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Artigo

A honra de presidir a Central Única dos Trabalhadores do Paraná nos seus 40 anos de lutas

Publicado: 21 Agosto, 2025 - 00h00

O ano de 2025 é um ano de comemorações, reflexões e apontamentos para o futuro na Central Única dos Trabalhadores do Paraná (CUT/PR), pois ela completou 40 anos de organização e lutas, e hoje composta por mais de 185 entidades, entre Federações e Sindicatos filiados.

E para mim, em especial, é uma honra muito grande por estar capitaneando um excelente time de mulheres e homens que compõem sua direção estadual e também sua direção executiva.

Assim, neste artigo, vou tentar resumir um pouco da nossa trajetória até chegar à presidência da CUT/PR.

Sou de origem do movimento sindical bancário, mas antes da militância sindical tive uma forte militância no movimento estudantil, que acredito foi onde adquiri as bases teóricas e a consciência de classe da importância de lutar para organizar as trabalhadoras e trabalhadores em seus sindicatos e federações. No movimento estudantil trilhei um caminho que me levou a compor os quadros de todas as entidades do movimento estudantil secundarista e também no movimento universitário passei por todas as instâncias de organização, onde eu destaco como parte importante desta militância ter sido Coordenador Geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), na Gestão Indignação, nos anos de 1994/95.

Desde o período do movimento estudantil, eu já tinha um pé dentro do sindicato, pois entrei no Banco do Estado do Paraná (Banestado), no ano de 1986, como guarda mirim e, a partir do dia 19 de abril de 1989, como funcionário da Banestado Informática. Em 1992, em função da transformação da instituição em banco múltiplo, todas as empresas do banco fizeram um concurso público interno, e muitos funcionários, antes não concursados, viraram bancários, inclusive eu, que fui aprovado entre os primeiros colocados.

Assim, durante algum tempo, minha militância estudantil e a militância sindical andavam juntas, não com a mesma efetividade, porque eu exercia um papel de liderança e mais destaque no movimento estudantil. Mas eu tinha a consciência e a clareza de que o meu futuro era a militância sindical, assim foi.

Minha filiação inicial era no Sindicato de Processamento de Dados do Paraná – o SINDPD/PR. Sindicato que atualmente nos orgulha por estar entre as entidades filiadas à CUT/PR. Mas, como eu disse lá, minha militância era a de um militante filiado ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB) na época, que tinha a clareza da importância de participar da vida do sindicato. E como disse, com o Banestado virando banco múltiplo, viramos bancários, e no nosso sindicato de representação política passou a ser o Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região.

Desde o primeiro dia como bancário já fiz minha sindicalização. E em 1993, entrei pela primeira vez na direção de base do Sindicato, quando o Movimento de Oposição Bancária, organizado pela CUT/PR, ganhou as eleições. Nesta eleição, quem presidia o sindicato era o companheiro Roberto Antônio Von Der Osten, o Betão. Ele também é um destacado dirigente sindical, participando com suas contribuições para o movimento sindical até hoje.

Em 2004, com o fim das atividades do Banestado, que fora privatizado no ano 2000, fui colocado pelo setor de Recursos Humanos do Itaú à disposição para ficar em casa e esperar o fim do mandato. A minha resposta foi que eu só estava ainda no banco porque era do Sindicato, e que não iria ficar em casa, mas sim me apresentar para ajudar no trabalho sindical, sendo assim liberado pelo banco.

Posteriormente, durante algumas gestões ascendi para posições de direção de executiva no Sindicato dos Bancários e Financiários de Curitiba e Região, onde fui Secretário de Movimentos Sociais, Secretário de Formação e também participei da direção da nossa Federação de Trabalhadores em Empresas de Crédito do Paraná, a FETEC/CUT.

