Escrito por: Walber Pinto, André Accarini e Rosely Rocha

“Golpista tem que ir pra cadeia, sem anistia”, diz o povo nas ruas de São Paulo

Multidão ocupou a Avenida Paulista contra a PEC da Impunidade e o projeto de anistia a golpistas, exigindo que o Congresso atenda às pautas do povo e não de corruptos

Roberto Parizotti

A Avenida Paulista, em São Paulo, viveu neste domingo (21) um dia histórico. Em frente ao MASP e por vários quarteirões à esquerda – e também à direita – do  museu, uma multidão tomou as duas faixas da via para rejeitar a chamada PEC da Impunidade, também conhecida como PEC da Blindagem ou “PEC da Bandidagem”, e o projeto de anistia a golpistas.

Convocado pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, das quais a CUT faz parte, pelo Fórum das Centrais Sindicais e pelo Grito dos Excluídos e das Excluídas, o ato mobilizou representantes de centrais sindicais, parlamentares, movimentos populares e artistas como Nando Reis, Leoni, Otto, Salgadinho e Dexter. Famílias, grupos de amigos, jovens e idosos deram o tom de diversidade.

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Ao longo do ato vaias se repetiram ao serem citados nomes de deputados de extrema direita que, no Congresso Nacional, se articulam e travam as pautas para que seus interesses próprios sejam votados, caso dos projetos que foram motivos dos protestos.

No chão da Paulista, faixas e cartazes. No caminhão, lideranças expressando a indignação a um Congresso que tenta se blindar de investigações e perdoar crimes de golpistas, em especial, do ex-presidente Jair Bolsonaro, em vez de trabalhar por pautas de interesse popular, como a redução da jornada de trabalho e a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5mil.

Roberto Parizotti

Para a vice-presidente da CUT, Juvandia Moreira, a mobilização foi um recado claro contra a blindagem de parlamentares e a anistia a golpistas.

“É um absurdo que o Congresso queira passar anistia para quem tentou dar um golpe de Estado, planejou assassinatos, quebrou patrimônio público e invadiu instituições. É também um absurdo que parlamentares sejam protegidos por uma PEC da Bandidagem, que exige autorização do Congresso para investigar crimes, permitindo que muitos só respondam depois de perder o mandato. Hoje estivemos na Paulista e em atos por todo o país, dizendo sem anistia, sem blindagem. O Congresso não pode aprovar esse absurdo. Queremos que seja aprovada a isenção de imposto de renda para quem ganha até cinco mil e que os ricos paguem sua parte, sem sobrecarregar o povo brasileiro", disse Juvândia.

A CUT participou do ato junto com representantes de sindicatos que reforçaram a agenda de direitos. “Tenho certeza de que já somos mais de 100 mil só aqui na Paulista para dizer que o povo tomou as ruas porque não aceita a PEC da Bandidagem. Queremos democracia e que quem cometa crime seja punido. Viemos mandar um recado claro para os deputados: o povo brasileiro não vai aceitar esse desmando”, disse o presidente da CUT-SP, Raimundo Suzart.

Moysés Selerges, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC), cobrou a redução da jornada e a isenção do imposto de renda para quem ganha até cinco mil reais. “Nem anistia, nem PEC. O que precisamos é reduzir a jornada de trabalho, acabar com a escala 6 por 1 e votar a isenção de imposto de renda para quem ganha até cinco mil reais”, disse.

Secretário-geral da Intersindical, Edson Carneiro (Índio), lembrou que não só em São Paulo, mas em todo o país, “a juventude, os trabalhadores, as mulheres e os homens estão na rua para dizer ‘não vamos aceitar que o centrão e a direita aprovem a PEC da Bandidagem e deem privilégios para criminosos’. Quem tentou dar golpe vai pra Papuda. Não tem anistia, não tem dosimetria. É cadeia para Bolsonaro.”

 

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Lideranças populares e políticas

Entre os discursos, o público entoava gritos de “Sem anistia!”, “Bolsonaro na cadeia!” e “O povo unido jamais será vencido”, reforçando a mobilização. Um dos momentos de grande emoção foi a participação do Padre Julio Lancellotti, símbolo da luta por Justiça Social em São Paulo e no Brasil.

“Meus irmãos, minhas irmãs, força e coragem. Eles estão armados, nós desarmados, mas somos mais do que os covardes. A covardia é de quem quer blindar a bandidagem. O fascismo não passará. Não passarão. Senhor de todos os nomes, de todas as religiões, lutaremos pelo bem, pela liberdade e pela verdade. Anistia não. Bandidagem não. Viva a liberdade e o povo”, disse o religioso.

Liderança do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Terra (MST), Gilmar Mauro fez uma citação à primavera, em alusão à Primavera Árabe, onda de protestos e revoltas pró-democracia que ocorreram no Oriente Médio e Norte da África a partir de 2010, derrubando regimes autoritários em alguns países e desencadeando conflitos em outros

“Hoje é o Dia da Árvore e amanhã começa a primavera, mas nós antecipamos a primavera para hoje. É a primavera do povo brasileiro nas ruas para dizer: nós não estamos à venda, nosso país é soberano, nossas terras são soberanas. Defendemos a reforma agrária, a luta do nosso povo. Esses bandidos têm que pagar pelos crimes que cometeram”, disse Mauro.

