Escrito por: Rosely Rocha

Oposição a Lula quer ajuste das contas públicas nas costas do trabalhador

Parlamentares da oposição se articulam para derrubar proposta do governo de taxar os mais ricos para aumentar a arrecadação e equlibrar as contas públicas, mas acenam com cortes nos benefícios sociais

Roberto Parizotti (Sapão)
Presidente da CUT Sergio Nobre defende taxar os mais ricos

“Ajustar as contas públicas nas costas dos trabalhadores e das trabalhadoras confirma, mais uma vez, que a oposição no Congresso Nacional cede às pressões e atende aos interesses de empresários e banqueiros, os detentores de grandes fortunas, que não querem pagar impostos”, afirma o presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre. O dirigente aponta que há uma pressão dos parlamentares de oposição ao governo Lula para que esse ajuste seja feito a partir do “enxugamento” de benefícios sociais, ou seja, de livrar os mais ricos.

"Eles usam a narrativa de que não querem a criação de mais impostos, mas não assumem nem explicam à sociedade que não querem mais impostos somente para os ricos e super-ricos", analisa.

Essa concentração de riqueza, afirma Sérgio Nobre, vem também da não taxação dos lucros e dividendos.  E é importante que seja feita. "Quando é feita a negociação de PLR (Participação de Lucros e Resultados), o trabalhador paga imposto de renda e o acionista não paga”, ressaltou o presidente nacional da CUT, ao destacar que quanto mais o sistema tributário de um país tem a carga tributária focada no consumo e na produção, mais injusto é o sistema.

A oposição vem indicando que quer cortes nos gastos governamentais como no Benefício de Prestação Continuada (BPC), no seguro-defeso e no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), entre outros, mas sem mexer nos benefícios e isenções fiscais dos empresários que chegaram a R$ 523,7 bilhões no ano passado. Um estudo da Unafisco revela que R$ 271,7 bilhões são entregues sem que haja contrapartidas. Isso significa que 51,88% das renúncias que o governo concede não se pagam.

Na quarta-feira (11) os líderes do PP e do União Brasil, partidos que têm quatro ministros na gestão do presidente Lula, acenaram que votarão contra a MP do governo. Eles divulgaram uma nota em que dizem que a solução para a questão fiscal é o corte de gastos do governo nos recursos destinados ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Eles também sugeriram a reforma do arcabouço fiscal, com retorno das sanções e perseguição do centro da meta fiscal; reversão sobre o que chamam de déficits das empresas estatais; reforma administrativa; “racionalização” dos concursos públicos (o que pode ser entendido como suspensão dos concursos) e desvinculação dos recursos da saúde e educação.

O presidente Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos), defende o corte de gastos, mas apresenta projeto que permite acúmulo de aposentadoria com salário e cria gratificação para ex-deputados. Em nenhum momento, a oposição acenou com a possibilidade de cortar o valor das emendas parlamentares, que atualmente está na casa dos R$ 52 bilhões. Ou seja, mais uma vez a bancada conservadora do Congresso quer que os trabalhadores, as trabalhadoras e a população vulnerável paguem pelo ajuste fiscal.

Já o governo federal quer taxar os mais ricos para estancar o déficit estimado neste ano em R$ 20 bilhões. Nesta quinta-feira (12), Hugo Motta disse que vai acelerar a votação para derrubar o decreto presidencial sobre o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Saiba mais abaixo.

Para Sérgio Nobre, é fundamental que a classe trabalhadora se una em torno da proposta da taxação dos super-ricos, com os pobres pagando menos impostos para que haja maior justiça social, que é uma das lutas da Central Única dos Trabalhadores.

“No Brasil os ricos praticamente não pagam impostos. Quem paga mais é o trabalhador com carteira assinada, que, dependendo do salário, chega a ter 27,5% retidos para pagar o imposto de renda. Ele não sonega, paga na fonte. O autônomo pode até não pagar, mas não tem direito algum. O rico paga em média apenas 2%, o que é praticamente nada”, diz Sergio Nobre.

No Brasil, as cinco pessoas mais ricas têm a mesma renda que as 100 milhões, que representa quase metade da população do país, segundo relatório da Oxfam, organização britânica que monitora a desigualdade no mundo.

Proposta do governo federal

O governo Lula encaminhou, nesta quinta-feira, ao Congresso Nacional uma Medida Provisória (MP) que padroniza a tributação sobre aplicações bancárias. A matéria precisa ser votada por senadores e deputados até 28 de agosto. O governo espera arrecadar R$ 10,5 bilhões com as mudanças em 2025 e R$ 20,6 bilhões em 2026.

