O pesquisador dos Estados Unidos MiguelCarter, professor da School of International Service da American UniversityWashington DC, afirmou que a luta do MST pela Reforma Agrária contribui para ademocratização da sociedade brasileira, nesta sexta-feira (19/3), em São Paulo.“O MST tem contribuído muito para fazer avançar a democracia no Brasil”,sustentou.
Segundo ele, a superação da elevadadesigualdade social no país é um pré-requisito para o seu desenvolvimento. “Agrave e extrema desigualdade social atrapalha o crescimento econômico e ademocracia”.
Para o acadêmico, o movimento vemforjando uma cidadania consciente ao organizar os trabalhadores rurais paralutar por seus direitos. “Quando o MST se mobiliza por justiça social,representa uma força vitalmente democrática”.
Carter, que nasceu no México e passou ainfância no Paraguai, está no Brasil para o lançamento do seu livro “Combatendoa desigualdade social – o MST e a Reforma Agrária no Brasil”, que é consideradaa obra mais atual sobre a questão agrária no país.
Também participaram do lançamento dolivro o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), o integrante da coordenação nacionaldo MST Neuri Rossetto, e o coordenador da Cátedra de Educação do Campo eDesenvolvimento Territorial - criada a partir de parceria da Unesco com aFaculdade de Ciências Tecnológicas (FCT) da Universidade Estadual Paulista -Bernardo Mançano.
O livro organizado por Carter contoucom a participação de 18 colaboradores, especialistas em movimentos sociais equestão agrária, da Europa, dos Estados Unidos e de vários países da AméricaLatina.
Mançano avaliou que o MST é “um dosmaiores movimentos sociais do mundo”, que tem características extremamenteoriginais. Segundo ele, metade dos camponeses se fixou no campo por conta daReforma Agrária. “O êxodo rural teria tido um impacto social muito maior sem aluta pela terra”, concluiu.
Segundo ele, que coordena o Núcleo deEstudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária (Nera), mais de 300 milhões dehectares não foram classificados no censo agropecuário do IBGE e podem serconsiderados grilados, sob controle de empresas transnacionais. “A luta agoranão é só contra o latifúndio, é contra o agronegócio”, afirmou.
O senador Eduardo Suplicy manifestousolidariedade ao MST e afirmou que “uma das raízes principais da desigualdadede renda é a desigualdade de riqueza e terra”. Ele contou também que na sessãoda semana passada na CPMI contra a Reforma Agrária os representantes dasentidades do campo demonstraram como os assentamentos tiveram uma série deprogressos.
Neuri Rossetto, do MST, afirmou que opaís tem uma economia voltada para o mercado externo, que vem aumentando adesigualdade social e alimentando o processo de criminalização dos movimentossociais que lutam pela Reforma Agrária.
“Mesmo com todo o desenvolvimento datecnologia na agricultura, não foi resolvido o problema da fome no mundo”,registrou Rossetto. No final do ano passado, o número de pessoas passando fomeno mundo ultrapassou um bilhão, de acordo com a FAO.
Além disso, ele comparou o modelo doagronegócio à forma de produção anterior à abolição, quando a tecnologia maisavançada na agricultura à época funcionava na base do trabalho escravo.
Para o dirigente do MST, acriminalização dos movimentos sociais alcançou um novo estágio. Emboracontinuem as mortes e prisões, os inimigos da Reforma Agrária tentam “impedirque façam ações e conquistem políticas públicas, excluindo-os do cenário da política”.Com isso, o dirigente do movimento afirma que buscam também criar condiçõespolíticas para a repressão física.
“O nosso desafio é motivar a sociedadepara a luta política pela Reforma Agrária”, projetou. “O trabalhadores ruraissem-terra não vão lograr sozinhos a desconcentração da propriedade fundiária”.
Rossetto apresentou quatro pontos daproposta do MST para a agricultura: prioridade à produção de alimentos para omercado interno, garantia da soberania alimentar, um modo de produçãosustentável (chamado de agroecologia) e a agroindustrialização cooperativada.