Escrito por: André Accarini

Pedágios automáticos de Tarcísio avançam em SP prejudicando a população

Sem cancelas, pedágio Free Flow encarece trajetos e penaliza trabalhadores. Sistema também gera multas, encarece deslocamentos e revolta moradores e prefeitos de dezenas de cidades paulistas

Governo do Estado de São Paulo

O governador do estado de São Paulo, o bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos) vem praticando mais um abuso contra a população paulista. Em larga escala, ele vem implementando o sistema de pedágio automático conhecido como Free Flow (livre fluxo, em português). Embora vendido como avanço tecnológico e promessa de modernização, o Free Flow favorece motoristas de passagem que utilizam tag eletrônica, mas penaliza os usuários cotidianos das rodovias paulistas que dependem desses trajetos para trabalhar, estudar ou exercer atividades comerciais.

O modelo já está em funcionamento em alguns trechos, mas a gestão pretende ampliar a cobrança para dezenas de pontos de rodovias, alcançando regiões densamente povoadas como o Circuito das Águas e a Rota Sorocabana. Apenas nesta última já estão em andamento nove pórticos de pedágios.

De acordo com os contratos de concessão firmados pelo governo paulista, o projeto prevê a instalação de 37 pórticos de pedágios automáticos, com investimento de R$ 10 bilhões e prazo de concessão de 30 anos.

Ao todo, o governador anunciou a intenção de implementar pelo menos 58 novos pontos de cobrança no modelo Free Flow. Além disso, a gestão estadual já planeja a privatização de 533 quilômetros de rodovias em 31 municípios do Circuito das Águas, o que, na prática, significa a instalação de mais de 30 novos pedágios nessa região.

“O Free Flow é um mecanismo de arrecadação que, primeiro, pesa no bolso da população paulista, que já paga preços altíssimos nos pedágios; segundo, não garante que esses recursos retornem em melhorias efetivas nas rodovias, nem mesmo na segurança do trânsito”, avalia o secretário nacional de Transportes e Logística da CUT, Wagner Menezes, o ‘Marrom’.

O dirigente critica a instalação de mais pedágios nas estradas paulistas. “Não tem cabimento implementar mais pedágios, ainda por cima com um sistema sem transparência alguma. Esse pedágio automático transforma trajetos curtos do dia a dia em custos acumulativos, cobrando várias vezes por pequenas distâncias e ainda impondo multas a quem não consegue pagar pelo sistema confuso das concessionárias.”

Abuso

A implementação do Free Flow é vista por diversos setores como um sistema abusivo que transfere toda a responsabilidade para os usuários sem garantir informações adequadas.

“Apesar de o equipamento eletrônico ter utilidade para tornar as viagens mais rápidas, na prática ele se transformará em mais uma máquina de fazer dinheiro a favor do governo estadual. O interesse não é voltado ao cidadão”, diz Marrom.

A instalação dos pedágios Free Flow em São Paulo tem gerado forte reação social e política. Audiências públicas na Assembleia Legislativa reuniram prefeitos, vereadores e moradores para denunciar os impactos do sistema e alertar para o risco de transformar o pedágio automático em uma “indústria de multas”, mas o governo estadual não enviou representantes da Artesp, responsável pela regulação das concessões.

O deputado estadual Reis (PT), que protocolou o Projeto de Decreto Legislativo nº 6/2025 pedindo a suspensão da instalação dos Free Flow,criticou a forma como o governo estadual conduziu o processo.

“O governo pegou muita gente de surpresa e começou a aparecer rodovias que foram concedidas e, que nos contratos já havia previsão desses pedágios Free Flow. As pessoas não sabem o que é, acham que é radar e não tem uma campanha educativa. Aí, quando você vai licenciar o veículo, descobre que tem muitas multas para pagar”.

Até mesmo parlamentares da base do governador se posicionaram contra. O deputado Vitão do Cachorrão (Republicanos) questionou o impacto econômico para categorias que dependem da estrada.

“Nós não somos a favor desses pedágios. Como os caminhoneiros vão sobreviver? Terão que pagar para trabalhar. Imagina, estudantes que moram numa cidade e vão estudar na cidade vizinha. Absurdo. Somos contra mais pedágios, já pagamos IPVA, por que temos que pagar ainda mais pedágios?”

