Escrito por: Walber Pinto

Greve dos eletricitários da Celesc cobra reajuste salarial e rejeita privatização

Trabalhadores e trabalhadoras paralisam atividades em todo o estado de Santa Catarina, mas mantêm serviços essenciais. Eles denunciam desigualdades internas e ameaças de privatização da companhia

Reprodução Celesc

Nesta terça-feira (23), a greve dos trabalhadores e trabalhadoras da Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc) completou o segundo dia de paralisação em todo o estado. O movimento, aprovado por unanimidade em assembleias organizadas pelos sindicatos que compõem a Intercel - coletivo de cinco sindicatos majoritários que representam todos os trabalhadores da Celesc.

Os trabalhadores cobram avanços reais nas negociações do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) e reafirmam a luta contra a privatização da companhia, que é uma das principais empresas públicas do setor energético no Brasil.

A pauta central da greve é a isonomia de direitos entre todos os trabalhadores. Atualmente, há uma divisão criada em 2016, quando, após mudanças no ACT, parte dos trabalhadores deixou de receber benefícios históricos da categoria, como o anuênio (1% de reajuste anual por tempo de serviço) e a gratificação diferenciada de férias.

“Nosso principal ponto de reivindicação é a isonomia. Hoje temos trabalhadores que ingressaram até 2016 com direitos garantidos e outros que entraram depois, sem os mesmos benefícios. Isso é injusto e cria desigualdades dentro da própria empresa”, afirma Leonardo Contin da Costa, diretor de Imprensa do Sindicato dos Trabalhadores Indústria de Energia Elétrica Florianópolis (Sinergia/CUT-SC) e trabalhador da Celesc.

A categoria também reivindica reajuste salarial com ganho real, a recomposição das perdas inflacionárias e a contratação de novos trabalhadores, já que o quadro atual é considerado insuficiente para dar conta da demanda de um estado em crescimento acelerado.

“A Celesc é uma das empresas públicas de energia mais bem avaliadas pela população no Brasil. Para manter essa qualidade de serviço, precisamos de mais contratações. Sem isso, a sobrecarga de trabalho aumenta e a população pode ser prejudicada”, reforça Leonardo.

Negociações frustradas e propostas rebaixadas

As negociações do ACT começaram em 28 de agosto. Foram realizadas cinco rodadas até agora, mas sem avanços significativos. Segundo o dirigente, a primeira proposta da direção da empresa foi considerada uma afronta à categoria, pois não garantia sequer a reposição da inflação.

“É inaceitável. A Celesc registrou faturamento recorde no último ano, mas apresenta uma proposta que não repõe nem a inflação. Isso mostra falta de respeito com quem constrói a empresa todos os dias”, critica.

Após a deflagração da greve, a direção da empresa enviou uma nova contraproposta na última sexta-feira (20), que, segundo os sindicatos, ainda não contempla os principais pontos de reivindicação. Para piorar, a empresa comunicou que só retomará as negociações se a greve for encerrada — postura rejeitada em assembleia por unanimidade pelos trabalhadores em todo o estado.

Adesão à greve

Mesmo com a paralisação, os eletricitários e eletricitárias mantêm os atendimentos emergenciais e urgentes em hospitais, postos de saúde, delegacias e outros serviços essenciais. Nos demais casos, a Celesc está operando com cerca de 30% do efetivo, em cumprimento à legislação.

A ampla participação da categoria reflete a indignação com o tratamento recebido pela direção da companhia e fortalece a disposição para manter a greve até que as demandas sejam atendidas.

Privatiza que piora

Além da pauta econômica e de direitos, a greve também é uma resposta às ameaças de privatização e de terceirização de serviços na Celesc. Nos últimos meses, a direção da empresa abriu debate sobre mudanças no Estatuto que poderiam ampliar a terceirização, o que foi duramente rechaçado pela categoria em ato realizado em frente à sede da companhia, em Florianópolis, com mais de 300 trabalhadores.

A resistência tem como base a experiência concreta de outros estados.

“Em todos os lugares onde a energia foi privatizada, a qualidade caiu. No Rio Grande do Sul, a CEEE – Equatorial Energia  - não conseguiu atender a população durante a catástrofe climática. No Paraná, a Copel privatizada já enfrenta uma onda de reclamações. Em Goiás, até o governador reconheceu que foi um erro. Não queremos esse destino para Santa Catarina”, alerta Leonardo.

Os sindicatos lembram ainda que a categoria tem realizado mobilizações permanentes em defesa da Celesc pública. Em janeiro deste ano, trabalhadores ocuparam as ruas de Florianópolis em ato unificado; em fevereiro mais de 400 eletricitários estiveram na Assembleia Legislativa para dialogar com deputados; e em abril, uma audiência pública reuniu parlamentares de diferentes partidos, que chegaram a elogiar a qualidade dos serviços prestados pela Celesc, mesmo entre setores historicamente favoráveis à privatização.

Categoria mobilizada

Segundo a Intercel, a greve não é apenas pela pauta salarial, mas também pela defesa de um patrimônio estratégico do povo catarinense.

“Nossa categoria está sensibilizada e firme. Estamos em greve para conquistar direitos iguais, melhores salários e para defender a Celesc como empresa pública. Essa é uma luta de toda a sociedade catarinense”, conclui o dirigente.

Expectativas

Os sindicatos reafirmam que a greve continuará enquanto a direção da Celesc não apresentar uma proposta que contemple as reivindicações da categoria. A unidade demonstrada nas assembleias e nas mobilizações indica que se a empresa mantiver a postura intransigente, o movimento tende a se fortalecer ainda mais nos próximos dias.