Conversas telefônicas comprovam envolvimento norte-americano por trás dos protestos contra construção de estrada na Bolívia
O presidente da Bolívia, Evo Morales, denunciou a Embaixada dos Estados Unidos em La Paz por promover uma marcha de representantes indígenas contra a construção de uma estrada que atravessará uma reserva florestal boliviana.
Em depoimento na televisão, Evo revelou um registro de conversas telefônicas dos meses de junho e julho entre os dirigentes indígenas e o funcionário da embaixada Eliseo Abelo, e anunciou o pedido de explicações à representação diplomática norte-americana sobre o caso.
O ministro da Presidência, Carlos Romero, que ocupa atualmente o cargo de chanceler interino, se reuniu na quarta-feira com o conselheiro da embaixada norte-americana, William Mozdzierz, manifestando o mal-estar e profunda contrariedade das autoridades bolivianas em razão da ingerência. “Foram feitas comunicações diretas, sem acudir em primeiro lugar ao Estado boliviano através da Chancelaria”, disse.
O mandatário também revelou que analisaria o papel da Agência Internacional para o Desenvolvimento (USAID, na sigla em inglês) dos Estados Unidos dentro do país, já que suspeita de terem, assim como a embaixada, incentivado enfrentamentos de entidades com o governo.
Os indígenas são contra a construção de uma estrada que irá dividir o Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis). Os aproximadamente 90 mil indígenas das etnias yuracaré, moxeño, chimane e trinitaria, que moram no parque nacional e vivem da caça e da pesca, foram açulados pela embaixada dos EUA contra o governo, com o argumento de que a rodovia vai destruir suas culturas e seu habitat.
“Desde quando os EUA defendem os interesses de alguma população em qualquer lugar do planeta? Quem tem interesse de preservar nossa natureza e o bem-estar do nosso povo somos nós. Porém, não há bem-estar, nem natureza preservada sem desenvolvimento, e é disso que se trata: de desenvolver o país com todos os cuidados necessários. A gritaria que incentivam esses representantes americanos é para que continuemos dependendo deles, presos aos interesses deles. E isso o nosso povo deve entender”, assinalou Evo.