Escrito por: Nathaniel Braia
Chokri Belaid defendia a Revolução de 14 de Janeiro denunciando os acordos de apoio à intervenção dos EUA na África e submissão a corporações estrangeiras
Um dos principais líderes da oposição tunisiana, Chokri Belaid, foi assassinado no dia 6 com quatro tiros. Quando a notícia se espraiou, uma multidão saiu às ruas para acompanhar a ambulância que carregava o corpo da clínica onde fora socorrido até o hospital público. Logo a principal artéria de Túnis foi tomada por uma multidão exigindo o afastamento do governo de Moncef Marzouji (presidente da Tunísia).
Os milhares de tunisianos lamentavam a morte daquele que defendera, enquanto advogado, inúmeros presos da ditadura de Ben Ali, e era o secretário-geral do Movimento Unificado dos Patriotas Democratas (MOUPAD).
Além de haver trabalhado na fusão do Partido dos Trabalhadores Patriotas Democratas da Tunísia com o Movimento dos Patriotas Democratas para forma o MOUPAD, Belaid foi articulador da formação do bloco Frente Patriótica com 12 partidos oposicionistas. Os tunisianos exigiam a saída do governo aos gritos de "Fora! Fora!", "O terrorismo não amedronta os tunisianos", "Fora opressores do povo" e ainda "Somos todos Chokri Belaid!".
O partido dirigido por Belaid entrara em contradição com o governo de Marzouji pois adotara um programa nacionalista anti-imperialista, enquanto que o governo de traição da Revolução de 14 de Janeiro manteve os acordos militares com os EUA, entre eles a chamada Parceria de Combate ao Terrorismo na África Trans-Saariana, colocando-se, portanto, à disposição dos EUA para apoiar sua ingerência no Continente (em troca disso os EUA mantém programa de treinamento militar e financia aquisição de equipamento militar norte-americano para a Tunísia). Com relação aos países da União Europeia, manteve a relação de entrega total do mercado tunisiano, abrindo as fronteiras a produtos europeus que podem entrar no país sem nenhum tipo de tarifa alfandegária.
RECUPERAÇÃO DO PATRIMÔNIO PÚBLICO -Já o programa de governo do MOUPAD propõe a "intervenção do Estado nos setores vitais e estratégicos e a recuperação das estatais pilhadas de forma ilegítima pelo regime anterior"; "uma economia baseada nos setores produtivos e não em uma economia frágil e parasitária"; "encorajamento do investimento nacional produtivo e gerador de empregos"; além de "apoio aos movimentos de libertação nacional" e a luta pela conformação de uma grande frente panárabe.
Durante a solenidade de formação da Frente Popular, Belaid destacou que a nova força política buscaria "manter a Tunísia como economia e condição política independente, barrando a dominação pelos reinados do Golfo (a exemplo do Qatar) ou pelo imperialismo norte-americano ou francês". Foi também aprovado o fim de qualquer relação com o governo de Israel.
O regime do Ennahda, partido religioso que assumiu o poder após a revolução, manteve as mesmas condições (entre outras mazelas, um desemprego de cerca de 40% entre os jovens). As regiões mais empobrecidas continuam as mais desassistidas. Tanto assim que no município de Sidi Bouzid (onde a revolta que derrubou Ben Ali começou), quando o presidente apareceu para fazer um comício, no dia 8 de dezembro de 2012, foi recebido a pedradas e tomatadas e teve que voltar para a escolta e fugir da região.
A Frente Popular convocou greve geral e pede a renúncia do governo. Foram registrados protestos contra a morte do líder todo o país.
Antes do assassinato de Belaid, no final de semana passado, reunião do partido dos Patriotas Democratas e Congresso das Mulheres Tunisianas foram atacados.
Belaid afirmara que "toda vez que o governo planeja atacar direitos populares, ataques como este acontecem". O líder também vinha denunciando que estava recebendo ameaças de morte.