Escrito por: Redação CUT

Metroviários de SP entram em greve por direitos

Há dois anos com salários congelados, categoria resiste aos ataques do governo Doria aos seus direitos

Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Depois de várias tentativas de negociação, os metroviários de São Paulo aprovaram, em assembleia realizada na noite desta terça-feira (18), greve por tempo indeterminado por direitos, a partir desta quarta-feira (19).  

Pelo menos quatro linhas do Metrô de São Paulo amanheceram paradas -as linhas 1-Azul, 2-Verde, 3-Vermelha e 15-Prata (monotrilho), onde trabalham cerca de 7.200 metroviários. 

De acordo com representantes dos trabalhadores, em plena pandemia, o governador João Doria (PSDB) quer cortar direitos dos metroviários, reduzindo seus salários, que já estão congelados há dois anos.

Segundo nota no site do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, a categoria está trabalhando sem parar desde o início da pandemia do novo coronavírus. De acordo com o sindicato, 25 trabalhadores já morreram e cerca de 700 casos de Covid-19 já foram confirmados. “O Metrô está funcionando graças à dedicação de seus funcionários, que estão expostos diariamente ao coronavírus, mas mantêm a qualidade do serviço prestado à população”, diz a nota.

O governo não mandou representantes para a audiência de conciliação que seria realizada na tarde desta terça-feira pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT) e, na assembleia, os metroviários rejeitaram a proposta do Metrô, que previa reajuste abaixo da inflação e apenas em janeiro do próximo ano.

Na 2ª Audiência de Conciliação, realizada na segunda-feira (17), no Tribunal Regional do Trabalho  (TRT), a empresa recusou a proposta apresentada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e apresentou proposta em que manteve a diminuição de direitos. O MPT apresentou uma sugestão para a conciliação. Mesmo insuficiente, pois implica em redução temporária do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT), o Metrô não aceitou e manteve a postura de ataque permanentemente ao ACT.

Confira as propostas: 

Proposta do MPT  

 Proposta do Metrô

Não tem queda na arrecadação

O governo estadual alega a queda de arrecadação no transporte na pandemia para atacar e tentar retirar direitos da categoria metroviária. A realidade, no entanto, é outra: o governo de SP teve superávit de R$ 7,7 bilhões no orçamento em 2020 e encerrou o ano com R$ 14,6 bilhões no caixa.

Tratamento bem diferente é oferecido a empresários bilionários do setor privado de transportes. Em março o governo repassou R$ 1 bilhão para a concessionária CCR, que administra as Linhas 4, 5 e 17 (privatizadas). Com a bagatela, a empresa adquiriu as linhas 8 e 9 da CPTM e ainda sobrou dinheiro.

A empresa tem formado um monopólio no setor e acumula lucros exorbitantes. Somente no primeiro trimestre teve aumento de 137,8%, somando R$ 688,9 milhões em ganhos.

Governo é responsável

Na live que antecedeu a assembleia, os coordenadores do sindicato dos metroviários responsabilizaram a empresa e o governo paulista pelo impasse e pela greve. E refutaram a alegação de que não há recursos disponíveis. “Tem dinheiro, sim. A discussão é pra onde vai o dinheiro”, afirmou Altino Prazeres. “Há um desrespeito da empresa em relação à categoria metroviária. A culpa dessa greve é do governo de São Paulo. Do Doria (o governador João Doria, do PSDB), do secretário de Transportes e de seus representantes.”

“Essa indignação é resultado do desrespeito do governo Doria” reforçou Camila Lisboa. “Estamos trabalhando desde que começou a pandemia, estamos nos arriscando.” O sindicato diz que os contaminados já chegam a 700 e houve pelo menos 25 mortos em consequência da covid-19. “Cumprimos todas as etapas do processo, participamos de todas as negociações. O governo quer destruir nosso acordo e desmoralizar a categoria. Quem fechou o diálogo foi o Metrô.”

“Queremos deixar claro: queremos só manter o nosso acordo coletivo. Nós só queremos reposição das perdas salariais, que nos paguem a PR devida”, disse ainda Wagner Fajardo.

Além da campanha salarial, o sindicato se organiza para manter a sede da entidade, no bairro do Tatuapé, zona leste. O prédio foi construído em terreno cedido há décadas pelo governo estadual, em regime de comodato, e agora o Executivo quer leiloar o local.

Com apoio da RBA