A UNE amadureceu as suas ilusões, viu envelhecer, mas não envelheceu, chegou aos 70 anos em plena forma e construiu uma longa trajetória de lutas em defesa do Brasil e do povo. Agora, comemora sem esquecer todos os lutadores que deram a vida por acreditar em um outro mundo. Nos últimos dias, o aniversário da entidade e posse da nova diretoria, com atividades no Rio e em São Paulo, foram também momentos de lembrar Honestino Guimarães, Alexandre Vannucchi Leme, Edson Luis, Helenira Rezende e muitos outros mártires do movimento estudantil. Uma das principais homenagens veio em forma de documentário, dirigido pelo cineasta Silvio Tendler, em parceria com o Projeto Memória do Movimento Estudantil. O filme conta a história da entidade estudantil por meio de depoimentos inéditos captados durante os anos de 2004 e 2005 pelo projeto. O lançamento aconteceu na última quinta-feira (09/8), no Cine Onden, no Rio de Janeiro e reuniu autoridades políticas, artistas e ex-presidentes da UNE.
Na última sexta-feira (10/8), uma passeata dos estudantes ocupou as ruas do Rio. Cerca de 600 jovens se concentraram nas mediações do tradicional Largo do Machado, região da Zona Sul que faz fronteira com os bairros Catete, Laranjeiras e Flamengo.
Passeata cultura = Culturata
A irreverência que sempre acompanhou as manifestações do movimento estudantil rapidamente tomou conta do local. Toda a diversidade da juventude, cada qual com sua marca, unia-se em rostos pintados e palavras de ordem que relembravam alguns momentos importante da história da entidade. Embalados pelo grupo Rio Maracatu, convidado especial da passeata, os estudantes deram início à já tradicional "culturata" da UNE.
A deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), e os ex-presidentes da UNE, Aldo Arantes (1961/62), José Luiz Guedes (1966) e Javier Alfaya (1981/82) acompanharam a passeata junto aos estudantes e depois participaram da posse.
"Reivindicações como a implantação do passe livre e o repudio à proposta de redução da maioridade penal, que trazemos aqui para esta manifestação, mostram que as pautas e bandeiras dos jovens se renovam, mas a luta continua na rua, em forma de protesto e mobilização", declarou a presidente da UNE, Lúcia Stumpf.
Com apoio da população, que aplaudia a passagem do "culturata", o cortejo seguiu rumo ao terreno da Praia do Flamengo, 132.
O espaço onde funcionou a antiga sede da UNE foi retomado pelos estudantes em fevereiro deste ano, após uma ocupação pacífica que durou mais de três meses. (Saiba mais)
Na manhã daquela sexta, a entidade acabou ganhando outro presente pelos seus 70 anos. O arquiteto Oscar Niemeyer recebeu em seu escritório, em Copacabana, alguns diretores para entregar o novo projeto do prédio que será erguido no local.
A manifestação terminou com os estudantes adentrando novamente o terreno, um ato simbólico para relembrar o dia 1º de fevereiro deste ano, quando o local foi retomado depois da "culturata" da 5ª Bienal, com mais de 5 mil pessoas.
Posse
Uma multidão se aglomerou para ver a posse da nova diretoria da UNE e da UEE-RJ (União Estadual dos Estudantes). Primeiro, os ex-diretores se despediram com discursos de destaque para a unidade construída dentro do movimento estudantil nos últimos dois anos, com lutas construídas em torno de temas educacionais importantes, como a reforma universitária e a assistência estudantil.
Gustavo Petta (ex-Presidente), que agora lança um blog (http://blogdopetta.blig.ig.com.br), disse que "é preciso ter orgulho da história da nossa entidade e lembrar daqueles que foram torturados, assassinados na luta pela liberdade no Brasil. Essa geração e outras são referências para a luta hoje".
Louise Caroline (ex-Vice) frisou o simbolismo da retomada do terreno e o desafio que a nova gestão terá pela frente para erguer o novo prédio e enterrar de vez o cadáver da ditadura militar. Ela disse também que nunca uma gestão da UNE conseguiu uma unidade tão grande como a que se encerrava naquele dia.
Pedro Campos (ex-Secretário-geral) disse que a nova diretoria deve se caracterizar pela continuidade e intensificação do trabalho de mobilização nas ruas, que é a forma histórica de conquistas do movimento estudantil.
Ministro
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, compareceu à posse e aproveitou a oportunidade para pedir o apoio da UNE em uma campanha lançada pelo órgão de conscientização e moderação do consumo da bebida alcoólica entre a juventude. Uma reunião com a nova diretoria da entidade está marcada para semana que vem, em Brasília.
O presidente da OAB-RJ, Wadih Damous, também prestigiou a posse. Ele criticou o movimento "Cansei" e disse que a juventude, pelo o que ele pode ver no terreno, "não está cansada e vai continuar defendendo os interesses do país e do povo brasileiro".
O presidente da UBES, Thiago Franco, a ex-deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), os ex-presidentes da UNE, Jenival Barbosa (1948/49), Ricardo Capelli (1997/99) e Felipe Maia (2001/03), e o secretário-adjunto da Secretário Nacional da Juventude, Danilo Moreira, também comparecem, além de lideranças de diversos movimentos sociais, como o MST, CGBT, CUT.
Lúcia presidente
Petta passou o cargo e a palavra para a nova presidente da UNE, Lúcia Stumpf, eleita no 50º Congresso da entidade, realizado em Brasília, no começo de julho. Lúcia tem 25 anos, é estudante de jornalismo da Fiam (SP), e passa a ser a quarta mulher a assumir o posto máximo da entidade. O novo vice-presidente será o estudante de História da Universidade Federal de Goiás, Tales de Castro Cassiano, 21 anos. Quem assume a secretaria-geral é o estudante de Medicina da UFRJ, Ubiratan Cassano, 22 anos.
Lúcia ressaltou as conquistas da gestão passada, destacando a retomada do terreno como uma vitória de todo o povo brasileiro. Ela disse que a sua gestão está comprometida com a reconstrução do prédio e vai intensificar a pressão pelas pautas educacionais, como a criação de um Plano Nacional de Assistência Estudantil. A nova presidente disse também saber dos desafios que tem pela frente, principalmente em um momento político de disputas e correlação de forças pelos rumos do governo.
Ela fez questão de dizer que o movimento estudantil está pronto para enfrentar essa disputa, com a juventude na rua, começando já um grande período de mobilizações com a Jornada de Lutas da UNE e da UBES, marcada para acontecer entre os dias 20 a 24 de agosto.
UEE-RJ
O presidente da UEE-RJ, Daniel Iliescu, subiu ao palco para destacar o papel que a entidade terá nestas novas lutas junto com a UNE, principalmente no que diz respeito à reconstrução da sede. A UEE-RJ e o CUCA (Circuito Universitário de Cultura e Arte) têm tido papel fundamental para manter as atividades culturais e políticas no terreno.
Depois, os novos diretores presentes das duas entidades foram chamados para oficialmente tomarem posse. Pela energia demonstrada na o rosto de cada um, a certeza é de que a ventos jovens e renovados sopram naquele terreno, de onde os estudantes foram expulsos e agora voltam para marcar uma nova época do movimento estudantil brasileiro.
Para celebrar os 70 anos e comemorar a posse da nova direção, o show da Velha Guarda da Vila Isabel encerrou as atividades do dia. No sábado, uma festa "agostina" deu continuidade às comemorações do Dia do Estudante e do aniversário da UNE.