Morre o companheiro Carlúcio Castanha, ex-secretário-geral da CNM

E com pesar que a Confederação Nacional dos Metalúrgicos comunica que nesta madrugada faleceu o companheiro Carlúcio Castanha, ex-diretor da CNM/CUT. Carlúcio foi da direção da Confederação desde a sua fundação, em 1992 até 1998 e chegou a ocupar a secretaria-geral da CNM.

Carlúcio enfrentava vários problemas de saúde e estava na fila por um transplante de coração. Ao conseguir um doador, infelizmente não resistiu a operação.

O corpo será velado no MTC - Movimento dos Trabalhadores Cristãos (antigo ACO) - rua Gervásio Pires, em Boa Vista - Recife/PE.

Ainda não há informações sobre o horário e local de sepultamento.

 

Memória:

Encontro do presidente Lula com um velho amigo metalúrgico

Em junho de 2006, o presidente Lula abriu um espaço na agenda presidencial para lembrar o Lula metalúrgico. Durante 40 minutos, suspendeu uma agenda política com os pré-candidatos ao governo do estado e deputados para encontrar Carlúcio Castanha, amigo dos tempos de dureza no ABC Paulista. Eles trabalharam na mesma montadora de veículos e participaram da fundação da CUT e do PT, no final dos anos 70 e começo dos 80. Carlúcio, que mora no Recife, enfrenta sérios problemas cardíacos e espera na fila por um transplante de coração.

 

Lula telefonou para o companheiro quatro dias antes da chegada a Pernambuco. Surpreso com o convite, o ex-operário ignorou as restrições dos médicos, que tentaram vetá-lo de emoções mais fortes. Os dois tomaram café da manhã na suíte presidencial de um dos melhores hotéis da capital pernambucana. "Quando eu entrei, chamei ele de presidente. Ele respondeu: 'presidente o que? A gente é peão' e me abraçou. Foi um papo de dois metalúrgicos", contou.

 

Os dois só relembraram os tempos da CUT e do início do PT. "Já arengamos muito e estivemos em lados contrários", conta Carlúcio. Só não falaram de outra paixão em comum, o Corinthians. Carlúcio está proibido pelos médicos de assistir aos jogos, especialmente agora, que o time está na zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro.

 

Homenagem a Carlúcio

 

Leia abaixo, o depoimento do amigo Gilberto Ferreira da Costa:

 

Eu estive com ele em Recife recentemente, era noite do dia 11 de março passado, não faz nem um mês. Comemos queijo assado, tomamos café e conversamos sobre o Brasil, a luta, falamos bastante da oposição metalúrgica de São Paulo e do projeto do IEEP para resgatar a historia deste movimento. Falamos do PT, o Governo Lula, a esquerda no Brasil e em particular daquela esquerda católica dos anos 70 e 80, falamos da JOC (Juventude Operária Católica) e falamos da experiência do Carlúcio no tratamento do seu problema cardíaco: ele virou um especialista no assunto.

 

Uma pessoa muito querida do Carlúcio estava presente, mas ficou pouco com a gente, senti que queria deixar a gente aproveitar aquele momento. Foi um momento muito gostoso, rimos bastante, ele tinha deixado queimar o feijão, peguei no pé dele porque ele é bom cozinheiro, mas num dado momento choramos, não teve jeito. O Carlúcio tinha plena consciência do que podia acontecer, me explicou os detalhes de como deficiência de um órgão vai contribuindo para deteriorar os demais e como o tempo é um fator decisivo nestes casos.

 

Fico muito triste em ter que dar este Adeus a um cara como o Carlúcio que vai fazer tanta falta para as novas gerações de lutadores. Ao mesmo tempo tenho um sentimento de alegria profundo por ter compartilhado da luta ao lado de um companheiro como o Carlúcio e de ter tido o privilégio de estar com ele na "Batalha da Rua do Carmo", nas assembléias do sindicato dos metalúrgicos de São Paulo enfrentando a pelegada, fico contente por ter tido este privilégio de ter estado com o Carlúcio aquelas horas, de sentir como ele via com tanta emoção toda a luta que temos pela frente para mudar o Brasil, para conquistar mais dignidade para o nosso povo.

 

A luta continua!

Gilberto