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Centrais Sindicais do Paraná realizaram importante e representativo Ato Unitário Sindical

Publicado: 24 Março, 2014 - 00h00 | Última modificação: 03 Setembro, 2014 - 12h24

As centrais sindicais organizadas no Paraná capitaneadas pela Central Única dos Trabalhadores do Paraná – CUT/PR, Central de Sindicatos do Brasil – CSB/PR, União Geral dos trabalhadores – UGT/PR, CSP/Conlutas, Intersindical/PR, Força Sindical/PR,  Nova Central Sindical dos Trabalhadores NCST/PR, Central das trabalhadoras e trabalhadores do Brasil – CTB/PR juntamente com a Comissão Estadual da Verdade do Paraná – Teresa Urban, com a Comissão Estadual da Verdade da OAB/PR e o GT de Trabalhadores da Comissão Nacional da Verdade realizaram no dia 20 de março o ATO UNITÁRIO SINDICAL. Com a participação de mais 120 pessoas que saíram de suas entidades, seus trabalhos, de suas casas, deixando seus afazeres, apesar das chuvas torrenciais que caíram sobre a tarde curitibana.

O Ato teve dois eixos centrais o primeiro ponto foi a breve fala das centrais sindicais, onde falaram pela CUT/PR sua presidenta – Regina Cruz, pela Força Sindical/PR a diretora de Mulheres – Neuralice Maina, pela CSB/PR seu presidente – Juvenal Pedro Cim, pela CTB/PR o diretor – Zenir Teixeira, pela CSP-Conlutas/PR o dirigente – Rodrigo Tomazini, pela UGT/Pr o seu presidente – Paulo Rossi e pela NCST/PR o Diretor – Adilson Carlos da Silva. Também usaram a palavra no ato representante da comissão Estadual da Verdade do Paraná – Tereza Urban, o Vice-presidente da CUT/PR e membro da comissão Marcio Kieller, pela comissão Estadual da verdade da OAB/Paraná, o advogado e coordenador Daniel Godoy e pelo Grupo de trabalho dos trabalhadores, que veio ao evento representando a Doutora Rosa Cardoso, coordenadora desse grupo de trabalho e membro da Comissão Nacional da Verdade, Sebastião Neto.

Num segundo ponto tivemos a oitiva de depoimentos de quatro de ex- dirigentes sindicais no período da ditadura. Foram eles: Clair da Flora Martins, advogada e militante da Ação Popular – AP e do movimento estudantil e sindical, que foi presa e torturada no período. Do Advogado ex-dirigente Sindical do Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região também militante da Ação Popular que um dos bancários que foi preso e torturado durante o regime militar. Do ex-dirigente do Sindicato dos Petroleiros do Paraná e de Santa Catarina, José Romeu Naldony, que sofreu torturas psicológicas e morais tendo sido  injustamente demitido pela Direção da Petrobrás no período por acusação de atividades subversivas. E do Jornalista e escritor Milton Ivan Heller, que foi Diretor do jornal Comunista Tribuna do Povo, onde atuava como repórter sindical nas décadas de 50, 60 e 70. Milton Ivan é autor de diversos livros sobre o período, sendo o mais celebre deles,  Resistência Democrática, um dos principais trabalhos sobre a ditadura civil militar escrito nos anos 80. E também lançará nos próximos dias um livro sobre os 50 Anos do Golpe.

Em suma as falas fizeram fortes referências à necessidade de lembrar num tom de descomemoração os 50 anos do Golpe civil militar que o Brasil enfrentou e em qual os principais atingidos foram os trabalhadores, os dirigentes sindicais e suas entidades que foram fechadas ou sofreram intervenções rigorosas, foram desmanteladas mudando o objetivo fim dessas entidades que era a representação de suas categorias, na busca por melhores condições de vida e trabalho, melhores salários e também de dignidade e cidadania. As entidades que verdadeiramente representavam os trabalhadores tiveram suas imprensas fechadas, suas vozes caladas, suas portas fechadas, seus dirigentes presos, exilados, torturados e mortos por uma ditadura que defendia a lógica do capital contra a lógica do bem estar social, a lógica da concentração e negação da participação e do direito de organização dos trabalhadores pela lógica do autoritarismo, da delação, das represálias.

Do ponto de vista dos depoimentos a tônica foi no sentido de realçar as questões das perseguições sofridas, a clandestinidade e as humilhações que os depoentes foram submetidos. Os depoimentos que trazem uma carga muito grande de emoção e dor, pelo fato de depoentes não esquecerem os detalhes das prisões, dos processos de tortura, das dificuldades da vida clandestina, do isolamento dos parentes e amigos, pela opção revolucionária de combater a opressão, a ditadura que se abateu sobre o país.

