Escrito por: Após um ano da tragédia do Metrô, muitas perguntas ainda não têm respostas
Abril de 2004. Cinco funcionários são afastados pelo governador José Serra, quatro dias após participarem de uma manifestação dos metroviários contra a Emenda 3, medida que flexibilizaria os direitos trabalhistas caso não recebesse o veto do presidente Luis Inácio Lula da Silva. Janeiro de 2008: após um ano da tragédia que deixou sete vítimas fatais, o Metrô solta uma nota em que aponta como "absoluta prioridade prestar informações e fornecer documentos para auxiliar na investigação das causas do desabamento de um dos túneis da futura Estação Pinheiros”. A nota não aponta os responsáveis pelo acidente e não há um laudo sobre o desabamento no canteiro de obras que engoliu cidadãos paulistas e afetou dezenas de famílias na região.
Antes mesmo do aparecimento da cratera de 1,5m de diâmetro na Rua dos Pinheiros, no dia 12/01/2007, a construção da privatizada Linha 4 pelo consórcio Via Amarela - formado por CBPO Engenharia, Queiroz Galvão, OAS, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez – envolveu diversas falhas e até mesmo a morte de um operário. José Alves de Souza faleceu soterrado, em novembro de 2006, após o desmoronamento de um túnel de 25m de profundidade na estação Oscar Freire. Tratava-se de um indício de problemas como a falta de um plano de evacuação em caso de emergência. Pior: segundo o Sindicato dos Metroviários do Estado de São Paulo, não houve nenhuma ação do Estado para evitar novos problemas. Mesmo após a tragédia sem parâmetros do ano passado, o Governo do Estado não trocou de empreiteiras na realização das obras.
O Sindicato luta para que sejam dadas as devidas explicações à população de São Paulo e que a obra seja realizada com acompanhamento e fiscalização do corpo técnico do Metrô para garantir a segurança dos trabalhadores da obra e de toda a população.
A pergunta continua, 12 meses depois: qual o modelo de gestão que a administração do PSDB defende? Aquele em que as privatizações cumprem o papel do Estado, que sequer fiscaliza e acompanha as empresas contratadas?
Comissão e privatização
Logo após o ocorrido, os Sindicatos dos Metroviários, dos Engenheiros, dos Arquitetos, dos funcionários do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), a Fenametro (Federação Nacional dos Metroviários), entre outras entidades, formaram uma comissão técnica com o objetivo de permitir que especialistas destas instituições, além do IPT, participassem das investigações para apurar as reais causas desse acidente. Barbosa ressaltou que num primeiro momento ocorreram duas reuniões, mas não houve seqüência no trabalho conjunto. Agora, resta aguardar o laudo do IPT.
Djalma de Oliveira, presidente do Sinergia-CUT/SP (Sindicato dos Trabalhadores Energéticos do Estado de São Paulo), sabe bem como funciona o mecanismo de entrega do patrimônio adotado pelo governo tucano de Serra e seus antecessores. A CESP (Companhia Energética do Estado de São Paulo) de São Paulo deve entrar, até março de 2008, no ‘pacote de desestatização’ do governo paulista, assim como aconteceu com a Elektro, a Cesp Paranapanema, a Cesp Tietê e a CTEEP, nas mãos de empresas estrangeiras há 10 anos. “Contratualmente, esses grupos deveriam aumentar em 15% a geração de energia. Porém, a única elevação que aconteceu foi de tarifas”. O dirigente acredita que o esquema afetou a Linha 4. “Não tenho dúvida que o processo de contratação da Linha 4-Amarela foi ‘chave na mão’, sem fiscalização do poder público. A escolha desse procedimento é a responsável pelo acidente, porque quem constrói não vai denunciar irregularidades, não vai acompanhar, denunciar. Isso deve ser obrigação do poder público”, destaca.
O que você não deve esquecer:
- O Estado entra com 85% do total do investimento na obra, cerca de US$ 1,5 bilhão, contra apenar US$ 340 milhões do capital privado, que terá o direito de explorar o trecho por 30 anos, inclusive espaços publicitários como placas e muros;
- Durante inspeção da construção da Estação Fradique Coutinho, após o surgimento da cratera, ficou evidente que os trabalhadores contratados pelo Consórcio Via Amarela tinham à disposição materiais inadequados e precisavam fazer ‘gambiarras’. Não é possível saber se isso continua, pois, os técnicos do Metrô não podem acompanhar a construção do trecho;
- Antes da tragédia, representantes dos movimentos sociais realizaram audiências públicas, abaixo-assinados, atos públicos e entrega de cartas abertas à população para denunciar a falta de compromisso da iniciativa privada com a prestação de serviços públicos, em mais esse processo de venda do Estado. Portanto, a tragédia de janeiro, lamentavelmente, não foi novidade;
- Em setembro de 2007, ocorre um desencontro de túneis na construção da Linha 4. O Consórcio Via Amarela e a diretoria do Metrô afirmam que a falha era ‘normal’. “Em 2005 o consorcio impôs mudança do método construtivo, de Child para ATM e agora cobra nos tribunais internacionais U$180 milhões pela mudança. Após o problema em janeiro, o Ministério Público paralisou a obra para avaliar a segurança e agora o grupo ameaça cobrar mais U$ 100 milhões pela paralisação. Tememos que esse problema gravíssimo de desencontro de túneis resulte em mais uma fatura para os cofres públicos”, apontou na época Xavier Lemos, ex-Secretário de Comunicação do Sindicato dos Metroviários de São Paulo;
...e o governador se cala
O atual governador de São Paulo, José Serra, não disse ao menos uma palavra sobre a tragédia até hoje. E para piorar a situação, o laudo pericial está extremamente atrasado, o que mostra o descaso das autoridades diante de um episódio lamentável que envolveu a vida de dezenas de pessoas.
Além das 66 famílias alojadas em hotéis, muitas foram vítimas do maior acidente na história do Metrô paulista. Gente como Zelma Marinho. Uma das moradoras afetadas pelo acidente da Linha 4-Amarela do Metrô, contou ao site da CUT/SP que antes mesmo da cratera em Pinheiros aparecer já apontava o surgimento de rachaduras em sua casa e na residência dos vizinhos.
O mais recente passo na procissão em busca de ressarcimento dos prejuízos foi a visita do IPT, no início de dezembro, para a elaboração de um laudo que deve ser encaminhado ao Consórcio Via Amarela. Zelma, porém, não obteve qualquer resposta até agora. “Corremos risco de vida a cada dia. O que vemos é o aprofundamento das rachaduras e um jogo de empurra-empurra entre o governo de São Paulo e os concessionários”, lamentou.
Ao lado da família de sete pessoas, ela mora num sobrado da Rua Amaro Cavalheiro, em Pinheiros. Desde dezembro de 2005, alertava a engenheiro, do Metrô e do Consórcio, sobre rachaduras na residência.
Um ano após o acidente que deixou sete mortos, além do medo de desabamento, ela precisa conviver com o silêncio que toma conta do governador José Serra em relação ao assunto.
Saiba mais: Clique aqui e leia a entrevista que o ex-presidente do Sindicato dos Metroviários do Estado de São Paulo, Flávio Godói concedeu ao site da CUT-SP, em setembro de 2007, e um balanço com todos os problemas na construção da Linha 4 – Amarela.