Escrito por: ABCD Maior
No ABC paulista, indústria de móveis pode acabar em cinco anos
O setor moveleiro vive recessão há cerca de duas décadas. O que garante agora que o segmento vá alcançar o crescimento esperado pelo sindicato e por empresários?
O que garante é o espaço que temos para exportação. Atualmente vendemos nosso produto apenas para o Estado de São Paulo e para o Brasil. Queremos que o segmento retome a importância que teve há anos. A indústria foi abandonada pelos poderes públicos, que deram prioridade a outros setores da cadeia produtiva da Região, e o moveleiro ficou em segundo plano. As empresas também não se aprimoraram com as novas tecnologias. A indústria virou uma grande marcenaria com mão de obra desqualificada.
Qual avaliação que o senhor faz do setor moveleiro na Região?
Hoje nossa avaliação não é positiva. A cada ano, o setor diminui. Empresas fecham por não ter linha de crédito para comprar maquinário mais moderno. Existem empresas em situação bastante deficitária.
Com a crise financeira mundial, iniciada em meados de setembro de 2008, qual foi a reação do setor?
A CUT (Central Única dos Trabalhadores) nos orientou para dar prioridade à manutenção dos postos de trabalho. Nenhuma empresa, nem mesmo o sindicato patronal, procurou os trabalhadores para discutir medidas que incentivassem o setor e mantivessem os postos de trabalho. Simplesmente demitiram bastante. Mas agora estamos percebendo algumas novas contratações, mas isso não recupera o que perdemos nas últimas décadas. As indústrias moveleiras do ABCD perderam 50% da mão de obra, somente nos últimos 20 anos.
O que sindicatos e empresários do setor têm feito para reverter a situação pelo qual o segmento passa?
Não observei qualquer manifestação por parte dos empresários no sentido de tentar recuperar o setor. Foi criado um APL (Arranjo Produtivo Local) que conta com quatro empresas da Região, sendo que a grande maioria é de empresas da Capital, que estão preocupadas com os próprios interesses. Desde 2005, nossa sugestão é que façam cooperativas de compra de matéria-prima, porque uma coisa é você ter uma empresa que trabalha com produção pequena e outra coisa é uma junção de várias pequenas empresas para comprar tudo em um único local. Outra preocupação é a construção dos condomínios industriais, que precisa ser proposta pelo governo municipal. A ideia é apresentar essa proposta durante o seminário.
Por que o setor moveleiro não se desenvolveu bem no ABCD, sendo que as primeiras indústrias a se instalar na Região eram deste segmento?
O setor perdeu o foco de prioridade e o poder público deu atenção à cadeia metalúrgica. Outra questão é o fato de os empresários manterem ao longo dos anos a característica da indústria familiar.
Qual a importância do Seminário Regional do Setor Moveleiro, a ser realizado nos dias 25 e 26, tendo em vista a atual fase que o segmento atravessa?
A importância é o fato da gente fomentar no meio de empresários e trabalhadores a seriedade do setor para buscar alternativas, fazendo com que não deixe de existir futuramente.
Quais ações e medidas podem ser desenvolvidas por meio do seminário?
Estamos tentando construir um leque de propostas. Uma delas é criar um selo de qualidade do móvel produzido no ABCD. Outra questão é debater junto à sociedade a importância de adquirir um móvel vindo de uma indústria que prioriza o manejo sustentável da madeira. A sociedade está começando a se preocupar com o meio ambiente e o trabalho decente. Nossa expectativa é que seja um seminário bastante positivo em termos de propostas. Espero que o poder público, sindicato, empresários e trabalhadores saiam do evento com outras demandas e tarefas.
É possível prever como estará o setor moveleiro nos próximos anos?
Espero que o seminário possa nos trazer condições de manter a indústria moveleira na Região, que continue sendo um polo importante na fabricação de móveis, que possamos gerar mais postos de trabalho com qualidade e no futuro olhar para trás e pensar que o seminário ofereceu condições para melhorar o setor. Do contrário, se não fizermos nada, nos próximos cinco anos, não vamos ter mais empresas de móveis no ABCD. A Região, que já foi tida como a capital da indústria moveleira no Brasil, hoje é colocada em um posto insignificante.