Naquele período, estávamos organizando o 12º Congresso Estadual da CUT/PR (CECUT/PR). Dentro da corrente majoritária, as discussões políticas indicavam inicialmente uma candidatura bancária para a presidência da Central. O nome mais consensual, com apoio da Articulação Sindical e aceitação pelas demais correntes, era o de Edilson José Gabriel, dirigente do Sindicato dos Bancários de Umuarama, Assis e Região.

Por motivos alheios à sua vontade, o companheiro não pôde concorrer, o que levou os bancários da CUT/PR a retomarem as discussões. Mantiveram, porém, o compromisso de apresentar uma candidatura representativa da categoria bancária. Após amplos debates nas três regionais – envolvendo o Sindicato de Curitiba, os sindicatos do PACTU Bancário e os do Vida Bancária –, meu nome foi indicado para disputar a presidência.

Diante dessa decisão, considerando minha trajetória acadêmica e sindical, e consciente do papel estratégico da CUT/PR na organização do movimento trabalhista, aceitei a indicação com honra e a convicção de estar preparado para assumir tão importante missão.

O processo de construção política em nossa corrente sindical seguiu seu curso normal até a Plenária final, quando foi confirmada a indicação de Regina Cruz - então dirigente da CUT/PR e militante do Sindicato dos Vigilantes de Curitiba (ainda filiado à Central na época). Como dirigente organizado e alinhado com minha corrente política, respeitei a decisão coletiva. Na composição da direção, escolhi então assumir a vice-presidência da CUT/PR para o período 2012-2015.

Como vice-presidente, mantive intensa atividade: representando os sindicatos, aprofundando minha formação sindical e participando ativamente de uma gestão marcante. Nesse período, enfrentamos os ataques aos direitos trabalhistas, resistimos à ofensiva contra o governo Dilma e combatemos um Congresso extremamente conservador. Apesar da feroz oposição das elites - que investiram massivamente na campanha do PSDB e de Aécio Neves - conquistamos a reeleição de Dilma Rousseff no segundo turno, mostrando a força da mobilização popular.

A derrota que o campo político da direita não digeriu levou à arquitetura de um golpe institucional contra a Presidenta Dilma, mulher honrada, cujo crime era enfrentar os interesses dos poderosos. A disposição da Presidenta atuar em diversas frentes confirma isso, como ao formar a Comissão Nacional da Verdade e enfrentar os bancos (balizando pelos bancos públicos o controle do preço do crédito), medida que forçou os bancos privados a baixarem os juros, e oferecerem crédito mais baixo à sociedade. Prova de que Dilma Roussef não cometeu nenhum crime foi que ela não teve seus direitos políticos cassados. Ou seja: foi cassada porque não tinha apoio político, e isso foi reconhecido posteriormente pelo próprio senado federal.

Na toada da Reeleição de da Presidenta Dilma, abre-se novamente o processo de construção do 13º CECUT/PR, onde novamente nos apresentamos para o debate dentro da nossa corrente da Articulação Sindical, buscando fazer um processo de análise e reflexões de como caminhou o mandato, para que a reeleição não fosse algo automático. Mas nesta conjuntura estava colocada a reeleição da Presidenta Dilma e o movimento sindical CUTista orientava a reeleição de todas as companheiras mulheres presidentas das CUT’s estaduais, num processo pedagógico para reforçar a argumentação da luta pela reeleição da presidenta Dilma.

Mais uma vez, apesar de termos provocado o processo de dissenso para a construção política da nova Direção, onde apresentamos mais uma vez nossa candidatura a presidente da Central no estado para o debate interno da nossa corrente. Levamos o debate até o limite dos prazos e acabamos por fazer a leitura de que era importante seguir as orientações nacionais de reconduzir todas as companheiras que ocupavam as presidências das CUT estaduais. Mas deixando claro que a recondução à presidência da CUT/PR, não podia e não pode ser um processo automático, muito contrário, é necessário avaliação e reflexões se a política está no caminho certo do ponto de vista político, organizacional e financeiro. Passando o processo no 13º CECUT.