Segundo o ministro Fernando Haddad, só 0,8% da população está afetada por todas as medidas de equilíbrio fiscal e redução da renúncia tributária, o que deve gerar mais crescimento, menos taxa de juros, mais emprego, mais igualdade e permitir mais espaço para investimento.

Entre as medidas anunciadas estão:

Aumento da tributação sobre as bets de 12% para 18% sobre a receita líquida (GGR). A medida só vale daqui a 90 dias e não afeta o apostador.

Portadores de títulos de crédito (Letras de Crédito Imobiliário e Agronegócio) passam a pagar 5% de imposto de renda (hoje são isentos, ao contrário dos assalariados) . De acordo com o ministro Fernando Haddad, hoje, são 41 bilhões de reais em renúncia fiscal para os títulos isentos. “É mais que o seguro desemprego inteiro. É do tamanho do PAC. São três farmácias populares”, disse.

Os donos das fintechs (empresas como Nubank, Neon e Pagseguro) passam a pagar 15% ou 20% de contribuição sobre o lucro líquido, a mesma alíquota que hoje é cobrada dos bancos tradicionais.

Redução do IOF para empresas: o governo recuou em parte do aumento feito em maio ao reduzir a alíquota fixa do IOF (incidente na contratação dos empréstimos), de 0,95% para 0,38%. A alíquota diária, entretanto, foi mantida em 0,0082%. Antes da elevação, era de 0,0041% ao dia.

Redução do IOF sobre operações de risco sacado. O governo deixou de cobrar a alíquota fixa (incidente na contratação do crédito) de 0,95%. Mas manteve a alíquota diária em 0,0082%, o que, segundo o Ministério da Fazenda, significa redução de 80% na tributação do risco sacado.

Redução da tributação sobre seguros do tipo VGBL, forma de previdência privada usada por milhões de brasileiros: o IOF nos aportes em VGBL passa a incidir somente sobre o valor que exceder R$ 300 mil, considerados a partir da data de entrada em vigor do decreto, e em uma mesma seguradora. A partir de 1º de janeiro de 2026, o IOF nos aportes em VGBL passa a incidir sobre o valor que exceder R$ 600 mil.

Aumento da tributação dos juros sobre o capital próprio (JCP), de 15% para 20%. O JCP é um mecanismo utilizado pelas empresas de distribuição de lucros alternativa aos dividendos (que são isentos de imposto). O tributo é deduzido na fonte, ou seja, o acionista já recebe os valores de JCP descontados do imposto. A medida vale a partir de 2026.

Mudanças no Imposto de Renda sobre investimentos. A taxa proposta é de 17,5% em aplicações financeiras; hoje, a taxa é de 15% a 22,5% dependendo do prazo.  A medida vale somente a partir de 2026.

Haverá a inclusão no piso constitucional de investimentos na educação do programa Pé-de-Meia, que paga atualmente paga R$ 200 ao mês para estudantes que frequentam o ensino médio na escola pública, para que a verba do programa esteja garantida.

Oposição faz da Câmara um circo

Na tarde de quarta-feira (11/6) deputados da extrema direita desrespeitaram o ministro da Fazenda Fernando Haddad ao fazerem perguntas durante uma audiência na casa. Ao questionarem o ministro, os deputados Nikolas Ferreira (PL-MG) e Carlos Jordy (PL-RJ) falaram em uma "gastança" do governo Lula.

Eles, no entanto, não esperaram a resposta do ministro e deixaram a sessão. Haddad criticou que os deputados não estavam presentes para ouvir a réplica, o que ele classificou como "molecagem".

“Agora aparecem dois deputados, fazem as perguntas e correm do debate. Nikolas sumiu, [perguntou] só para aparecer. Pessoas falaram, agora tenha maturidade. E corre daqui, não quer ouvir explicação, quer ficar com o argumento dele. Não quer dar chance de o diálogo fazer ele mudar de ideia. Esse tipo de atitude não é boa, venho aqui para debater. Esse tipo de atitude de alguém que quer aparecer na rede e some. É um pouco de molecagem, e isso não é bom para a democracia", disse o ministro

Ao saberem da resposta do ministro os deputados voltaram à sala e começou uma discussão, fazendo com que a audiência fosse encerrada.

Em sua rede social o Haddad defendeu a proposta governamental, e de que é preciso uma abertura de um diálogo com o Congresso Nacional.

Nós estamos provocando o morador da cobertura a pagar o condomínio.
Ter sua justa participação. pic.twitter.com/fCL9fB5CPt

— Fernando Haddad (@Haddad_Fernando) June 11, 2025

 

 

 Com informações do G1