aborto como parte indissociável da luta das mulheres por uma vida com autonomia e igualdade em direitos e oportunidades. Sabemos que essa não é uma luta só das mulheres, mas da classe trabalhadora como um todo. Seremos vitoriosas na medida em que construirmos uma efetiva aliança com os diversos movimentos sociais que nos possibilite avançar na conscientização e romper com valores conservadores. Para isso, precisamos de um movimento amplo, capaz de mobilizar e alterar a correlação de forças de nossa sociedade.