Escrito por: Leonardo Severo, de Belo Horizonte-MG
Nove mil tomam a frente da Assembleia: é greve, é greve, até que Anastasia pague o piso que nos deve
Professores tpmaram o pátio da Assembleia Legislativa de Minas
Com faixas, cartazes e muito humor, os educadores ironizaram a postura do governador Antonio Anastasia de desrespeitar a Lei do Piso, já regulamentado pela Lei Federal 11.738, utilizando-se de fórmulas estapafúrdias que agregam bonificações e até qüinqüênios para alavancar o valor – o que é flagrantemente ilegal.
“É greve, é greve, é greve, até que Anastasia pague o piso que nos deve”, entoou a multidão, alertando o governador sobre o que deve fazer para por fim à paralisação iniciada no dia 8 de junho. O grito de guerra foi estampado, em meio a um mar de bandeiras do Sind-UTE/MG (Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais), antes mesmo que a coordenadora geral da entidade, Beatriz Cerqueira (Bia), colocasse em votação a proposta sobre os próximos passos do movimento.
“A categoria decidiu que é o momento de manter a ampliar a greve. Vamos realizar aulas públicas em todo o Estado como forma de dialogar com a população sobre a realidade empobrecida da categoria em Minas e da necessidade de termos uma educação pública, gratuita e de qualidade”, declarou Bia. Segundo a coordenadora do Sind-UTE, não há como os educadores retornarem às aulas sem que o governo estadual assuma a sua responsabilidade e implemente o Piso, que é lei. “Ninguém forma ninguém se não tem capacidade de lutar pelos seus próprios direitos”, acrescentou, sob aplausos da multidão.
Nesse momento, explicou, o vencimento básico pago pelo Estado de Minas para um professor de nível médio é de R$ 369. Por isso, a nossa luta pelo piso na carreira, porque ele que vai possibilitar a valorização do profissional que tem nível médio, que tenha licenciatura, que tenha doutorado, mestrado e o tempo de dedicação à escola pública”. O Piso por lei é de R$ 1.597,87.
João Felicio, secretário de Relações Internacionais da CUT, levou a solidariedade da Central ao movimento
“A mobilização do Sind-UTE é em defesa da educação e do Brasil. A determinação com que vocês estão encarando esta greve é referência para todos os que lutam por um país mais justo e desenvolvido”, afirmou João Felício, que representou a CUT Nacional no evento. Na avaliação do líder cutista, é inadmissível que uma lei amplamente debatida com o governo federal, votada pelo Congresso Nacional e que já deveria estar implementada, continue sendo solenemente descumprida pelo governo mineiro.
Para José Celestino Lourenço (Tino), secretário de Formação da CUT, o próprio lema da greve, “Quem luta também educa”, expõe um compromisso político e ideológico com a transformação, como ensinou Paulo Freire. “Esse compromisso é essencial para a construção de um modelo de desenvolvimento com justiça e inclusão social”, defendeu Tino, condenando a postura “insensível e desumana” do governo estadual.
Beatriz Cerqueira (Bia), coordenadora geral do SInd-UTE, durante a reunião do Comando de Greve, que antecedeu a assembleia desta quinta-feira
Conforme o Sindi-UTE, que representa 400 mil trabalhadores em educação (professores e funcionários de escola), a mobilização alcança os 853 municípios mineiros, com um nível de adesão superior a 50%, índice que demonstra o grau de indignação da categoria, mesmo enfrentando todos os abusos e atropelos de Anastasia.
Se pelo lado do desgoverno tucano sobram chantagens e ameaças, como o recente anúncio da contratação de mais doze mil professores para substituir os grevistas – antes já haviam sido anunciados três mil -, pelo lado dos trabalhadores sobra determinação, criatividade e ousadia.
Quando em visita ao Vale do Aço o governador montou um mega esquema repressivo para impossibilitar a aproximação dos grevistas, balões com faixas amarradas sobrevoaram o local, com vários deles descendo e causando visível constrangimento à entourage tucana. Quando decidiu suspender o pagamento aos grevistas, ao mesmo tempo em que manipulava a sua mídia para divulgar o isolamento da luta dos educadores, assembleias em portas de fábricas, das mais variadas categorias, começaram a pipocar e recolher milhares de reais para a compra de cestas básicas. Quando Anastasia anunciou a primeira contratação de três mil professores substitutos, em grandes escolas - como o Estadual Central de Belo Horizonte - os próprios estudantes liquidaram a fatura: aqui fura-greve não entra. Quando Anastasia formulou um desastrado e desastroso projeto de lei para institucionalizar o arrocho, a categoria organizou a sua queima simbólica, promoveu “banquetes da miséria” e também protestos com professores acorrentados.
Por mais ridículo que possa parecer, além de colocar policiais militares para reprimir manifestantes e acionar bombeiros para apagar o “incêndio” de queimas simbólicas do seu PL, o desgoverno tucano nada fez. Parece piada de mau gosto, mas não é.
Diante disso, a ação continua com ainda mais energia. Nesta sexta-feira (16),a partir das 18 horas, os trabalhadores em educação realizarão uma panfletagem na Praça da Liberdade durante a inauguração, pelo governador, do relógio da Copa do Mundo de 2014. Na oportunidade, o Sind-UTE voltará a cobrar a importância do investimento em educação e da valorização profissional como estratégicos para o desenvolvimento nacional e regional.
Às 14 horas da próxima terça-feira (20), no pátio da ALMG, acontece nova Assembleia Estadual. A previsão é que nesta data o projeto do governo para a educação seja votado no plenário da Casa.