Escrito por: Rosely Rocha

Partidos de direita querem barrar isenção do IR se golpistas não forem anistiados

Interesses políticos da oposição ao governo atrasam votação da isenção do Imposto de Renda em até R$ 5 mil. Parlamentares querem a anistia para Jair Bolsonaro e golpistas, prejudicando 20 milhões de brasileiros

Marcelo Camargo / Agência Brasil - arquivo
Invasão de golpistas no Congresso Nacional em 8 de janeiro de 2023

O projeto de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais, beneficiando numa escala quem tem renda de até R$ 7.350, vem sendo motivo de disputa política no Congresso Nacional em detrimento de 20 milhões de brasileiros e brasileiras que podem ter até R$ 4 mil a mais no bolso por ano, segundo cálculos do Departamento Intersindical de Estática e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Partidos de direita e oposição ao presidente Lula, especialmente o PL de Jair Bolsonaro, presidido por Valdemar da Costa Neto, vêm boicotando a pauta econômica do governo para forçar a anistia ao ex-presidente, condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 27 anos e três meses de prisão, aos seus aliados que tramaram o golpe de Estado e aos presos e processados pelos atos de 8 de janeiro de 2023, dia em que quebraram a Praça dos Três Poderes, em Brasília.

O deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), relator do projeto de anistia, que vem articulando com Michel Temer (MDB-SP) e Aécio Neves (PSDB-MG) uma forma de diminuir a pena dos golpistas e até mesmo promover a anistia, disse nessa quarta-feira (24), que a votação do tema pode impactar diretamente o andamento da proposta de isenção do Imposto de Renda. O que a bancada do Partido dos Trabalhadores (PT) discordou totalmente após uma reunião com o deputado.

Numa coletiva de imprensa Paulinho da Força afirmou que “se não votar isso, não vai votar IR”.

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), no entanto, marcou a votação do projeto de isenção para a próxima quarta-feira (1º), mas diante da pressão da oposição não se tem 100% de garantia da sua aprovação ou até mesmo da sua votação. Para alguns parlamentares de direita, a isenção do imposto de renda pode beneficiar Lula nas eleições presidenciais do ano que vem.

Senado e Câmara caminham em lados opostos sobre isenção do IR

O projeto de isenção do IR que tramita na Câmara foi enviado em março pelo presidente Lula e prevê a taxação dos chamados "super-ricos" de forma progressiva, chegando a 10% para quem ganha mais de R$ 1,2 milhão por ano para que haja uma compensação à perda da arrecadação com a isenção, calculada em torno de R$ 25 bilhões.  A alíquota não valerá para quem já paga 27,5% de IR.

O relator do projeto, o deputado Arthur Lira (PL-A) apresentou seu relatório em que praticamente seguiu a proposta do governo. No entanto, o próprio Lira afirmou que será preciso “muitos debates” antes de ir à votação.

Já a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou, na quarta-feira um outro projeto de isenção do imposto de renda até R$ 5 mil, de autoria do senador Eduardo Braga (MDB-AM), que tramitava por lá. O relator do projeto na Casa, Renan Calheiros (MDB-AL) disse que a decisão foi uma resposta à demora da Câmara dos Deputados para votar a proposta do governo federal.

O analista do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), André Santos explica a tramitação e as disputas políticas entre Calheiros e Lira que levaram a CAE do Senado a se antecipar à Câmara. Ambos foram eleitos pelo estado de Alagoas e são inimigos políticos.

“Existe uma rivalidade entre os dois no estado e a relatoria da isenção do imposto de renda caiu para os dois [um na Câmara e outro no Senado] e um quer se sobressair em cima do outro. Agora com o comportamento um pouco mais arredio da Câmara em votar pautas que na leitura da oposição podem beneficiar o governo, não importando se beneficia a sociedade, Renan se antecipou, tendo uma dimensão maior dentro da mídia por ter aprovado a isenção do imposto de renda”, diz André Santos.

Aprovação pelo Senado não garante a isenção do IR

Pelo regulamento do Congresso Nacional o projeto aprovado pela CAE vai diretamente para a Câmara Federal sem precisar passar por votação no plenário do Senado, a não ser que haja alguma contestação em cinco dias úteis.

O analista do Diap explica que os textos do governo federal e do senador Eduardo Braga são muito semelhantes, mas para o do Senado passar a valer precisa passar pelo relator da Câmara, que é Arthur Lira.

“São várias possibilidades. Lira pode rejeitar ou pegar o projeto do Senado, apensar ao de Lula; aprovar só o projeto do governo ou ainda deixar o projeto do Senado tramitando por lá, sem nenhuma alteração, nem nada, ou ainda pegar aquele projeto do governo e encaminhar para o Senado”, diz André Santos.

Se o Senado fizer alguma alteração ao projeto do governo, ele volta para a Câmara dar a palavra final. Se por um acaso Lira aprovar o projeto do Senado, com alterações, ele volta para o Senado dar a palavra final. Lira também pode aprovar o projeto do Senado do jeito que está para ir à sanção, ou ele rejeita e manda o projeto do Poder Executivo para o Senado avaliar as alterações que ele fez”.

“Regimentalmente são filigramas do processo, mas o pano de fundo é essa disputa política regional que está em jogo”, conclui o analista do Diap.