Escrito por: Mariana Viel - Vermelho
Somente o conglomerado da Rede Globo recebeu quase um terço da verba entre janeiro de 2011 e julho deste ano
Os números mostram que desde o início do governo Dilma Rousseff, mais de R$ 161 milhões foram repassados para empresas de comunicação. Deste total, R$ 111 milhões se concentraram em dez empresas, em especial TVs.
Em entrevista ao Portal Vermelho, o presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e secretário nacional de Mídia do PCdoB, Altamiro Borges, explica que o critério adotado pelo governo para a distribuição das verbas de publicidade reforça o monopólio midiático no país.
“Ao invés de dar dinheiro para rádios e TVs comunitárias, veículos de trabalhadores, de bairros e de estudantes, esse recurso se desloca apenas para sete famílias que já concentram a mídia brasileira. Por outro lado, no caso da rádiodifusão, como não há qualquer legislação, você dá dinheiro para quem manipula a opinião pública.”
Os números revelam que a Globo Comunicação e Participações S.A. – responsável pela TV Globo e sites ligados à emissora – ficou com quase um terço da verba entre janeiro de 2011 e julho deste ano, R$ 52 milhões. A segunda colocada é a Record, com R$ 24 milhões. A ministra da Secom, Helena Chagas, disse que o critério usado para a distribuição é a audiência.
Altamiro considera distorcido o argumento apresentado pela Secom para a distribuição dos recursos. “Até por critérios de mercado a grana é distribuída de forma errada. Do total desse valor, metade vai para a Rede Globo, o que é uma aberração porque ela não tem metade da audiência. São os bônus de publicidade – denunciados até no Supremo Tribunal Federal, no julgamento do ‘mensalão’ – que são uma forma de manipulação de índices de publicidade e que acabam fazendo metade da grana ir para quem não tem metade da audiência. É um desrespeito até às outras emissoras, mas como elas têm um conluio, um pacto mafioso, não ‘chiam’ tanto.”
Também em entrevista ao Portal Vermelho, o jornalista Paulo Henrique Amorim, do blog Conversa Afiada, reafirma a contestação sobre a audiência de 50% da Rede Globo, aferida pelo Ibope. “Minha audiência é mediada pelo Google Analitcs, pelo Comscore. Quando vai pra Globo quem diz que a audiência é 50% é o Ibope. E se não for 50% da audiência? Essa é que á a minha dúvida. Quantos administradores públicos têm consciência de que podem estar torrando o dinheiro do povo numa indústria cuja confiabilidade é discutida?”
A Empresa Folha da Manhã S.A., que edita a Folha, recebeu R$ 661 mil. A Infoglobo, que edita o jornal O Globo, R$ 927 mil. O jornal O Estado de S. Paulo, R$ 994 mil. O portal UOL, controlado pelo Grupo Folha, recebeu R$ 893 mil. Sobre a verba destinada aos veículos de pequeno porte, a secretaria diz que eles fazem parte de política de regionalização do governo.
O presidente do Barão de Itararé contesta o próprio critério mercadológico utilizado pelo governo federal para a distribuição dos valores destinados à mídia alternativa brasileira. Segundo ele, os governos militares ajudaram a construir a Globo e os governos atuais ajudam a sustentá-la. “Alguns ‘calunistas’ desses veículos adoram falar mal dos blogs – dizendo que eles recebem dinheiro. Mas se você vai na planilha eles recebem uma merreca. Se fosse pela audiência que têm o Paulo Henrique Amorim e o Luis Nassif – apenas citando dois – eles deveriam receber muito mais. O governo tem medo de dar dinheiro para esses blogs porque vai ser atacado pela mídia. O que chama a atenção é que esses ‘calunistas’ que falam tanto que esses blogs recebem dinheiro são alimentados pelo governo federal.”
Durante os três encontros de blogueiros realizados em 2010, 2011 e 2012, foram feitas duras críticas a nessa forma de distribuição de verbas, informa Altamiro. As discussões levantaram a necessidade de as verbas do governo, dinheiro público, serem usadas para estimular a diversidade e a pluralidade informativa e não para concentrar ainda mais nos meios de comunicação.