A vereadora de Serra Negra, Ana Bárbara Regiani Magaldi (União), afirma que é “ um ataque à mobilidade da nossa gente.” Já o vereador Paulo Volcov (Republicanos), de Araçariguama, destacou o impacto social.

“Isso não é um tema de direita e esquerda, isso é sobre o direito de ir e vir da população. Nós não estamos discutindo apenas o Free Flow, mas uma indústria de multas. Pessoas que não têm tanta informação, que não estão familiarizadas com a tecnologia vão receber muitas multas e prejudicará o orçamento das famílias”.

O deputado Carlos Giannazi (Psol) em suas redes sociais, lembrou que São Paulo é o estado com o maior número de praças de pedágios no Brasil. “E o governador ainda quer mais. O sistema Free Flow, a máquina de multas do pedágio sem cancela, já tem quase 10 mil motoristas endividados em menos de dois meses”, complementou o parlamentar.

A vereadora Paolla Miguel (PT), de Campinas, também criticou o sistema. “Serão 37 novos pontos de cobrança em várias rodovias que ligam nossa cidade a cidades vizinhas, principalmente no Circuito das Águas. Tem gente que hoje não paga pedágio que vai passar a pagar para fazer trajetos muito curtos”, disse.

Em vez de melhorar as estradas e oferecer transporte público de qualidade, o governo instala pedágios em todo canto, transferindo a conta para trabalhadores, estudantes e comerciantes- Wagner Menezes


As críticas

As críticas ao sistema Free Flow envolvem diferentes pontos:

Pressão popular contra o Free Flow

Em Sorocaba, a pressão popular obrigou o governador a reduzir de 13 para nove o número de pórticos previstos.

No dia 3 de agosto, moradores bloquearam a Rodovia Raposo Tavares (SP-270), no Mirante da Mata (KM 37), na região de Cotia, contra a criação de seis novos pontos de cobrança automática. Com cartazes como “Meu IPVA vai pra onde?” e “Metrô sim! Pedágio não!”, os manifestantes penduraram um boneco representando o governador Tarcísio de Freitas de cabeça para baixo, em ato simbólico de repúdio, acompanhado por um buzinaço de motoristas.

A Polícia Militar utilizou Tropa de Choque, bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo para dispersar o protesto, o que foi criticado por parlamentares e lideranças locais como repressão excessiva contra manifestações legítimas. Para críticos, além do peso financeiro, o sistema ameaça a mobilidade e o direito de ir e vir da população.

Imagem: Redes Sociais

Outros protestos também já foram realizados no litoral paulista e outros pontos como a rodovia Mogi-Bertioga, onde a população denuncia que o modelo transforma deslocamentos curtos e cotidianos em custos acumulativos, penalizando trabalhadores, estudantes e comerciantes locais.

“Quando a população protesta, a resposta desse governo é a repressão. Tarcísio não tem a menor hombridade de dialogar com a população. Ao contrário, manda a Tropa de Choque. Isso só confirma que o projeto não tem legitimidade social e serve unicamente aos interesses de um grupo político que não está nem um pouco preocupado com a população”, pontua Marrom, o secretário de Transportes e Logística da CUT.

Nas redes sociais, postagens reforçam as críticas a Tarcisio.

 

Pedaginhos pic.twitter.com/MhxKK5bn8b

— Malu (@mariarita4141) August 16, 2025

 

Como funciona o sistema

O pedágio Free Flow substitui as praças físicas por pórticos com câmeras e sensores que registram a passagem e cobram por distância percorrida. O pagamento pode ser feito via tag eletrônica, com desconto, ou manualmente em sites e aplicativos. Quem não paga em até 30 dias recebe multa de R$ 195,23 e perde cinco pontos na CNH. Na Rio-Santos, um único ponto gerou 1 milhão de multas em pouco mais de um ano. Em um mês, mais de 12 mil motoristas esqueceram de quitar a tarifa. Especialistas atribuem o problema à falta de informação clara e à dificuldade no pagamento manual.