Escrito por: Redação CUT
Novo episódio do Podcast Estúdio CUT debate pesquisa do Dieese sobre a geração “Sem Sem”, mostra que a taxa caiu ao menor nível em 10 anos e revela desafios ligados a gênero, classe e oportunidades
Está no ar mais um episódio do Podcast Estúdio CUT, trazendo um panorama sobre a chamada “juventude Sem Sem”.
Quem são esses jovens? Por que não estão no mercado de trabalho, por que não estão estudando — e quais as perspectivas desse segmento?
Na conversa com Gustavo Monteiro, economista do Dieese, o episódio apresenta os dados mais recentes sobre o tema e mostra que, apesar de ainda expressivo, o número de jovens nessa condição vem diminuindo ao longo dos últimos anos.
Assista abaixo:
Mais sobre o episódio
O estudo do Dieese, discutido no programa, traça um retrato amplo da juventude brasileira e da geração “Sem Sem” – termo usado para designar os jovens que não estão trabalhando nem estudando. A pesquisa revela que:
A queda do número de jovens “Sem Sem”
De acordo com o Dieese, 17,9% dos jovens brasileiros entre 14 e 29 anos — cerca de 8,9 milhões de pessoas — estavam sem estudar e sem trabalhar no segundo trimestre de 2025. Apesar do número ainda alto, o dado representa o menor nível da série histórica na última década.
Para o economista Gustavo Monteiro, a melhora é resultado direto do aquecimento do mercado de trabalho. “A situação atual é a melhor dos últimos dez anos pros jovens. Isso se deve, principalmente, ao mercado de trabalho que está mais aquecido”, destacou o economista.
Segundo ele, o aumento do emprego formal entre os mais jovens indica um cenário mais favorável. “A taxa de desocupação entre os jovens caiu pela metade entre 2020 e 2025, chegando a 10,2%, o menor nível da história recente.”
Desmistificando o termo “Nem Nem”
Monteiro explica que o rótulo ‘Nem Nem’ é incorreto e injusto. “Esse termo inteiro é mal interpretado. Ele sugere que os jovens estão assim por escolha, e não é verdade”. O economista reforça que a grande maioria quer trabalhar ou estudar, mas não tem oportunidade.
“Só 2% dos jovens disseram que não queriam trabalhar. Eles estão sem trabalho e sem estudar porque não têm oportunidade”, diz ele. Além disso, o fenômeno é, na maioria dos casos, transitório. “Depois de três meses, um quarto dos jovens que estão sem trabalhar e sem estudar agora já vão ter arranjado algum trabalho ou vão estar estudando”, ele pontua.
O que fazem os jovens “Sem Sem”
A pesquisa mostra que muitos desses jovens não estão parados, mas engajados em outras atividades não contabilizadas nas estatísticas oficiais. “A quantidade de jovens nessa situação reflete mais o mercado de trabalho do que o perfil dos jovens”, diz Monteiro.
No caso das mulheres, o peso do cuidado é determinante. Entre as meninas e as mulheres, é muito comum que elas não estão trabalhando nem estudando porque estão cuidando de afazeres domésticos. “Elas não têm trabalho remunerado, mas estão trabalhando dentro de casa”, diz.
Entre os homens, é mais comum que estejam em busca ativa de emprego. Já nas classes médias e altas, há jovens temporariamente fora da escola em razão de ano sabático ou cursinhos preparatórios, que o IBGE não contabiliza como estudo formal.
Desigualdade e acesso ao trabalho
A desigualdade social, racial e de gênero aparece como um dos fatores mais decisivos. Gustavo detalha que jovens de famílias ricas podem estar nessa situação porque estão esperando um tempo para ingressar na faculdade. Já os jovens mais vulneráveis precisam trabalhar mais cedo, mesmo com pouca qualificação. “Há um fator de discriminação também com esses jovens mais humildes”, ele diz.
O recorte de gênero e raça agrava o quadro: as mulheres negras jovens têm taxa de desocupação ainda maior, chegando a 12,7%. As mulheres que cuidam da casa entram no mercado com menor qualificação e, mesmo formadas, acessam profissões de menor prestígio que as dos homens, de acordo com o economista.
Trabalho precário e novas preferências
Apesar de o mercado de trabalho juvenil ainda ser marcado pela alta informalidade (quase 40%), há uma melhora gradual. “Hoje, 47% dos jovens são seletistas”, diz Monteiro. “O que o jovem quer é um trabalho bom. Ele não quer um trabalho ruim — mas quem quer? Ninguém quer”, explica Monteiro
Ele diz ainda que os jovens também dão peso à flexibilidade e à qualidade de vida. “Eles valorizam mais a flexibilidade no trabalho — poder trabalhar em casa, ter jornadas menores, fugir da escala 6x1”.
A juventude como termômetro social
O economista define os jovens como um termômetro da economia. “Eles representam o futuro e servem como termômetro. Se tiver muito jovem parado, isso é um mau sinal mesmo.”
Monteiro defende políticas que sustentem o crescimento e a qualificação. “O que seria melhor pro jovem é ele aproveitar essa fase pra se qualificar, pra estudar. O acesso a creches é fundamental pra que as mulheres possam deixar os filhos e voltar a trabalhar ou estudar”, ele pontua.
Gustavo também chama atenção para o papel do setor produtivo. “O problema da produtividade no Brasil não é só do trabalhador. Falta as empresas investirem, aumentarem a produtividade, inovarem”, ele diz.
Mesmo com os desafios, o tom é de otimismo. “Eu não vejo esses jovens como parados ou como problema. Eles estão com muita vontade de trabalhar, de progredir, tão cheios de sonhos”, finaliza o economista do Dieese.