Escrito por: CUT/PR

Quinta sangrenta

Batalhão de Choque da PM age com violência e despeja 1500 famílias em Curitiba



Mais um despejo extremamente violento na conta do tucano Beto Richa, prefeito reeleito da cidade ‘modelo’ de Curitiba. Aproximadamente 1500 famílias, totalizando 10 mil pessoas, que ocupavam uma área de 170 mil metros quadrados no bairro Fazendinha desde o dia 6 de setembro, foram retiradas à força do local pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar na manhã desta quinta-feira (23).

Para a operação foram mobilizados 900 policiais e quatro agrupamentos da cavalaria. Desde às 06h os sem-teto bloqueavam os arredores com pneus e pedaços de madeiras em chamas. Alguns acampados fizeram um cordão de isolamento para tentar impedir a reintegração, mas foi em vão. A PM utilizou balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo para cumprir o despejo. Quem acompanhou a intervenção pode constatar que o cenário era típico de uma guerra. Muitas pessoas, inclusive mulheres e crianças, ficaram feridas. “Não havia necessidade de tamanha violência, até mesmo porque foi um grupo muito pequeno que resistiu. Após o conflito, a PM liberou a área para as pessoas resgatarem seus pertences, mas mesmo assim sofreram repressão”, informou Pedro Carrano, jornalista e membro do Coletivo Despejo Zero, uma organização que atua em Curitiba e Região Metropolitana há quase três anos e desde então tem buscado articular movimentos e pessoas inseridas na luta por moradia popular.

Coordenadora estadual da União Nacional por Moradia Popular, Maria das Graças Silva de Souza afirma que a capital paranaense não tem uma política de habitação para quem ganha de 0 a 3 salários mínimos. “O que acontece em Curitiba é a demanda reprimida da falta de moradia. Ocupamos áreas ociosas para pressionar a Prefeitura a agir, já que não adianta ficar esperando na fila da Cohab, que hoje tem 65 mil famílias inscritas. É uma situação bem difícil e o Poder Público tem autonomia para realocar as famílias despejadas”.

Até o fechamento da matéria, nem a Prefeitura, tampouco o Governo Estadual, haviam disponibilizado outra área para permanência provisória dos sem-teto. “Muitas crianças, adolescentes e idosos estão no local sem destino certo”, informou o Coletivo Despejo Zero em nota divulgada à imprensa e aos movimentos sociais.
 
Reintegração
A liminar de reintegração de posse foi concedida à Varuna Empreendimento Imobiliários pela juíza Julia Maria Tesseroli, da 19ª Vara Cível de Curitiba, no dia 15 de setembro, determinando prazo de cinco dias para a desocupação voluntária. Como os sem-teto resistiram, a Justiça deu a ordem de uso da força policial. De acordo com a nota do Despejo Zero, a Varuna é um braço da empreiteira CR Almeida.
 
Imprensa atingida
 O companheiro Anderson Leandro, produtor da QuemTV, foi alvejado com um tiro de borracha no rosto e encaminhado ao Hospital do Trabalhador. Informações de pessoas que foram até o local dão conta que ele passa bem. “Fica evidente na fita gravada por Anderson que toda a imprensa estava em um barranco, quando um policial virou e fez o disparo”, disse Gustavo ‘Red’ Erwin, membro da Coordenação dos Movimentos Sociais. O Sindicato dos Jornalistas do Paraná irá divulgar nota repudiando a ação truculenta da PM.