Escrito por: Patrícia Ribeiro ? CUT-PB

História de resistência e luta camponesa...

Ato relembra história das Ligas Camponesas; presidente da CUT-PB ressalta importância da Comissão Memória Verdade e Justiça

 

Esta quinta-feira (16) foi dia de luta em Mari, interior paraibano. A pequena cidade, com poucas novidades para trocar ideias na porta de casa, teve um assunto mais que especial para a prosa boa da tarde. O reconhecimento dos heróis que, na década de 60, morreram lutando pela terra.

Centenas de pessoas participaram das atividades em memória dos quatro campesinos das ligas camponesas mortos durante emboscada de líderes do latifúndio local, enquanto trabalhavam numa área rural do município de Mari.

As atividades começaram no início da manhã com uma homenagem de militantes do Movimento dos Sem Terra que, lembrando os nomes de Antônio Galdino da Silva, José Barbosa do Nascimento, Pedro Cardoso da Silva e Genival Fortunato Felix, gritaram palavras de ordem, recitaram poesias e plantaram uma árvore, junto com o filho de um dos heróis, no local onde ocorreu a chacina.

Após o ato religioso, representantes de organizações políticas prestaram suas devidas homenagens. Edvaldo Martins, representante do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Mari, relembrou a necessidade de ser construído um monumento em homenagem aos camponeses mortos em 1964.

“A história que foi dita até hoje não é verdade. Aqui em Mari, ninguém podia falar em ocupação, pois o povo tinha medo da chacina de 64. É necessário transformar as sementes que foram plantadas em monumento para que as crianças, o futuro desta cidade, possam conhecer nossa história. Por isso, é preciso seguir lutando e ocupando todos os espaços para construir o Brasil que queremos”, afirmou Edvaldo.

O presidente da Central Única dos Trabalhadores da Paraíba (CUT-PB), Paulo Marcelo, comentou sobre a importância do momento. “Esse ato representa não perder a memória daqueles que tombaram pela luta pela terra para não virar escravo e ajudaram a muitos outros homens e mulheres a seguir em frente com a luta pela reforma agrária no Brasil”, afirmou o líder sindical.

Paulo ainda lembrou sobre o valor desse resgate histórico. “Devemos ressaltar ainda a importância do trabalho da Comissão Memória Verdade e Justiça, que resgatou a história de luta e resistência da cidade de Mari. Talvez, se não fosse esse trabalho, nós passaríamos ainda mais 50 anos sem saber da história dessa cidade”.

No decorrer do dia ainda aconteceu uma palestra sobre as Ligas Camponesas, ministrada por Antônio Augusto de Almeida (correspondente do jornal Terra Livre na época do conflito), emboladores, recital de cordéis e o lançamento do Cordel Resistência em Mari, de Medeiros Braga. As atividades foram concluídas com uma caminhada pelo centro da cidade, que culminou com um ato público em frente ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Mari.

Pelos olhares curiosos, cochichos e sorrisos dos moradores durante a passagem da marcha, essa história de luta e resistência do povo de Mari, será tema das próximas prosas de fim de tarde por um bom e longo tempo.

 

Segue abaixo um trecho do Cordel RESISTÊNCIA EM MARI de Medeiros Braga:

Isso é uma homenagem

Prestada aos trabalhadores

Que nas Ligas Camponesas

Não temeram os opressores,

Decididos não cederam,

Quatro tombaram, morreram

Como dignos lutadores

 

Foi o ANTONIO GALDINO

Da SILVA, seu presidente

O primeiro que tombou

Nesse covarde incidente,

Dai vindo a reação

Dos Camponeses, então,

Mais três caiam, em frente

 

Também, mortos são JOSÉ

BARBOSA DO NASCIMENTO,

PEDRO CARDOSO DA SILVA

Nesse ato truculento,

E, GENIVAL FORTUNATO

FELIX, num campesinato

De temível crescimento.

 

Cinquenta anos de história

Que o algoz a passar

A borracha sobre a página

Não conseguiu apagar;

Dos exemplos da disputa

Ficou a máxima da luta

Que vale a pena lutar.

 

Ocupação do MST simboliza a resistência do Camponês.

Durante a madrugada deste mesmo dia, mais de 70 famílias integrantes do Movimento Sem Terra ocuparam uma propriedade no município de Soledade/PB, reivindicando a desapropriação da área improdutiva.

“As famílias estão há quase dois anos, lutando para conquistar uma área onde possam trabalhar e viver dignamente. Seguiremos ocupando, levando a resistência como memória dos companheiros que morreram na luta”, comenta Gustavo (Guto), militante do MST.

A ocupação foi tida como mais uma das ações que resgataram a memória dos quatro camponeses que tombaram em Mari.