Durante minha atuação como secretário-geral da CUT/PR, na segunda gestão da presidenta Regina, organizamos ativamente a resistência ao golpe parlamentar que destituiu a presidenta Dilma Rousseff. Nesse contexto desafiador, enfrentamos com determinação o governo ilegítimo de Michel Temer, que deu início a uma perseguição política sistemática contra o Presidente Lula.

Como parte dessa luta, coordenamos diversas manifestações e comícios em todo o Paraná, com o objetivo claro de alertar a sociedade sobre as graves violações processuais cometidas contra Lula durante a Operação Lava Jato. Esta operação, sob o comando do então juiz Sérgio Moro - que posteriormente revelaria seu alinhamento político ao se tornar ministro do governo Bolsonaro -, representou um ataque frontal ao Estado Democrático de Direito ao agir de forma parcial, condenar sem provas robustas e antecipar a prisão antes do trânsito em julgado.

O resultado foi a manutenção do Presidente Lula por 580 dias na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, uma prisão arbitrária que simbolizou o ápice da instrumentalização do sistema judiciário para fins políticos. Essa experiência reforçou nosso compromisso com a defesa intransigente das instituições democráticas e dos direitos fundamentais.

Como consequência desta prisão arbitrária, se organizou a maior e mais longeva Vigília que se tem notícia, a Vigília Lula Livre. O movimento de atingidos por barragens – o MAB, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – o MST, a CUT Brasil e a CUT/PR coordenaram essa grande vigília, lá toda uma estrutura para receber pessoas do Brasil e do mundo foi organizada, no princípio os “Bom Dia”, “Boa Tarde” e “Boa Noite” eram feitos na denominada praça Olga Benário, depois de diversas tentativas de criminalizar a vigília e tentar desmobilizá-la, a organização conseguiu alugar um terreno bem em frente a sede da Polícia Federal, e com o aluguel de mais alguns espaços perto, foram feitas as logísticas de alimentação, como o Espaço Marielle Franco, e alojamentos como a Creche, o Acampamento Maria Leticia, para pessoas que vinham de outros lugares para ajudar na Vigília; e muitos ramos de atividades da CUT, passaram a ter casas e apartamentos alugados na capital do estado, para facilitar a participação na vigília, a exemplo dos Bancários, dos Petroleiros, professores, dentre outros.

Na CUT/PR, fizemos um processo de organização que permitiu que a presidenta da entidade se dedicasse à coordenação da Vigília, enquanto eu, enquanto secretário-geral, passei a cuidar mais diretamente das atividades internas da CUT/PR e também a viajar pelo estado, já com vistas ao 14º CECUT/PR. Nesta lógica, enfrentamos a ofensiva do desgoverno Bolsonaro, que havia sido eleito em 2018, em função da Lava Jato ter tornado Lula inelegível em 2018. Foi um período de muitas perdas para a classe trabalhadora, além de ausência de diálogo e retirada de direitos, tais como a reforma trabalhista que somente tirou direitos da classe trabalhadora, mais de 200 alterações na CLT e nenhuma delas contra os patrões, todas sem exceção contra a classe trabalhadora.

Fui eleito presidente da CUT PR por unanimidade das delegadas e delegados presentes ao 14º CECUT/PR que aconteceu em outubro de 2019 e teve o seu final antecipado para que a militância pudesse participar das comemorações do aniversário do Presidente Lula na Vigília Lula Livre. Tivemos algumas atividades importantes neste período e também a decisão do STF de considerar ilegal a prisão em segunda instância, o que permitiu que o Presidente Lula fosse liberto da injusta prisão colocando fim a vigília que durou exatos 580 dias, e merecia um artigo a parte neste livro, por que foi um processo importante e histórico para a nossa Central aqui no Paraná, por sua liderança e protagonismo.

