Como os filhotes da ditadura querem se perpetuar no poder
Publicado: 07 Outubro, 2008 - 00h00 | Última modificação: 17 Novembro, 2014 - 13h52
*Artigo escrito em conjunto com: Lucilene Binslfed, presidente da Contracs
O atual modelo sindical brasileiro, tão combatido pela CUT desde sua fundação, possibilita que sindicalistas sem nenhuma representatividade e com um número reduzido de associados se perpetuem no poder através de estatutos e práticas antidemocráticas, de taxas compulsórias e outras práticas condenáveis que beiram o gangsterismo.
Um exemplo de sindicalismo deste tipo é o que vem acontecendo na eleição para renovação da diretoria do SINTHORESP, que é o Sindicato dos Empregados no Comércio Hoteleiro e Similares de São Paulo. Este sindicato é presidido pelo Sr. Francisco Calasans Lacerda desde agosto de 1972, colocado como interventor pela ditadura militar, juiz classista aposentado e que permanece à frente desta entidade utilizando de todas as formas possíveis para impedir até mesmo o registro de qualquer chapa que lhe faça oposição. Se este senhor procura impedir o registro de chapas oposicionistas, imaginem um processo eleitoral conduzido por ele, através da utilização de um estatuto que dá plenos poderes ao presidente do pleito, ou seja, o próprio presidente do sindicato. Pode existir algum procedimento mais antidemocrático do que o presidente de uma entidade, candidato à reeleição, presidir o processo eleitoral onde é parte diretamente interessada?
Vamos aos fatos: no dia 18 de setembro de 2008 foi publicado no Diário de S.Paulo um “aviso” sobre o processo eleitoral, informando que o edital estaria fixado na sede e sub-sedes e que haveria cinco dias corridos para a inscrição de chapas. No dia seguinte os integrantes da oposição, encabeçada por Manoel Gonçalves Lima estiveram na sede do sindicato, acompanhados por Vagner Freitas, Secretário Nacional de Política Sindical da CUT, Valeir Ertle e Alci Matos, dirigentes da Contracs/CUT, além da assessoria política e jurídica, onde foram recebidos pelo Sr. Miguel Ambrosio (que assina como responsável pelo processo eleitoral).
No mesmo dia o Sr. Ambrosio permaneceu mais de duas horas verificando a documentação apresentada. Ao final, protocolou o recebimento e a chapa recebeu o número 2, mas destacou falta de parte da documentação de 4 dos candidatos, de um total de 67 inscritos. A chapa de oposição formulou ainda o pedido de certidão negativa de débitos dos integrantes da chapa junto à entidade.No dia 21 de setembro, novamente o encabeçador da oposição, Manoel Gonçalves Lima e demais integrantes da chapa 2, acompanhados de dirigente e assessor da CUT, estiveram na sede do sindicato e entregaram ao Sr. Ambrosio os documentos que restavam, regularizando a situação.
Foi solicitado que no dia seguinte, a partir das 13 horas, fosse entregue a certidão negativa de débitos da chapa 2. Tudo dentro do prazo estatutário e devidamente registrado. No dia seguinte (22 de setembro), o companheiro Lima e demais integrantes da chapa 2, sempre acompanhados de dirigentes e assessores da CUT, compareceram novamente ao sindicato para receber a certidão negativa. Depois de muita enrolação, alegando inclusive problemas na impressora, o presidente do sindicato, Sr. Calasans disse que não reconhecia o registro da chapa.
Que só reconheceria a chapa 2 através de ordem judicial e intimidou (acompanhado por seguranças armados) a oposição para assinar um documento retirando a chapa 2 do processo eleitoral, tentando forçá-los inclusive a levar embora toda a documentação de registro da chapa. Nada disso intimidou a chapa 2 que se retirou informando que partiria para as ações jurídicas cabíveis, uma vez que estava configurada a total falta de democracia no processo.
Enquanto tudo isso acontecia, integrantes da oposição cutista ligavam informando estarem sendo intimidados pelos seus patrões por estarem compondo a chapa da oposição, ou seja, toda a documentação não havia sequer saído de dentro do sindicato e as empresas já sabiam que funcionários seus estavam na chapa de oposição. Uma vergonhosa atitude de delação desta pelegada, entregando ao patrão os nomes de integrantes da chapa de oposição para sofrerem retaliações antes do processo eleitoral. Vale registrar que na última eleição, ocorrida em 2003, a oposição conseguiu participar do processo mediante liminar na justiça.
Hoje o sindicato mais parece filme de gangsters, com seguranças armados (policiais à paisana) com o intuito de intimidar a oposição.Mas nada disso intimida a chapa 2, que está ingressando com as devidas ações na justiça e com ações políticas concretas, com mais um jornal da oposição denunciando as maracutaias do Sr. Calasans e mostrando aos trabalhadores e trabalhadoras do comércio hoteleiro a necessidade de acompanhar e de participar efetivamente deste processo para podermos, juntos, tirar essa pelegada da direção do sindicato e construirmos uma entidade democrática, de luta, de base, presente nos locais de trabalho e voltado efetivamente aos interesses da categoria.