Escrito por: Angélica Ferrasoli - CUT/SP
Encontro marcou nascimento da federação de sindicatos independentes daquele país
O presidente da CUT-SP, Adi dos Santos Lima, participou, de 28 a 30 de janeiro, da conferência para fundação da Federação dos Sindicatos Independentes do Egito (EFITU). Com as bandeiras de Liberdade e Justiça Social, o encontro foi realizado no Cairo e contou com a presença de sindicalistas do mundo árabe e Europa. Adi representou a entidade brasileira (CUT nacional), única participante da América Latina na conferência.
Realizado no mesmo período em que os egípcios comemoravam o primeiro ano de sua revolução – que encerrou uma ditadura de 30 anos presidida por Hosni Mubarak -, o encontro confirmou a liderança de Kamal Abu Aita, eleito presidente da EFITU, e discutiu questões políticas e econômicas a partir das perspectivas dos trabalhadores. Durante as três décadas de regime ditatorial, os sindicatos egípcios ficaram atrelados ao Estado, sem manifestações ou avanços significativos, o que faz com que as reivindicações, hoje, partam do patamar básico, como melhores salários e condições de trabalho.
“O mundo árabe vive uma profunda mudança em sua estrutura social, política e econômica. Existe uma busca pela liberdade e democracia diante das ditaduras e é despertado nos trabalhadores o direito de se organizarem e participarem da vida de seu país”, destaca o presidente da CUT-SP, Adi dos Santos Lima. Ele lembra que os mesmos princípios de liberdade e justiça social marcaram a criação da CUT, e que também houve períodos, na história brasileira, em que os sindicatos se alinhavam com o governo - como na era Vargas, quando foi criada a CLT. Ou seja, apesar de realidades culturais tão distintas, prevalece o mesmo desejo de mudança rumo a um estado democrático que respeite os direitos dos cidadãos e da classe trabalhadora.
Confira, abaixo, mais informações sobre o encontro no Cairo e as impressões do presidente da CUT sobre sindicalismo, política e cotidiano no Egito em transição:
Sindicalismo
“A federação independente, EFITU, nasce com uma plataforma de liberdade, democracia e independência dos partidos políticos e governo. A escolha de seu presidente, Kamal Abu Aita, foi unânime. E como os sindicatos da antiga federação eram todos atrelados ao Estado, hoje são muitas as demandas dos trabalhadores”
Reivindicações
“As demandas são muitas. A ditadura não fez investimentos na produção, e o setor têxtil acabou quebrando. Aconteceram privatizações, há grande mão de obra estrangeira (cerca de 25%) e atualmente é alto o número de desempregados. As condições de trabalho também são péssimas, falta até mesmo água e luz e as empresas atrasam o pagamento. Os trabalhadores querem aumento no salário mínimo e despertam para reivindicações que atendam a esse lado humano no trabalho. Neste momento, lutam pelo básico”.
Política
“A expectativa dos egípcios após a revolução (que completou um ano em 25 de janeiro passado) é de que até junho possam ser realizadas eleições diretas para a escolha do novo governo ( hoje o comando é de uma junta militar). A partir das eleições teriam início os trabalhos para a instalação de uma nova Constituição no País”.
Cotidiano
“Durante os dias em que estive no Egito aconteceram manifestações diárias em vários pontos centrais da capital, organizadas por estudantes e trabalhadores. Ainda há pessoas presas pela participação nos protestos que levaram à queda da de Mubarak e há muitos atos e palavras de ordem por sua libertação”.
Cultura
“O choque cultural para nós, ocidentais, é muito grande. Os egípcios valorizam sua cultura milenar, muito forte, e claro que isso chama a atenção. Há mulheres de burcas e homens de túnica; outras não a utilizam mais e muitos homens também usam ternos. O trabalho feminino ainda é minoritário, pelo menos nos setores de serviço a estrangeiros, como restaurantes e hotéis. Do ponto de vista social a impressão que se tem é que há muito a fazer, pois o poder aquisitivo é baixo e a distribuição de renda ruim”.