Escrito por: Rosely Rocha
Secretário de Economia Solidária da CUT e coordenador do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, Admirson Medeiros, o Greg, diz que Big Techs aceleram a desinformação por interesses econômicos
Atacar a democracia e a soberania nacional tem como meta atender aos interesses econômicos por parte das grandes corporações e plataformas, as chamadas Big Techs, e por isso que o governo dos Estados Unidos colocou como parte dos argumentos para impor a taxação de 50% sobre as exportações brasileiras, o fato do Brasil ter criado a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Para o governo de Donald Trump, a LGPD impõe restrições excessivas à transferência de dados para fora do país, o que dificultaria o processamento de informações, especialmente as financeiras e de saúde dos brasileiros.
Um grande grupo de lobby financiado pelas Big Techs dos Estados Unidos (EUA) – que tem como membros Google, Meta, Microsoft, Amazon, Uber, Apple, Pinterest e E-Bay - está ligado à ameaça de Donald Trump de investigar práticas comerciais do Brasil. A CCIA, sigla em inglês para Associação da Indústria de Computadores e Comunicações (Computer & Communications Industry Association), elaborou um mapeamento de todas as ações que o Executivo e o Legislativo brasileiro tomaram e iriam contra os interesses das Big Techs. A entidade aplaudiu a taxação sobre o Brasil minutos após Trump anunciar as sanções. A informação é da Agência Pública.
“Tudo que está acontecendo, está dialogando com algo que é fundamental, que é a questão da democracia e da nossa soberania. Principalmente a questão da soberania digital, que estamos desde o ano passado brigando pela regulação das plataformas, do reconhecimento facial, as Deepfake [técnica de síntese inteligência artificial que usa vídeo de pessoas com falas falsas, dando a impressão de serem reais]. Não podemos simplesmente deixar que aumente ainda mais o discurso e ódio dessas redes por meio de algoritmos que a gente não sabe como funciona, por não ter transparência. Vivemos um momento muito delicado”, diz Admirson Medeiros Ferro Júnior (Greg), secretário de Economia Solidária da CUT Nacional e coordenador do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC).
O interesse dos Estados Unidos, na avaliação de Greg, é uma briga mundial porque o Brasil está assumindo a coordenação dos BRICS - um bloco que cresce a cada dia e que ameaça o domínio norte-americano no mundo.
“Os avanços tecnológicos vão dominar as formas de produção e a plataformização do trabalho. Hoje o mundo digital está afetando todas as áreas do conhecimento, todas as áreas econômicas e políticas do mundo inteiro”, diz.
A gente vai ter problemas na nossa democracia, em nossas contas, em nosso dinheiro, em nosso emprego, em nosso salário- Admirson Medeiros (Greg)A atuação do lobby das Big Techs se estende ao Congresso Nacional que até o momento não colocou em votação a Lei nº2338/23 sobre o uso da Inteligência Artificial, denuncia Greg.
“As Big Techs estão investindo pesado em lobbies, diariamente, lá dentro do Congresso e dentro do governo brasileiro para não ter regulação. Ninguém fala mais do assunto e a gente precisa que o projeto volte a andar, que as plataformas sejam regularizadas e responsáveis pelo que é publicado em suas redes”, defende.
Por enquanto estão sendo realizadas audiências públicas sobre o tema com a participação de sindicatos, federações e confederações dos trabalhadores, mas Greg entende que para avançar é preciso mais apoio dos movimentos sindicais.
O dirigente explica os três pilares da regulação das Big Techs
O combate à desinformação e aos crimes digitais passam pela questão da transparência do algoritmo, as falhas no processo de moderação que a plataforma tem, que lá entra todo mundo publicando fake news e Deepfakes que só crescem.
O segundo pilar é a questão é limitar essa exploração predatória dos atos pessoais, inclusive com regulação do reconhecimento facial.
O último pilar diz respeito à questão da governança ética e da inteligência artificial.
“A gente precisa fazer nossas próprias regras no ambiente digital, proteger os cidadãos desse abuso tecnológico e, assumir essa questão da liderança. O governo brasileiro tem que estar atento à soberania digital no Brasil e a hora é agora, não dá para esperar”, conclui.
Greg também faz parte da coordenação de uma comissão com respeito à Comissão de Direito à Comunicação que trata de direito, comunicação e liberdade de expressão e coordena uma relatoria que trata da questão da inteligência artificial e direitos humanos.