MENU

Artigo

Enfrentando a violência contra a mulher

Publicado: 25 Julho, 2023 - 00h00

A violência contra mulher está inscrita nas origens históricas da civilização humana. E no capitalismo o patriarcado é estruturante da sociedade de classes. 

A sociedade patriarcal obrigou a nós, mulheres, por todos os meios e as mais variadas formas de violência - moral, intelectual, patrimonial, psicológica e política -, além da violência física, ao confinamento do ambiente doméstico, da procriação e cuidados, negando os direitos e liberdades que o próprio capitalismo defendia aos “homens livres”.

O trabalho doméstico e de cuidados é fundamental para a reprodução e manutenção da força de trabalho. E, embora a nossa luta através dos séculos tenha garantido muitas conquistas, continuamos a garantir todo esse trabalho gratuito para o capitalismo.

Os homens foram educados para nos verem como objeto e propriedade e está aí um dos motivos, para que a violência se perpetue.

No Brasil, a formação do Estado se deu de forma muito violenta. Não podemos esquecer que nossa “diversidade étnica” se deu através do estupro de mulheres indígenas e de pretas escravizadas.

A violência é maior quanto menor é a emancipação feminina. A violência contra nós, mulheres, também se alimenta de outras opressões como o racismo que também é estruturante do capitalismo e a GLBT+fobia. O Brasil não é só um campeão de feminicídios, mas também campeão de mortes de pessoas não brancas e LGBTQIA+.

Essa violência afeta todas nós, ainda mais que sabemos que o machismo torna qualquer homem capaz de ser violento e que a maioria dos homens que nos matam são companheiros que dividimos a vida e a cama. Isso gera uma situação de nunca nos sentirmos seguras. E não conheço nenhuma mulher que já não tenha sofrido algum tipo de violência e todas nós conhecemos algum ou muitos casos de agressões graves ou mesmo de feminicídio.

A realidade se expressa nos números da violência divulgados pelo Poder Judiciário e órgãos de segurança, que apontam não só o aumento da violência doméstica e feminicídios, mas também o aumento das denúncias. Cada vez mais mulheres estão dizendo basta!

Segundo dados do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, foram expedidas 83.206 decisões a favor de vítimas da violência doméstica nos primeiros seis meses de 2023, ante 60.632 no mesmo período de 2022, um aumento de 37%.

A vitória da democracia e do projeto de reconstrução do Brasil, que muito se deve à nossa luta, pode ter a ver com esse maior encorajamento para denunciar. E mesmo vivendo em um Estado em que o governador não se mostra sensível à pauta das mulheres, nós estaremos nas ruas e em todos os espaços para dizer que a democracia não pode conviver com a violência e para encorajar, apoiar e acolher todas as mulheres.

O movimento feminista também precisa ter seu olhar para o mundo do trabalho, que frente à crise do capitalismo neoliberal também se torna cada vez mais um ambiente violento, com crescimento de denúncias de assédio moral e sexual no trabalho, onde nós, mulheres, somos os alvos preferenciais.

Cada vez mais precisamos entrelaçar as lutas e resistências, atuar em rede e o movimento sindical é uma forte ferramenta.

A CUT/RS, através da Secretaria da Mulher Trabalhadora, vem atuando na escuta, formação e defesa das nossas pautas, que precisam chegar nas negociações coletivas, mas também nos territórios onde estão as mulheres mais vulnerabilizadas, que estão exercendo trabalho não remunerado, informal, terceirizado e precarizado.

Lutamos por nossas vidas, pelo direito de viver e trabalhar sem violência e nossa luta precisa contar com políticas públicas que contribuam com a emancipação das mulheres, combate ao racismo e a todas as formas de opressão, geração de renda e equidade; políticas públicas de proteção e de cuidados, oportunidades e ocupação de espaços de poder e decisão, direito ao nosso corpo e uma educação que promova uma mudança cultural nos homens.

Embora lutemos bem e de forma consistente sozinhas, sabemos que precisamos que os homens também se conscientizem de quanto sofrimento e morte o machismo produz. E, embora, estejam num lugar de poder, também perdem muito de sua humanidade e condições de uma vida plena ao se sujeitarem a regras que educam para violência e decidam juntar-se a nós para dar um basta à violência contra as mulheres.  

Precisamos mudar o mundo para mudar a vida das mulheres.