Escravidão Moderna: A Subjugação Persistente da População Negra
Publicado: 29 Maio, 2025 - 00h00 | Última modificação: 29 Maio, 2025 - 12h39
A escravidão, muitas vezes considerada um capítulo encerrado da história, ainda persiste sob novas formas em pleno século XXI. Longe das correntes visíveis e dos mercados de escravizados do passado, a escravidão moderna se manifesta por meio de condições degradantes de trabalho, exploração econômica e marginalização racial.
Estive em maio de 2025 na República Dominicana, participando de um Congresso de Trabalhadores das Américas. O hotel em que ficamos hospedados era luxuoso, e chamou-me a atenção, a quantidade de Trabalhadores negros servindo e atendendo uma maioria de hóspedes brancos. Este exemplo foi marcante , e o cenário reproduz, com alarmante clareza, a hierarquia racial e social herdada da escravidão colonial.
Apesar da abolição formal em quase todos os países do mundo, o legado da escravidão ainda define relações de poder e oportunidades. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), mais de 50 milhões de pessoas vivem em condições análogas à escravidão atualmente — muitas delas negras ou pertencentes a grupos étnicos historicamente marginalizados. Essa nova escravidão se expressa por meio do trabalho forçado, da servidão por dívida, do tráfico humano e de salários indignos.
Nos países latino-americanos e caribenhos, como a República Dominicana, o racismo estrutural se entrelaça com desigualdades econômicas. Pessoas negras continuam ocupando, majoritariamente, os postos de trabalho mais precários e com menor remuneração. Enquanto isso, os espaços de poder e prestígio social são majoritariamente brancos. A estética dos resorts de luxo, com sua clientela branca sendo servida por trabalhadores negros, é mais do que um reflexo das desigualdades: é a encenação cotidiana de uma estrutura histórica de dominação.
Essa realidade não é exclusividade de um país. No Brasil, nos Estados Unidos e em diversas nações africanas, a maioria negra frequentemente vive em condições subalternas, sendo sistematicamente privada de acesso à educação de qualidade, saúde, segurança e participação política. A herança da escravidão continua viva não apenas nas estatísticas, mas no cotidiano das relações sociais, nas representações da mídia e na distribuição da riqueza.
A escravidão moderna é, portanto, mais sutil, mas não menos cruel. Combater essa realidade exige reconhecer que o racismo estrutural ainda organiza o mundo do trabalho e os espaços sociais. É necessário promover políticas públicas de reparação histórica, ações afirmativas, fiscalização trabalhista e educação antirracista em todas as esferas.
Enquanto houver um sistema em que pessoas negras sejam vistas como mão de obra barata a serviço de uma elite branca, estaremos longe de uma sociedade verdadeiramente justa e igualitária. A luta contra a escravidão moderna é, acima de tudo, uma luta por dignidade, memória e humanidade.