O ano de 2020 começa de forma diferente, informações de uma gripe avassaladora que se originou em Wuhan, uma cidade chinesa, e se alastrou em poucos meses, trazendo essa gripe para o Brasil, a COVID-19. A pandemia da COVID foi avassaladora por onde passou e trouxe cenários apocalípticos para todo mundo, inclusive para o Brasil, onde aproximadamente 700.000 pessoas morreram. Tivemos que nos isolar, evitar por mais de um ano contato com as pessoas e sair de casa. Passamos a trabalhar de nossas casas e muitas tecnologias que ainda eram experimentais, mas tiveram que ser antecipadas para que pudéssemos nos comunicar e nos proteger. Esses instrumentos de conversas remotas, de entregas por aplicativos, propiciaram que muitas empresas, bancos e serviços passassem a ser desenvolvidos de casa. O home office se tornou uma realidade. Fizeram muitas empresas passaram a implementar o trabalho de casa, o que dificultava a ação sindical, pois os sindicatos não tinham como acompanhar essa jornada, mas estudos demonstraram que as pessoas passaram a trabalhar muito mais e ainda tinham que usar seus instrumentos particulares para gerar lucro para as empresas. Muitas dificuldades foram criadas, principalmente no que diz respeito à construção da logística de distribuição de alimentos por todo o Paraná e também pelo Brasil.

O movimento sindical buscou criar acordos, marcos regulatórios, protocolos específicos fossem criados para tentar proteger as trabalhadoras e trabalhadores. Tivemos que, durante quase um ano, somente nos comunicar por grupos virtuais, de conversas de trabalho e mesmo de amigos, foi um processo muito duro e que exigiu de todas e todos um esforço hercúleo no sentido de se manterem vivos. De 2020, quando começa a pandemia e até se chegar a vacinas eficientes para proteger as pessoas da COVID, foram mais de dois anos, pois somente em maio de 2023 a Organização Mundial de Saúde – OMS decretou o fim da pandemia mundial de COVID. E podemos retornar a nossa vida tradicional.

Toda sociedade teve que se reinventar e não foi diferente com o movimento sindical, tivemos que nos adaptar aos aplicativos de vídeos conferências, muitas das nossas reuniões, plenárias e até congressos e eleições passaram a ser feitas de forma virtual. E a nossa intensa vida sindical fez com que nós trabalhássemos muito mais, pois de hora em hora estávamos em uma sala de reunião virtual, quando não em mais de uma ao mesmo tempo.

O movimento sindical precisava se reinventar para manter proximidade com suas bases, mesmo à distância. Foi nesse contexto que a CUT/PR, em parceria com o Jornal Brasil de Fato Paraná, criou o programa Quarta Sindical — uma iniciativa inspirada em um projeto-piloto realizado durante a Vigília Lula Livre.

Na época, as quartas-feiras eram dedicadas ao movimento sindical na vigília: as lideranças nacionais e internacionais visitavam o presidente Lula, e as entidades organizavam as saudações (bom dia, boa tarde, boa noite) a ele. Além disso, na Casa da Democracia — centro integrado de comunicação da vigília —, o movimento sindical tinha um horário no pool de mídias para transmitir entrevistas e programas.

Esse piloto deu origem ao Quarta Sindical, que completa mais de cinco anos no ar, sempre às quartas-feiras, divulgando notícias sobre o mundo do trabalho. Hoje, o programa é retransmitido por mais de 40 entidades sindicais do Paraná e do Brasil.

A gestão da CUT/PR 2019/2023 se desenrolou quase que totalmente durante a pandemia, onde perdemos alguns de nossos valorosos dirigentes e também sob a égide da retirada de direitos de um desgoverno de direita no Brasil que volta e meia flertava com o fascismo. Disse claramente que estava a serviço do capital para azeitar uma reserva de mão de obra qualificada e barata, que aceitaria só ter emprego sem direitos. O que o movimento sindical nunca aceitou, e jamais aceitará.

Em 2022, a classe trabalhadora, a quase totalidade das mulheres e dos homens dirigentes sindicais, fez um hiato em suas vidas para lutar e buscar trazer de volta o governo democrático e popular, mesmo que organizado em cima de uma frente ampla, para derrotar o protofascismo bolsonarista.