O presidente nacional do PT, Edinho Silva, participou do ato na Paulista afirmando que acabar com privilégios é a meta. “Queremos anistia para as trabalhadoras e trabalhadores que pagam imposto de renda indevidamente, não para golpistas nem assassinos. Queremos tarifa zero, queremos que bilionário pague imposto, queremos educação integral universal. A agenda do povo é essa, não a da blindagem de criminosos”, disse.

O deputado federal Vicentinho (PT-SP) lembrou a baixa presença de trabalhadores no Congresso e convocou: “É preciso votar em quem representa a classe trabalhadora”, ele disse, citando ainda as dificuldades enfrentadas por quem realçmente defende interessos dos trabalhadores na Câmara.

“Vocês não imaginam como nós, deputados da classe trabalhadora, sofremos ao engolir a maldita reforma trabalhista, a reforma previdenciária e, agora, ver esses que votaram para se esconder e não serem julgados. Sabe quantos operários temos lá dentro? Quatro. Quantos empresários? Mais de trezentos. Trabalhadores rurais, quatro. Fazendeiros, 128. Se os trabalhadores votassem em trabalhadores, seríamos 500. Por isso precisamos reverter esse quadro, eleger maioria da classe trabalhadora para conquistar vitórias de verdade”, disse o parlamentar

Também deputado federal pelo PT de São Paulo Arlindo Chinaglia, afirmou quecada vez mais temos que ocupar as ruas para derrotar a extrema direita. Não há acordo com anistia. Vamos defender a decisão do Supremo e unir todos os democratas do país”

Dia histórico

Para o deputado federal, Guilherme Boulos (Psol-SP), com os atos deste domingo, a esquerda retomou o protagonismo das ruas.

“De um lado, quem defende o povo; do outro, quem defende privilégios. Não tem meio termo. Não venham com anistia light, raiz ou Nutella. Golpista tem que ir pra cadeia, não tem arrego! Queremos bilionário pagando imposto, queremos a derrota definitiva da PEC da Bandidagem”, disse Boulos. Ele também reforçou que a mobilização continua até “ver Bolsonaro e seus cúmplices atrás das grades e até elegermos a maior bancada de esquerda da história”.

Mandou ainda um recado ao Congresso Nacional. “Senadores, ouçam: o povo exige enterrar essa PEC. Este é o início de uma retomada das ruas que vai levar a três resultados: Bolsonaro na cadeia, Lula reeleito e uma maioria popular no Congresso”.

Em meio a muitos pedidos de fotos e ‘selfies’, a deputada federal Luiza Erundina (PSOL-SP) à reportagem do Portal da CUT que “se a PEC da Bandidagem é aprovada, é o nosso país que perde”.

Ela afirmou ainda que “é povo na rua que derruba ditadura e preserva as liberdades democráticas”. Ela citou ainda a conduta de parlamentares ao dizer que o país não pode aceitar nenhuma afronta à soberania. “É uma vergonha o que fazem brasileiros traidores lá fora. Espero que o Senado não aprove essa PEC e, se aprovar, nós vamos derrubar nas ruas. Não aceitamos ofensas à ética e à democracia. A luta popular é a verdadeira justiça”, disse Erundina.

Não tolereramos

A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), participou do ato celebrando a democracia e o povo brasileiro e condenando veementemente a corrupção e a tentativa de anistia para aqueles que buscaram minar o processo democrático.

“Esta é a festa da democracia, da justiça e da esperança. O Congresso mostrou de que lado está: do lado dos golpistas. Mas nós estamos aqui para dizer que golpista não terá perdão. Pela primeira vez podemos reparar nossa história. Nenhum golpista foi condenado pela ditadura, mas agora Bolsonaro vai para a cadeia. Aqui vive a democracia, a justiça social, os direitos humanos, a classe trabalhadora, o povo negro, a comunidade LGBT, as mulheres, os povos indígenas. Nossa bandeira é a brasileira, não a dos Estados Unidos. Seguiremos na luta, nas ruas e no parlamento. Não nos intimidaremos e defenderemos o Brasil que acreditamos. Sem anistia!”, disse Erika.

A deputada federal Sâmia Bonfim (PSOL-SP), também presente ao ato, disse que a população foi às ruas neste domingo dizer não à blindagem de corruptos e golpistas no Congresso.

“Quem votou a favor ou se omitiu ou subestimou o povo brasileiro, que lotou as ruas para dizer que não aceita golpe nem desmando. Já passamos de 1,5 milhão de assinaturas no abaixo-assinado que vamos entregar ao Senado para enterrar a PEC. E não podemos esquecer que esta semana aprovaram a urgência da anistia. A anistia de hoje é o golpe de amanhã. Sem anistia, sem blindagem e sem perdão.”

 Já a deputada Tabata Amaral (PSB-SP), em sua fala, afirmou que a união do bolsonarismo com a parcela mais corrupta do Congresso trouxe a PEC da Bandidagem e quer “dar perdão a quem atentou contra a nossa democracia”. A parlamentar pontou: “podem ter maioria no plenário, mas a maioria da rua é nossa”.

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