Escrito por: Luiz Carvalho, de Rondônia

Em Jirau, operários da Enesa decidem voltar...

Sindicato tem audiência de conciliação com consórcios nesta terça (27) para negociar acordo

Ademilton Borges, diretor do Sticcero dá início à assembleia
Na manhã desta segunda-feira (27), dirigentes da CUT, da Conticom (Confederação dos Trabalhadores na Indústria da Construção e Madeira) e do Sticcero (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil de Rondônia) atenderam aos pedidos dos operários da Enesa Engenharia e realizaram uma assembleia para avaliar a proposta da empresa

Dessa vez, ao contrário do que ocorreu no dia anterior, quando a votação terminou em empate, os trabalhadores resolveram a aceitar a proposta de 5% de aumento adiantado como bonificação referente ao próximo salário e pagamento dos dias parados. E, com isso, retomar as atividades.

“Obviamente nós tivemos a resistência de uma parte pequena dos trabalhadores da Camargo Corrêa, mas aqueles ligados a essa empresa já pedem em sua grande maioria o retorno ao trabalho”, avalia o presidente da Conticom, Cláudio Gomes.

Ainda assim, a maior parte do canteiro, formada pelo pessoal ligado à Camargo Corrêa, permanece de braços cruzados. A avaliação da pauta por parte desse grupo deve ocorrer nesta quarta-feira (28) por meio de um plebiscito para quantificar exatamente qual é a maioria nesse embate.

A luta continua
A greve começou no último dia 9, puxada pelos 1.600 funcionários da Enesa, empresa contratada para cuidar da instalação das turbinas na hidrelétrica. Na ocasião, a manifestação cobrava a melhoria das condições no alojamento e em espaços de lazer, além do vale alimentação. Três dias depois, os outros 15 mil trabalhadores resolveram aderir ao movimento.

Dessa vez, porém, a disposição do primeiro grupo em retornar ao trabalho e iniciar o processo de negociação da campanha salarial ficou evidente já na chegada dos dirigentes, que encontram milhares de pessoas uniformizadas.

A categoria, cuja data-base é em maio, cobra 30% de aumento salarial, pagamento de 100% de todas as horas extras, baixada de 10 dias a cada 70 trabalhados, entre outros pontos.

Durante sua intervenção, o presidente da Conticom, Cláudio Gomes, destacou que a CUT, a confederação e o sindicato iriam referendar o desejo da base. “A despeito da definição da Justiça, estamos aqui para obedecer fielmente a deliberação de vocês”, comentou, referindo-se à decisão da Justiça do Trabalho de considerar a greve ilegal e multar o Sticcero em R$ 200 mil por cada dia de paralisação.

O mesmo vale para a mobilização na usina de Santo Antônio, onde os operários mantém a greve desde ontem.

Cláudio Gomes coloca em votação proposta: aprovada pelos trabalhadores da EnesaCampanha salarial – Ainda hoje, CUT, Conticom e Sticcero reúnem-se com os consórcios das duas usinas e com o Ministério do Trabalho para buscar uma proposta que será submetida à assembleia.

“A Justiça do Trabalho, infelizmente, está presa ao ritual daquilo que prevê a lei de greve e não considera os fatos sociais. Se nós tivéssemos um tribunal com uma visão mais avançada, certamente a situação desses trabalhadores seria vista de outra forma. O que fará os trabalhadores retornarem ao trabalho será a negociação e não a imposição judicial”, reafirmou Gomes.

Política do canteiro
O histórico da crise em Jirau e o desrespeito a decisão da maior parte dos trabalhadores deixa no ar um certo cheiro de que algo há em jogo além do desejo de melhorar a situação dos operários.

O atual processo de negociação começa em 8 de março, com uma assembleia na Enesa. Apesar de a pauta de  reivindicações ter sido acatada pela empresa, um pequeno, mas barulhento grupo de trabalhadores comanda, no dia seguinte, a convocação à greve, alegando que as reivindicações não foram atendidas.

Um novo encontro foi realizado, dessa vez sem a participação do sindicato e apenas liderado por uma comissão de trabalhadores, que resolveu negociar isoladamente. Retiraram um acordo, homologaram na Delegacia Regional do Trabalho, mas novamente a proposta foi rejeitada em asembleia.

Diante disso, a Enesa entra com um processo de dissídio, é marcada uma audiência de conciliação. Sindicato e comissão de trabalhadores aceitam o acordo, mas a base, não.

No dia 14, já com a determinação do Tribunal Regional do Trabalho de aplicar multa ao Sticcero de R$ 100 mil por empresa – uma da Enesa e outra da Camargo Correa, portanto, R$ 200 mil –, há nova assembleia, após a entidade negociar que os dias de paralisação não seriam descontados, mediante o retorno ao trabalho. Porém, novamente, a proposta não foi aceita, algo que reforça o interesse político nessa disputa.

“É perceptível que há uma maioria que quer retornar ao trabalho, mas esse grupo minoritário é extremamente barulhento e agressivo com quem deseja trabalhar. O que observamos durante todo o processo é que as decisões têm motivação política e uma orientação externa. Isso preocupa porque compete com a legitimidade do sindicato de fazer a representação dos operários. Esses organismos que estão lá dentro e não são entidades sindicais negam e combatem o papel de conduzirmos corretamente o processo de negociação”, ressalta Cláudio Gomes.