Escrito por: Redação CUT

Morre Dom Angélico, voz ativa das lutas sociais e amigo do presidente Lula

Bispo Dom Angélico teve forte atuação na defesa dos direitos humanos, em especial durante os anos de chumbo da ditadura militar no Brasil

Roberto Parizotti/CUT

Um dos maiores líderes religiosos do Brasil, Dom Angélico Sândalo Bernardino, morreu nesta terça-feira (15), aos 92 anos. Ele faleceu na residência dos padres Toninho e Antônio Leite Barbosa Júnior, onde vivia recluso nos últimos anos, na Vila Zat, no distrito de Pirituba, zona norte de São Paulo.

Dom Angélico era bispo emérito de Blumenau, Santa Catarina, e um dos melhores amigos do presidente Lula (PT), desde as grandes greves dos trabalhadores metalúrgicos do ABC Paulista, na década de 1970. Na ocasião, ele era bispo da pastoral operária.

O religioso também era conhecido pela forte atuação pastoral junto aos trabalhadores e trabalhadoras, como a defesa dos direitos humanos, especialmente durante os anos de chumbo da ditadura militar no Brasil.

Nascido em 19 de janeiro de 1933, em Saltinho (SC), Dom Angélico foi ordenado sacerdote da Igreja Católica em 1959, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo.

Em 1974, foi nomeado bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo, recebendo a ordenação episcopal no ano seguinte pelas mãos de Dom Paulo Evaristo Arns, outra figura icônica que lutou pelos direitos sociais e pelos trabalhadores no país.

Lula lamenta perda

Na semana passada, Lula e a primeira dama Janja da Silva fizeram uma visita ao bispo. Dom Angélico, que tratava de uma ostiomielite no fêmur, ficou tão feliz com o encontro que chegou a se levantar, o que não conseguia fazer havia muito tempo, segundo a coluna da jornalista Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo.

Nas redes sociais, o presidente lamentou a morte do amigo. "Guardo as lembranças do grande amigo que fez da ternura e da bondade os princípios que guiaram sua vida. “Amai-vos e não armai-vos" era sua lição para todos nós", escreveu o presidente.

Lula lembrou da época que conheceu dom Angélico. “Das greves dos trabalhadores em São Paulo nas décadas de 70 e 80, passando por momentos históricos da luta pela redemocratização e pela justiça social no nosso país, estivemos sempre juntos do lado da verdade e do bem comum”, recordou.

Foi o bispo que celebrou o casamento entre Lula e a primeira-dama Janja, em 2022. Além disso, Dom Angélico batizou os netos de Lula e de dona Marisa. Em 2017, ele deu a unção dos enfermos a ela no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo onde a ex-primeira-dama estava internada por causa de um AVC. Depois da morte de dona Marisa, rezou a missa de corpo presente e a missa de sétimo dia.

Um ano depois, quando foi preso injustamente, exatamente em 7 de abril de 2018, dia do aniversário de Marisa, Lula chamou dom Angélico para que celebrasse um ato ecumênico em homenagem a ela antes de ser encarcerado.

Recebi com profunda tristeza a notícia do falecimento do querido Dom Angélico, que dedicou sua vida à solidariedade e ao amor ao próximo, como nos ensinou Jesus Cristo.

Das greves dos trabalhadores em São Paulo nas décadas de 70 e 80, passando por…

— Lula (@LulaOficial) April 16, 2025

Destemido

Voz ativa nas lutas sociais, nos direitos das mulheres e dos trabalhadores, o bispo contrariou a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e condenou o projeto de lei que previa a prisão de adolescentes que fizessem aborto, mesmo quando estupradas.

"O aborto é um crime. Está certo. Mas espera um pouco! A mulher é frequentemente a maior vítima dessa situação. O que mais há na sociedade é machismo. No caso de mulheres estupradas que engravidam e fazem aborto, afirmou, a situação se agrava. A pessoa jamais poderia ser punida, porque é vítima”, disse.

Trajetória

Angélico era o quinto de nove filhos, entrou no seminário ainda jovem, em 1946, mas interrompeu a formação religiosa aos 20 anos. Nesse intervalo, chegou a trabalhar como caldeireiro em uma metalúrgica. Voltou à vida religiosa dois anos depois e foi ordenado padre em 1959, dando início ao ministério sacerdotal.

Durante esse período, conciliou a vocação com o jornalismo. Em 1955, recebeu o registro profissional de jornalista pelo Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, após atuar no jornal Diário de Notícias, da diocese local. Essa vivência o ajudaria a comunicar com clareza e contundência as causas que abraçava.

Em 2000, tornou-se o primeiro bispo da recém-criada Diocese de Blumenau (SC), onde permaneceu até a aposentadoria. Mesmo após deixar o cargo, manteve-se ativo nas lutas sociais, participando de celebrações e atos públicos.

Velório

O velório está sendo realizado nesta quarta-feira (16) na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na Vila Zat, Brasilândia, desde às 8h. O cardeal dom Odilo Scherer rezará missa de corpo presente na Paróquia Nossa Senhora Aparecida da Vila Zat, em Pirituba, marcada para as 15 horas.

Após a celebração de corpo presente, ele será levado para Blumenau (SC). Na Catedral de Blumenau, uma nova Santa missa, em seguida, acontecerá o sepultamento do bispo.

CNBB

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) publicou uma mensagem enaltecendo a trajetória do religioso.

“Elevamos a Deus nossa gratidão a Dom Angélico por sua dedicação e serviços prestados ao episcopado brasileiro, à CNBB, aos seus regionais Sul 1 e Sul IV e à Comissão dos Bispos Eméritos de nossa Conferência”, diz a mensagem.