O mais importante é que a mobilização das trabalhadoras e trabalhadores ajudou a mudar o cenário. Pelo menos, o diálogo foi retomado — e, mais do que isso, conquistamos vitórias significativas.

Vencemos as eleições presidenciais em 2022, embora não tenhamos alcançado uma bancada federal (deputados e senadores) à altura das necessidades. Essa limitação deixou o governo democrático e popular de Lula dependente da velha política de barganha, onde cada votação importante para a classe trabalhadora exige concessões, como cargos em ministérios ou no segundo e terceiro escalões.

Ainda assim, os avanços são inegáveis: resgatamos políticas públicas e programas sociais destruídos pelo governo Bolsonaro, reinstauramos a valorização do salário mínimo e garantimos reajustes acima da inflação nas negociações coletivas. Isso já transformou radicalmente a relação entre o governo e o movimento sindical — mas não nos contentamos com pouco: queremos mais.

Buscamos que neste processo o empoderamento das relações sociais e valorização das mesas de negociações, ter o reconhecimento das centrais sindicais, confederações como parte integrantes das negociações nos ramos de atividade, avanço que estamos tentando consolidar de forma tripartite entre o governo, empresários e nós, trabalhadoras e trabalhadores, para termos uma lei que valorize as mesas de negociações. Esforço que continua.

Nesta toada de ainda resistência política, findou a gestão 2019/2023, com a realização do 15º CECUT/PR, onde nossa direção foi reeleita por unanimidade pelas delegadas e delegados ao Congresso. O começo da gestão 2023/2027 ainda tem os desafios de resistência e lutas de enfrentamento à tentativa de a extrema-direita voltar a governar o país. Demos um grande salto na representatividade municipal em 2024 nas eleições, mas setores ligados à extrema-direita cresceram também.

O movimento sindical enfrenta atualmente três grandes batalhas estratégicas em defesa dos direitos da classe trabalhadora. A primeira é a regulamentação urgente do trabalho em plataformas digitais, um novo modelo de exploração em que os aplicativos acumulam bilhões em lucros enquanto os trabalhadores são submetidos a jornadas exaustivas sem direitos básicos. Esta luta, assumida como prioridade pela CUT/PR desde seu penúltimo Congresso, transformou-se hoje numa questão de sobrevivência para milhões de pessoas.

A segunda frente é a organização dos trabalhadores informais. Com o sistemático desmonte dos empregos formais, testemunhamos cada vez mais mulheres e homens obrigados a recorrer a 'bicos' e atividades precárias para complementar a renda familiar. Não podemos permitir que esta precariedade se normalize como regra no mercado de trabalho.

Por fim, o terceiro e crucial combate é o enfrentamento ao capital especulativo. Enquanto os bancos celebram lucros recordes, a população sofre com a deterioração dos serviços públicos. Basta de privilégios! É imperativa uma reforma tributária justa que desonere os trabalhadores, taxe as grandes fortunas e direcione esses recursos para áreas essenciais como saúde, educação e a criação de empregos dignos. Estas são as trincheiras onde hoje se define o futuro do trabalho no Brasil.

A CUT/PR sempre defendeu um princípio básico: é preciso humanizar o trabalho. Isso significa reduzir a jornada sem cortar salários – uma proposta que o capitalismo rejeita; pois sua lógica é a ganância, a exploração e a busca incessante por lucro às custas da classe trabalhadora.

Mas a sociedade está cansada desse modelo. As ruas e as lutas sindicais mostram isso – como na campanha pelo fim da escala 6×1, que nada mais é do que a aplicação prática do que a CUT/PR sempre defendeu: trabalhar menos, sem perder direitos. Essa é uma das principais bandeiras de luta do nosso tempo, e não vamos recuar até conquistá-la.