Paulo Henrique Amorim reforça o debate. “O que acho estranho e surpreendente, para não dizer chocante do ponto de vista político, é que o governo federal não tenha uma política de incentivar a chamada mídia alternativa. Os chamados blogueiros sujos e todos os mecanismos de romper essa enorme barreira, esse muro – imposto pelo o que eu chamo de PIG – que existe entre a população e a informação.”
O jornalista e blogueiro estende a discussão sobre a distribuição dos recursos de publicidade para a política pública cultural país. “Não há uma política governamental clara e bem definida – uma Lei Dilma, para substituir a Lei Rouanet – de financiamento e estímulo à criação de conteúdo alternativo. Acho que o Ministério da Cultura deveria ser um Ministério de conteúdo alternativo àGlobo – financiando, por exemplo, o teatro brasileiro de comédia. Então deveria ter um teatro brasileiro de comédia para levar as peças do Oduvaldo Viana Filho ou do Plínio Marcos. A dramaturgia brasileira hoje é ocupada ou por artistas da Globo ou por textos do Nelson Rodrigues.”
“Esses números que saíram hoje da publicidade oficial do governo federal são a ponta do iceberg. Quero botar na balança as verbas da Caixa Econômica, do Banco do Brasil, dos Correios, da Petrobras, da Eletrobras, e vamos ver como é que eles tratam a Globo. Essa é a minha dúvida”, completa.
Confira abaixo a lista completa divulgada pela Secom
TVs
Globo Comunicação e Participações S.A – 50.029.241,00
Rádio e Televisão Record – 23.390.960,00
TV SBT Canal 4 de São Paulo – 19.394.613,00
Rádio e Televisão Bandeirantes – 6.328.810,00
TV Ômega (RedeTV!) – 3.197.261,00
Turner Broadcasting System Latin América – 1.204.555,00
Associação de COM.ED. Roquette Pinto (TVE) – 1.027.887,00
Globo Comunicação e Participações L.T.D.A – 833.803,00
Globosat Programadora – 810.281,00
Fox Latin American Channels Brasil – 728.587,00
Rádios
Rádio Panamericana (Jovem Pan) – 1.396.541,00
Rádio Excelsior – 1.129.999,00
Rádio Globo de São Paulo – 730.475,00
Rádio 99 FM Stereo – 539.143,00
Rádio SP-Um – 498.990,00
Rádio e Televisão Bandeirantes – 498.301,00
Rádio Transamérica Brasília – 419.723,00
Kalua Comunicações e Serv. De Publicidade – 408.788,00
Rádio Eldorado – 379.773,00
Rede Católica de Radiodifusão – 349.394,00
Jornais
Infoglobo Comunicação e Participações – 927.474,00
Estado de S.Paulo – 656.394,00
Empresa Folha da Manhã – 585.051,00
SP Publimetro – 259.275,00
Sempre Editora – 249.444,00
Correio Braziliense – 192.822,00
Empresa Editora A Tarde – 182.985,00
Valor Econômico – 164.017,00
Editora Jornal do Commercio – 159.230,00
Estado de Minas – 152.874,00
Internet
Microsoft Informática – 1.285.962,00
Globo Comunicação e Participações – 952.950,00
Universo Online (UOL) – 892.553,00
Yahoo do Brasil Internet – 712.296,00
Terra Networks Brasil – 651.662,00
Fox Latin American Channels Brasil – 491.821,00
Internet Group do Brasil – 444.632,00
Editora Abril – 352.729,00
O Estado de S.Paulo – 337.686,00
Editora Globo – 137.448,00
Revistas
Editora Abril – 1.296.649,00
Editora Globo – 479.060,00
Três Editorial (Isto É) – 266.201,00
Editora Confiança (CartaCapital) – 118.794,00
Editora Escala – 99.444,00
Editora Brasil 21 – 70.889,00
Elifas Andreato Comunicação Visual – 66.666,00
AS Pedreira – Agência Jornalística – 66.528,00
Padrão Editorial – 55.575,00
Editora Alvinegra (Piauí) – 55.110,00