Escrito por: Luiz Carvalho

Para honrar história de luta, Sindicato dos...

Em evento, trabalhadores citam realização de desejo antigo e já convocam para assembleia neste domingo (28)

Vasconcelos, presidente do Sindicato dos Gráficos de São Paulo, assina a filiaçãoArtur, Adi Lima (presidente da CUT-SP) e Vasconcelos durante cerimônia de filiação
Em 1922, 10 anos antes de as mulheres conquistarem o direito ao voto no Brasil, o Sindicato dos Gráficos de São Paulo (Stig) já definia em seu estatuto que as trabalhadoras poderiam votar e serem votadas. No ano seguinte, uma greve de quase 50 dias fez com que a instituição fosse a primeira a arrancar um acordo coletivo nas Américas.

Uma organização com passagens históricas como essa certamente não poderia estar em outra central sindical senão a CUT. E foi o sentimento de retomada do caminho construído a partir de 1919, ano de fundação do Stig, maior sindicato de gráficos da América Latina, com 50 mil trabalhadores na base e 17 mil filiados, que marcou a cerimônia.

“Somos herdeiros de pessoas que sofreram muito para construir nossa história. Por isso, temos orgulho de estar hoje aqui”, disse Marcio Vasconcelos, presidente da entidade. 

Presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores, Artur Henrique, lembrou o que faz da CUT a maior do Brasil e a quinta maior do mundo. “Não somos maiores apenas porque temos mais sindicatos filiados, mas, principalmente, porque os trabalhadores reconhecem o trabalho dos nossos sindicatos, de nossos militantes, e os enxergam como um exemplo na defesa dos interesses da classe trabalhadora, acima de qualquer coisa.”

Liberdade e democracia
Após lembrar que o Stig chega à CUT no mesmo mês em que a Central completa 28 anos e a Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat) celebra 30 anos de sua realização, Artur citou uma das principais bandeiras cutistas: a liberdade e a autonomia sindical.

“Infelizmente, no movimento sindical brasileiro ainda não há respeito à decisão dos trabalhadores para que escolham livremente, sem ameaças e ataques morais ou físicos, quem eles querem que os representem”, ressaltou.

Ele faz referência aos ataques violentos da Força Sindical ao sindicato após a decisão de desfiliação, que chegou a impedir a realização de um assembleia da categoria marcada para o dia 13 de agosto. “Houve invasão efetiva de nosso sindicato, agressão a diretores.”

E as ameaças continuam. “Tive a infelicidade de ver muitos diretores trêmulos por conta da pressão, ameaças à família”, indica Leandro Rodrigues, presidente do sindicato cutista dos Trabalhdores nas Indústrias Gráficas de Jundiaí.

“Tem sido questão de honra para o presidente da outra central nos atacar. Ele disse a um dos nossos diretores que primeiro faria nossa destruição moral e depois física.  A física não deu resultado, agora tentam nos desqualificar, desqualificar quem está conosco”, acrescentou Vasconcelos.

Segundo ele, há ameaças de agressão na porta das empresas por parte de pessoas que seriam ligadas à outra central. Ações que apenas não são colocadas em prática, conta, porque os trabalhadores gráficos estão efetivamente ao lado direção. “Mas, ao mesmo tempo precisamos mostrar para ele que existe gente séria no movimento sindical e que estamos consolidando um trabalho que fazemos há muito tempo. Temos orgulho de ser trabalhadores, de ser sindicalizados.” 

Campanha salarial –Rodrigues acredita que o primeiro passo é garantir o processo de transição. Para isso, convocou a solidariedade da militância cutista. “Precisamos de muitos militantes para acompanhar e garantir a realização da assembleia de domingo (28), da campanha salarial. Porque eles vão querer tumultuar para não ter discussão. Mas, eu não tenho dúvida de que, ao consolidarmos esse processo, teremos um efeito dominó e que outros sindicatos virão porque irão superar o medo da represália.”

A assembleia acontece a partir das 9h, na sede do sindicato, na rua da Figueira, 233, Parque Dom Pedro II, região central de São Paulo.

Democracia e enfretamento
O presidente do Stig diz que a mudança para a CUT era uma demanda da base há muitos anos. Principalmente, pela diferença de concepções. “Existe distância na nossa história, que construímos no início do século passado com os anarquistas do Brasil, enquanto a Força Sindical foi construída pelo patronato incomodado com a CUT, na década de 1980. Por conta disso, começamos a ter dificuldade no convívio, em defender as bandeiras que eles defendem até hoje. O que fechou esse pacote foi a questão do imposto sindical. Quando estávamos chegando à comemoração do 1.º de Maio deste ano na Marques de São Vicente, ouvimos o Paulinho (presidente da Força) dizer que quem era contra o imposto era contra o movimento sindical. Isso criou desconforto e nem chegamos a subir no palco. A única celebração contra o imposto foi a da CUT e isso ajudou em nosso debate interno e a decidir qual caminho deveríamos seguir”, contou.

Também presente no encontro, o presidente do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, José Augusto Camargo, indicou outro aspecto importante no ingresso do Stig: o fortalecimento do ramo da comunicação dentro da central. “Ainda é algo que precisamos ampliar na CUT.”

Por fim, Artur acredita que o enfrentamento não se restringe a esse momento de consolidação. “É um prazer enorme fortalecemos nossa estrutura com um sindicato que tem uma história tão forte de luta e resistência. Mas, esse é apenas o início de um período de enfrentamento e disputas para estabelecer uma nova estrutura sindical verdadeiramente democrática.”