Em 2025, a CUT/PR celebrará quatro décadas de luta - uma trajetória que nos consolida como entidade forte, organizada e comprometida com a transformação socioeconômica. Nossa atuação sempre partiu de um princípio claro: a classe trabalhadora precisa ocupar espaços de poder para disputar a hegemonia na sociedade. Essa construção exige diálogo com todos os setores, mas principalmente com os próprios trabalhadores, que devem compreender seu papel histórico na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Estamos no meio de uma gestão crucial (2023-2027) que exige enfrentar desafios imediatos. Precisamos consolidar o governo democrático e popular, ampliando nossa representação política para além das urnas. É inaceitável que a classe trabalhadora, responsável por mais de 90% do eleitorado, ocupe menos de 7,5% das cadeiras legislativas. Essa distorção explica por que mesmo com Lula eleito, o governo segue refém de partidos aliados nem sempre progressistas, do Centrão e da extrema-direita.

A mudança começa por nós: fortalecer nossa organização, levar candidaturas sindicais ao Congresso e Assembleias, e garantir que as pautas trabalhistas ecoem nos parlamentos. Só assim protegeremos conquistas históricas e evitaremos novos retrocessos. Este é o caminho para consolidar de vez o projeto democrático e popular - não como concessão, mas como direito conquistado pela maioria que sustenta este país.

Nossa Central enfrenta desafios internos profundos que exigem reflexão coletiva. As diferentes correntes políticas precisam analisar criticamente as transformações sociais ocorridas nas últimas décadas, desenvolvendo novas formulações teóricas e organizativas. Essa atualização é fundamental para mantermos uma CUT/PR capaz de intervir de forma qualificada na realidade atual, defendendo efetivamente os interesses da classe trabalhadora.

Esta tarefa, embora possa parecer simples, exige que superemos nossa zona de conforto organizativo. É urgente que nosso trabalho intelectual e prático responda aos novos tempos, marcados pela revolução tecnológica da Inteligência Artificial, automação e Indústria 4.0 - processos que estão eliminando postos de trabalho tradicionais e transformando radicalmente as relações laborais.

Ao mesmo tempo, precisamos incorporar em nossas lutas as questões ambientais e a sustentabilidade do planeta, garantindo condições dignas de vida para as futuras gerações. Esta postura se opõe frontalmente à lógica do capital, que privilegia o lucro imediato sem qualquer preocupação com as consequências futuras ou com a capacidade de sobrevivência do planeta. Enquanto o sistema produtivo atual pensa apenas no "agora", nosso movimento deve construir alternativas que harmonizem desenvolvimento, justiça social e preservação ambiental.

Precisamos vincular os avanços da modernidade com a garantia de vida digna para as futuras gerações. Nosso objetivo é construir novas condições para a classe trabalhadora: jornadas reduzidas, salários justos, ambientes de trabalho adequados e, principalmente, tempo para viver com qualidade e felicidade.

Embora muitos desafios permaneçam e nem todos possam ser solucionados no restante de nosso mandato à frente da CUT/PR, temos a convicção de que todas as ações realizadas até aqui - tanto coletivas quanto individuais - demonstram nosso compromisso inabalável com a luta dos trabalhadores e trabalhadoras. Seguimos firmes na construção de uma sociedade mais igualitária, justa e solidária.

É com imenso orgulho que concluo esta reflexão, honrado por liderar uma equipe tão dedicada. Nossa atuação abrange diversas frentes essenciais: a inclusão da juventude, a igualdade para mulheres e negros, os direitos LGBTQIA+, a acessibilidade para pessoas com deficiência, a economia solidária e a saúde pública. Tudo isso com uma perspectiva plural, mas sempre com o olhar classista que nos guia.

Para mim, Marcio Kieller - como eu disse e reafirmo - é motivo de orgulho e honra muito grandes de presidir a Central Única das Trabalhadoras e Trabalhadoras do Paraná nos seus 40 anos de lutas e avanços em defesa da organização da classe trabalhadora paranaense.