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Artigo

A fragmentação sindical e suas conseqüências para as lutas das mulheres trabalhadoras

Publicado: 23 Abril, 2008 - 00h00 | Última modificação: 28 Outubro, 2014 - 16h33

A Central Única dos Trabalhadores desde sua criação defendeu a autonomia da classe trabalhadora. Ao longo desses 25 anos vimos reafirmando que são os trabalhadores e trabalhadoras – e não o Estado – quem devem decidir em qual sindicato filiar-se e que estes devem ter a liberdade para organizar-se.

 

Assim, ao defendermos a Convenção 87 da OIT acerca da liberdade sindical e da proteção do direito sindical, estamos afirmando que é somente com liberdade de organização que conseguiremos construir sindicatos fortes e combativos, capazes de atuar conjuntamente e obter vitórias na defesa dos direitos da classe trabalhadora.

 

Aqueles que defendem a manutenção da unicidade sindical afirmam que tal medida combate a fragmentação sindical, contudo, não é essa realidade concreta que vivenciamos atualmente. Hoje são mais de 20 mil sindicatos, vários deles cartoriais, que ao invés de configurarem-se como espaços de organização dos/as trabalhadores/as, servem apenas como espaços de disputa e de fragilização das lutas da classe trabalhadora.

 

Na medida em que a fragmentação sindical avança, crescem também as dificuldades e as barreiras para ampliar a participação e as conquistas das mulheres trabalhadoras. Com a dispersão sindical, estes se enfraquecem, distanciam-se de suas bases e transformam-se basicamente em espaços de disputa de cargos, de disputa do ‘poder pelo poder’. Em espaços como esses, outras relações de poder manifestam-se, entre elas, as de sexo, evidenciando o machismo de nossa sociedade.

 

Dessa maneira, sindicatos pequenos e fragmentados acabam colocando um entrave maior para a participação das mulheres não só nos espaços de direção, mas em todos os espaços de relevância, pois, na maioria das vezes, elegem para tal somente uma representação, e esta acaba por ser quem ocupa a presidência do sindicato – na maioria absoluta das vezes, um homem. Nessa situação, nossa histórica defesa das cotas mínimas de gênero de 30% não tem condições de ser cumprida.

 

Já os sindicatos maiores, que possuem um número expressivo de filiados/as têm mais de uma representação para esses espaços, o que os torna aptos a cumprirem com as cotas, logo, a partilharem de uma política concreta de reconhecimento e incentivo da participação das mulheres trabalhadoras em todos os espaços sindicais.

 

Outra grave decorrência da fragmentação sindical para a luta das trabalhadoras é a sua conseqüente fragilidade na defesa de nossos direitos. Ter uma atuação conjunta e articulada da classe trabalhadora é fundamental para garantirmos tanto a redução da jornada de trabalho, a ratificação das Convenções 151 e 158 da OIT e a aplicação das Convenções 100 e 111 (respectivamente acerca do salário igual para trabalho igual e sobre a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres no mercado de trabalho); quanto para avançarmos na autonomia das mulheres sobre seus corpos, sua sexualidade e por um mundo sem violência sexista, com a presença e participação das mulheres em todos os espaços.

 

Para finalizar, lembramos uma recente visita em nossa sede nacional de representantes sindicalistas canadenses. Elas nos presentearam com seus materiais, um deles, um cartaz com a afirmação “As mulheres fortalecem os sindicatos”, temos absoluto acordo, e incluímos “Sindicatos fortes, fortalecem a luta das mulheres”.

 

 

Rosane da Silva, é secretária nacional sobre a Mulher Trabalhadora da CUT

 

Jacy Afonso, é secretário nacional de Finanças da CUT