Escrito por: Clarissa Pont, Brasil de Fato

Plataforma da BP, que explodiu há 70 dias...

 

 Um dos maioresdesastres ecológicos da história americana está há 70 dias sem solução. Aplataforma da empresa British Petroleum (BP), que explodiu no Golfo do México ematou 11 trabalhadores, chega a liberar 2,5 milhões de litros de óleo por diano oceano. Fauna e flora marítimas da região foram devastadas e algumasespécies nativas podem ser extintas. De acordo com o Departamento de VidaSilvestre e Pesca da Louisiana, nos Estados Unidos, estão ameaçadas 445espécies de peixes, 134 de pássaros, 45 de mamíferos e 32 de répteis eanfíbios.

Milhares de pessoas tiveram as vidas destruídas, depois daexplosão da plataforma Deepwater Horizon. A British Petroleum afirma que temtrabalhado dia e noite para estancar o vazamento. No entanto, foi anunciadaesta semana, pela comunidade internacional de pesquisas colaborativasInnoCentive, que a petroleira acaba de recusar um documento com  908 possíveis soluções fornecidas pelacomunidade de cientistas, engenheiros e médicos do mundo todo. Além disso, a BPé acusada de ter sido negligente e mentir sobre a extensão da tragédia.

A explosão na plataforma de petróleo aconteceu em 20 deabril e não tem data para ser contida. O custo de limpeza do acidente jáalcançou os US$ 2,650 bilhões, informou a petroleira nesta segunda-feira (29)em seu site. O valor inclui as operações técnicas para conter o vazamento,assim como as indenizações aos estados do Golfo do México, nem todas pagas. Adespesa média nos últimos três dias de trabalho foi de US$ 100 mil, a maiordespesa diária desde o acidente. A BP recebeu mais de 80 mil pedidos depagamentos e indenizações, dos quais atendeu 41 mil.

A pior das notícias é que, enquanto você lê esta matéria, apoluição causada pelo vazamento de petróleo e gás do poço da plataforma daBritish Petroleum está se espalhando por meio de colunas abaixo da superfíciedo mar, o que representa um perigo ainda maior para a vida marinha na região.Segundo Samantha Joye, da Universidade da Geórgia, as concentrações de metanoda coluna que sai diretamente do poço são até 10 mil vezes maiores do que asnormalmente encontradas em desastre deste tipo, com consequências ainda nãosabidas sobre a fauna local. Algumas partes do Golfo do México já sãoconsideradas "zonas mortas" devido à poluição. As informações são daUniversidade Nacional de Brasília (UnB).

“É uma infusão de óleo e gás nunca vista antes, certamentenão ao longo da História humana”, disse Joye, acrescentando que só esta coluna temmais de 24 quilômetros de comprimento. Outra má notícia: é bem provável quecontinue jorrando petróleo do vazamento durante os próximos dois anos ou mais,se as tentativas de conter a tragédia continuarem falhando. As estimativas sãobaseadas em novos dados fornecidos pelo executivo-chefe da British Petroleum,Tony Hayward, durante sete horas de depoimento ao Congresso estadunidense naúltima quinta-feira (24).

Atualmente, trabalham na limpeza do acidente 39 mil pessoas,ajudadas por 5 mil cargueiros e 110 aviões. As altas ondas causadas pelatempestade tropical Alex devem atrasar os planos de aumentar a capacidade debombeamento do petróleo. A informação é de Kent Wells, vice-presidente deexploração e produção da BP.

Apesar de todos os indicativos, a Organização dos PaísesExportadores de Petróleo (Opep) tentou diminuir, nesta segunda-feira (29), aimportância do vazamento de combustível. "Não viemos aqui para condenar aBP pelo incidente", afirmou em Bruxelas o secretário-geral da Opep, AbdallaSalem El-Badri, ao término de seu encontro anual com a União Europeia.Acrescentou que é necessário esperar pela conclusão das investigações paradeterminar se o vazamento foi um erro humano ou uma falha no desenho daplataforma.

Silêncio ensurdecedor

Pessoas interessadas em auxiliar na busca de uma solução nãofaltam. Além das incontáveis organizações ambientais que estão atuando de formavoluntária na região do acidente, a BP recebeu na semana passada quase milidéias propostas por uma rede global de especialistas, a InnoCentive. Desde2006, a rede internacional de pesquisa colaborativa oferece desafiospatrocinados para seus mais de 200 mil "solucionadores". O grupo járesolveu questões complicadas para organizações como a NASA. Da prevenção datuberculose à limpeza de outro derramamento de petróleo, no Alasca, ospesquisadores já desenvolveram todo tipo de solução.  Uma das sugestões indica técnicas inspiradasna angioplastia para o desastre natural.

Quando o desafio foi lançado na InnoCentive, em 30 de abril,a rede testemunhou a resposta mais rápida da história da empresa. DwayneSpradlin se diz especialmente emocionado com a resposta, porque foi o primeiroproblema lançado sem que fosse oferecido patrocínio. "Este é o primeirodesafio que emitimos sem nenhum incentivo em dinheiro", desse Spradlin nosite da InnoCentive.  "Mais de milsolucionadores registrados alinharam uma enxurrada de telefonemas, e-mails epacotes via correio contendo diagramas e amostras de materiais alternativos”,conta.

No início de junho, a InnoCentive conseguiu conectar a BP,que parecia interessada na ajuda para desenvolver sensores remotos de petróleoe melhores tecnologias de coletagem. "Em 19 de junho, a BP finalmenterecusou a nossa ajuda alegando que seria muito complexa e onerosa. Respondemosque nossas idéias não custariam nada e, mesmo assim, a resposta da empresa foium ensurdecedor silencio”, conta Spradlin.

 (Com Agência EFE, The Guardian e Huffington Post)