O Golpe que se abate sobre o Brasil se instala como uma mentira instaurada no dia da própria mentira o dia 1º de abril de 1964 e completa 50 anos agora no dia 1º de abril de 2014. Como vimos nos relatos dos depoentes convocados ao Ato Unitário Sindical essa mentira veio acompanhada do terror psicológico, mental é físico imposto pelas prisões, torturas e a clandestinidade sofridas por eles. Pela retirada abrupta do direito a organização sindical, pelo atrelamento das pautas, quando essas eram possíveis, ao Ministério do Trabalho, que tirou totalmente a independência e a autonomia de gestão dos sindicatos, federações e confederações que existiam, transformando-as em meras entidades assistências e esportivas de fornecimento de corte de cabelo, de dentista, manicures, médicos e de realização de eventos esportivos como incentivadores da despolitização. Ou seja, causou enorme estrago a organização do movimento sindical da época pura e simplesmente por que muitos dos apoiadores civis e financiadores do golpe militar eram banqueiros, industriais, latifundiários, donos de empresas de comunicação (jornais, televisões e revistas) que se aproveitaram das desculpas do “perigo comunista” para implantar retrocessos em avanços históricos conquistados pelos trabalhadores como as caixas de previdências que ao serem extintas deram lugar ao FGTS.

Outra tônica visível nos depoimentos foi que o golpe civil militar nesses 50 anos da sua instalação representou a construção de um entulho autoritário e antidemocrático, que mesmo com o seu fim em 1985, com a promulgação da Constituição federal de 1988 não se desfez até os dias de hoje. Questões fundamentais como a desmilitarização da polícia militar, criação de instrumentos democráticos de participação e de decisão, de democratização dos meios de comunicação ainda não foram totalmente instituídos no regime democrático brasileiro.

O Ato Unitário Sindical, segundo as falas dos depoentes é fundamental aconteça e continue acontecendo para que se dialogue na sociedade, principalmente com a atual geração para que se conheça dos desmandos, as torturas, os exílios, as graves violações cometidas contra os direitos humanos e as  mortes cometidas em nome desse autoritarismo injustificado que se escondia na possibilidade remota “tomada do poder pelos comunistas”, o que de fato nunca foi verdade, pois o que existiu sim,  foi à desqualificação de um regime político sob a liderança política de João Goulart e dos trabalhistas que vinham atendendo a outras camadas sociais que não somente as históricas elites políticas que se beneficiaram das riquezas produzidas em nosso país. Essas elites aliadas aos donos da comunicação no Brasil, que nunca ultrapassaram o número de uma dezena de famílias, que sustentaram e que tentaram justificar politicamente o golpe civil militar instalado no Brasil a partir de 1964, com os fracos argumentos de “ameaça comunista” e tomada do poder e do estado pelos trabalhadores. Qualquer semelhança com a situação vivida por muitos países nos dias de hoje, não é mera coincidência, inclusive no Brasil.

Foi sem dúvida nenhuma um golpe de classe, da Classe dos ricos e poderosos capitalistas industriais urbanos e agrários contra a classe trabalhadora e seus filhos, sua organização social, ou seja, seus lideres sindicais e suas entidades históricas e representativas.  E as centrais sindicais tem o dever democrático de alertar cotidianamente a sociedade sobre essas mentiras que se iniciaram no 1º de abril de 1964 e se estenderam por 21 anos. E esclarecer muitas delas que ainda não foram esclarecidas e não podem ser esquecidas sob a possibilidade de voltarem reinventadas como novas e supostas “ameaças” a democracia.

Esse é o outro ponto fundamental a tentativa insistente de setores conservadores da elite brasileira que foi em parte despojada do poder político, que tem criado um clima de insegurança na sociedade, reavivando velhas bandeiras autoritárias e despolitizadas para iludir, para tumultuar e criar confusão nas pessoas, tais como a tentativa da reedição da Marcha com Deus, pela família e pela propriedade, que na verdade nada mais é que o desespero dos ricos que observam descontentes uma massa de indivíduos incluídos no sistema de consumo, o que lhes permite serem participantes da vida em sociedade, tirando alguns privilégios e disputando espaços comuns onde anteriormente somente essas elites politicas, industriais e agrárias tinham acesso e dominavam.

Essa é a maior contribuição do Ato Unitário Sindical realizado entre as centrais sindicais lutar pelo resgate da verdade, da memória do movimento organizado dos trabalhadores que foi ceifado por essas elites, na tentativa de sua reparação história e material. Os amigos da democracia precisam somar-se a essa cruzada para evitar que os donos do poder voltem a propagar o medo, o terror, a desestabilização de governos para voltarem a concentrar o poder político, como tem se tentado no Brasil e outros países da América Latina e do Mundo.

A grande vantagem da realização do Ato Unitário Sindical foi é o fato de reunir a totalidade das centrais organizadas no Paraná a exemplo do que esta acontecendo em diversas cidades e capitais importantes do Brasil com a realização desses atos político das Centrais. É a união dos trabalhadores e suas entidades na construção de eventos que denunciem essas tentativas conservadoras de desestabilização em torno de um tema tão caro para a sociedade como foi o regime político de exceção que o Brasil viveu após a instalação do regime civil militar.

Estamos todos de que participamos o Ato Unitário Sindical do Paraná, de parabéns, vamos continuar na luta para o que aconteceu há 50 anos não se esqueça, para que nunca mais aconteça! Falar sobre o tema do Golpe civil militar sobre as suas consequências para a sociedade e para os trabalhadores com nossas filhas e filhos, nossos amigos, nossos vizinhos, nossos colegas de trabalho, com os estudantes, com os filiados dos nossos sindicatos é nosso dever e também a garantia da defesa do regime democrático e da democracia para que tenhamos certeza que isso não se repetirá nunca mais.

A frase a seguir não é minha, mas repito-a exaustão: “Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça!”