Escrito por: Rosely Rocha
Para secretário Transportes e Logística da CUT Brasil, Wagner Menezes, o Marron, a privatização e a terceirização de trabalhadores do metrô são os motivos principais das causas de acidentes
Operada pela concessionária Via Quatro, pertencente ao grupo Motiva (antiga CCR), a linha 4- Amarela do metrô da capital de São Paulo, que liga as estações Luz e Vila Sônia e, que transporta em média 700 mil passageiros por dia, teve mais uma falha em seu sistema, provocando o caos para milhares de pessoas que não conseguiram chegar a tempo em seus destinos, na manhã desta terça-feira (21).
Na estação Vila Sônia (zona sul) as catracas foram fechadas por mais de uma hora, provocando imensas filas e tumultos. Somente após seis horas de caos, os trens voltaram a circular e a situação foi regularizada.
Segundo relatos nas redes sociais, o problema teve início por volta das 4h40 e nenhum trem chegou às plataformas. As falhas operacionais fizeram com que fossem canceladas as transferências para as linhas República (linha vermelha, que liga a região oeste a leste, passando pelo centro); a Luz (linha azul que corta as regiões norte a sul e faz transferência para linhas de trens da CPTM)) e Paulista e Pinheiros (amarela que ligam com a linha verde e os trens da CPTM).
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Privatiza que piora
As falhas no metrô, acidente nas vias e nas linhas têm sido causadas por falta de operador, falta de logística do próprio metrô, denuncia o secretário Transportes e Logística da CUT Brasil, Wagner Menezes, o Marron.
“Tudo o que vai privatizando, vai mudando e além da privatização, temos a terceirização também dos trabalhadores do metrô. A computação de alguns trens, a robotização, vêm trazendo alguns danos também para a população. A falta de energia acaba atrapalhando, e não podemos esquecer dos temporais em São Paulo que afetam primeiramente o metrô”, conta Marron.
É preciso que os governos pensem melhor a questão do transporte sobre trilhos, não só o metrô, mas também o trem, porque, privatizar, terceirizar, quarteirizar não é a solução do problema do transporte- Wagner Menezes (Marron)Ele conta que, segundo relatos de funcionários do metrô e da direção do sindicato dos metroviários, que o diálogo com o governo do estado e com a direção do metrô já estava difícil, agora ficou muito pior. E a tendência é piorar a cada dia.
“Precisamos criar maneiras de dialogar também com a sociedade para saber onde nós estamos errando. E quando eu digo nós, não é só o governo do estado, é nós enquanto população também. Então precisamos saber onde estamos errando, de que maneira nós podemos ajudar e como a Central União dos Trabalhadores vai poder ajudar também nesse debate com a sociedade e com a população. Precisamos urgentemente fazer um debate e mostrar que quem está perdendo com isso é a população do estado de São Paulo”.
Sucateamento como forma de apoio à privatização
Em março deste ano, a CUT, a CTB e sindicatos debateram a privatização dos trens e metrôs de São Paulo que se tornou uma das principais agendas do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos). Contudo, sem apoio popular para avançar com esse projeto, adotou-se a estratégia de sucatear os serviços, como destacaram os sindicalistas participantes que falaram sobre a eficiência a ameaça ao acesso ao transporte sobre trilhos.
O sucateamento parte do princípio de cortar investimentos públicos e redução de trabalhadores, de forma a piorar as condições de serviço e aumentar o número de reclamações por parte dos usuários. Como solução, o governo diz que a transferência do serviço para a iniciativa privada é o que será capaz de apresentar melhorias.
O secretário Transportes e Logística da CUT Brasil, falou sobre a tentativa de enfraquecimento dos sindicatos como uma das estratégias do governo estadual e das empresas privadas que operam os serviços de transportes.
O dirigente contou que a busca pela divisão da base passou a ser fortemente patrocinada. “Isso começa quando deixam de realizar concursos para contratar trabalhadores. Depois terceirizam serviços com diferentes empresas que alta rotatividade de trabalhadores que, por consequência, são mais difíceis de mobilizá-los. Também sufocam as entidades sindicais, retirando suas sedes e entrando com processos judiciais. O governo, agora, tem mirado dirigentes sindicais afastados para cumprirem seus cargos nos quais foram eleitos, e os fazendo retornar às suas bases, o que é uma prática antissindical”, afirmou Marron.
Dinheiro público para empresas privadas
A concessionária juntamente com a ViaMobilidade recebeu R$ 2 bilhões para transportar cerca de 500 milhões de passageiros em 2022. Enquanto isso, Metrô e CPTM (públicas) carregaram mais que o dobro — 1,23 bilhão de passageiros — mas ficaram só com R$ 460 milhões no mesmo período. Os dados foram obtidos e divulgados pelo UOL em novembro de 2023 e até hoje as linhas privadas recebem mais verbas do que as públicas.
Em setembro, a Viaquatro terá direito a novo reequilíbrio financeiro do contrato de concessão, conforme definido pelo Governo do Estado de São Paulo, no valor de R$ 531,7 milhões devido atrasos na fase 2 da obra, de responsabilidade do governo paulista.
Acidentes
Em janeiro de 2007, durante a construção da estação Pinheiros, sete pessoas morreram soterradas (funcionários, um cobrador, um motorista de ônibus, passageiros e pedestres) e engoliu veículos. A tragédia aconteceu após a abertura de uma cratera de 80 metros de diâmetro na Marginal Pinheiros. Dez anos depois, em 2017, a justiça inocentou os 14 réus, denunciadas por falhas na condução das obras. Eram engenheiros, funcionários do metrô e de empreiteiras.
Em setembro deste ano ocorreu um descarrilamento na linha amarela, chegando a partir ao meio uma composição do trem. Felizmente, desta vez, não houve vítima. O acidente foi na altura da estação São Paulo-Morumbi, num trecho em que equipes trabalhavam no local para reconstruir trilhos e reparar estruturas de concreto danificada.
Na ViaMobilidade, que opera a linha 5-Lilás de metrô e as linhas da CPTM 8 -Diamante e 9-Esmeralda, também apresenta acidentes e falhas.
O mais grave aconteceu em maio deste ano, quando o passageiro Lourivaldo Ferreira Silva Nepomuceno, morreu após ficar preso entre o vão e a porta da plataforma da Estação Campo Limpo da linha 5-Lilás. As estações que estão sob o comando da concessionária não tinham sensores de presença, que evitam esmagamento, no espaço onde a vítima ficou presa, ao contrário das linhas administradas pelo governo estadual. Após a morte do passageiro que a ViaMobilidade começou a instalar sensores de segurança.