Escrito por: Valdo Albuquerque

Remessa de lucros e dividendos das montadoras...

Com países centrais em crise, multinacionais fazem sangria recorde


As montadoras de automóveis enviaram para suas matrizes US$ 5,58 bilhões em lucros e dividendos no ano passado, 36% superior aos US$ 4,1 bilhões registrados em 2010. O valor é um recorde, mesmo com o pequeno crescimento de 0,7% na produção de veículos. Foi o setor que mais remeteu dinheiro para o exterior, superando os bancos e as teles.


Esses números, divulgados pelo Banco Central no dia 24/01, jogam por terra o argumento das montadoras que vivem reclamando de altos custos para produzir no Brasil.


Com os países centrais em crise, as multinacionais procuram aumentar os seus lucros em países como o Brasil, turbinados por generosos incentivos fiscais e recursos públicos, sendo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) o principal financiador das montadoras. GM, Fiat, Mercedes-Benz, DaimlerChrysler, Ford, Renault, Toyota, Volkswagen e Volvo foram algumas das que foram contempladas com recursos do banco. Segundo dados do BNDES, os financiamentos para expansão de fábricas totalizaram R$ 6 bilhões entre 2007 e 2011 (até outubro).

Recentemente a Fiat levou R$ 1,3 bilhão. A Mercedes-Benz anunciou investimentos de R$ 1,5 bilhão para o período 2010-2013, dos quais R$ 1,1 bilhão são dos cofres do BNDES.


Nos últimos quatro anos, o banco disponibilizou R$ 10 bilhões para financiar as exportações do setor, em contratos de adiantamento. Entre 2007 e outubro de 2011, o desembolso do BNDES para financiar a compra de caminhões, ônibus e máquinas agrícolas somou cerca de R$ 94 bilhões nas diversas modalidades do programa Finame.


Some-se a isso, as isenções dos estados na guerra fiscal para atrair montadoras nos anos 1990. Segundo a economista Maria Abadia Silva Alves, da Unicamp, os incentivos estaduais fiscais (desconto em impostos) e orçamentários (infraestrutura, terrenos, capital de giro etc.) oferecidos à época para a Mercedes-Benz se instalar em Juiz de Fora (MG), a Renault em São José dos Pinhais (PR) e a GM em Gravataí (RS) atingiram R$ 1,8 bilhão. Já os investimentos das três ficaram abaixo, R$ 1,65 bilhão.


Em 1999, para se instalar na Bahia, a Ford conseguiu do governo estadual 35% no IPI até o fim de 2010, abatimento de 65% do ICMS até o final de 2013, além de levar R$ 1,3 bilhão em financiamento do BNDES.


A Fiat foi buscar em fontes públicas o financiamento para instalar uma planta em Goiana (PE). De acordo com o Jornal de Pernambuco, de R$ 5,8 bilhões necessários para o empreendimento, R$ 1,2 bilhão sairia do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FNDE); R$ 800 milhões do Banco do Nordeste (BNB); e R$ 3,8 bilhões do BNDES.
Resumo da ópera: o Brasil, isto é, o povo paga para montadoras se expandirem e os lucros enviados para as matrizes se multiplicam. Sem falar que, para aumentar os lucros, não hesitam em recorrer às demissões - como ocorreu no fim de 2008, mesmo tendo recebido R$ 4 bilhões do Banco do Brasil e R$ 4 bilhões da então Nossa Caixa para financiar a compra de seus carros por consumidores - e a chantagens do tipo férias coletivas.


Assim, fica claro que não há nenhum motivo plausível para uma nova redução de IPI para o setor como já foi aventado pela equipe econômica. O que se apresenta na ordem do dia é direcionar os financiamentos públicos às empresas genuinamente nacionais (privadas e estatais) e taxar as remessas de lucros das multinacionais.