Data expõe avanço de feminicídios, estupros, violência doméstica e outras agressões e reforça a necessidade de políticas públicas e rede de proteção. Mulheres negras são maiores vítimas. Veja dados
Dados de diferentes fontes, todos relacionados à segurança pública e à violência de gênero evidenciam a realidade uma realidade que não quer calar. Apesar de campanhas, legislação, protocolos, pactos internacionais e décadas de mobilização feminista, o país ainda convive com recordes nos casos de estupro, feminicídio, violência doméstica, perseguição e violações psicológicas. Por isso, esta data, o 25 de novembro - Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher – o chamado é não somente para a reflexão e consciência sobre o tema, mas – efetivamente – para a ação.
A data faz parte é parte do calendário dos “21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra Meninas e Mulheres”. A ação, que segue os moldes da campanha dos "16 dias de ativismo" idealizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), tem início no Brasil no Dia da Consciência Negra, e vai até 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos.
Em 2025, a campanha - que mobiliza entes públicos movimento sindical, movimentos sociais e diversos setores da sociedade - destaca o tema “Una-se para Acabar com a Violência Digital contra Todas as Mulheres e Meninas”
Dados: O Portal da CUT reuniu os principais dados e levantamentos para mostrar a alarmante realidade da violência contra a mulher. O panorama revela um cenário de alta gravidade, especialmente em crimes sexuais e letais, e expõe a persistência do ciclo de agressões, muitas vezes invisibilizado no ambiente doméstico. Veja:
Realizada pelo DataSenado, Instituto Natura e Gênero e Número, a pesquisa ouviu 21.641 mulheres por telefone.
Acolhimento e Denúncia: a maioria dos casos ainda é tratada na esfera privada. Após a violência, as mulheres buscaram apoio em:
A busca por órgãos formais é menor: apenas 28% registraram denúncia em Delegacias da Mulher e 11% acionaram o Ligue 180.
O 19º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) em 2025, reúne e analisa dados oficiais sobre segurança pública. O estudo destaca que todas as modalidades de violência contra as mulheres continuam em alta.
Estupros e Estupros de Vulnerável (Dados de 2024):
Feminicídios e Violência Letal (Dados de 2024)
Outras Violências
O Relatório Anual Socioeconômico da Mulher - Raseam 2025, lançado pelo Ministério das Mulheres, utiliza indicadores de diversas bases de dados oficiais, incluindo o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) e o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN/MS).
Prevalência de Violência Sexual e Letal
Recortes de Violência Notificada (SINAN/MS e Ligue 180)
Violência que atinge famílias inteiras
Mesmo quando a mulher sobrevive, a violência atinge toda a comunidade:
As medidas protetivas mostram tanto avanço quanto fragilidade:
Reação urgente
A secretária da Mulher Trabalhadora da CUT, Amanda Corcino, reforça que os números revelam a urgência de uma mudança cultural extrema. Não é mais possível naturalizar ou se omitir em relação às agressões.
“Uma sociedade que mesmo com todas as campanhas e ações pelo fim da violência contra a mulher ainda continua apresentando dados alarmantes e crescentes de feminicídio e outras formas de violência é uma sociedade que precisa, de uma vez por todas, rever suas posturas. Não podemos generalizar, claro. O ‘todo’ da sociedade não é assim, mas é preciso que todos e todas que abominam a violência contra a mulher se unam ainda mais para que essa tragédia cesse”, diz a dirigente.
Amanda destaca a importância da rede de apoio. “É preciso que vizinhos, parentes, amigos, todos que presenciam, têm conhecimento ou conhecem potenciais vítimas de violência, se manifestem, manifestem apoio, façam parte de uma rede de proteção à mulher, antes que o pior aconteça.”
Amanda ainda enfatiza que enfrentar o machismo exige ações públicas e coletivas. “Punir é essencial, mas para isso é preciso que os casos sejam denunciados, que a mulher tenha essa rede de apoio. E, paralelamente, que haja ainda mais políticas públicas e conscientização para acabar de vez com o machismo e a misoginia”, ela afirma
A CUT e seus sindicatos mantêm ações de conscientização, levam o tema às mesas de negociação e, em diversas categorias, constroem medidas concretas como o projeto Basta, dos bancários, que garante acolhimento e apoio às vítimas- Amanda CorcinoEla reforça que é preciso denunciar. “Quem presencia ou tem ciência de qualquer caso de violência contra menina ou mulher - seja em casa, na casa do vizinho ou no trabalho - deve denunciar ligando para o 180.
Mulheres negras – a violência é ainda maior
A Marcha das Mulheres Negras, que tomou Brasília neste 25 de novembro, sintetiza a realidade que os dados confirmam: a violência contra a mulher no Brasil tem cor. Uma síntese dos dados mostra que:
Esses números demonstram que, para as mulheres negras, a violência é atravessada pela desigualdade econômica, pela insegurança habitacional, pelo racismo institucional, pelo menor acesso a serviços públicos e pela menor confiança no sistema de justiça.
A pauta racial segue sendo ignorada em muitas políticas de segurança, de prevenção e proteção, o que reforça a importância da mobilização nacional das mulheres negras no mesmo dia em que o mundo inteiro debate a eliminação da violência.
“A marcha é um momento histórico. Essas milhares de mulheres negras estão aqui, em Brasília, ‘o centro do poder’, para exigir seu lugar de direito na sociedade. Estão aqui para mostrar que não é mais possível naturalizar a violência contra elas, que são as maiores vítimas, que não dá mais para naturalizar que elas tenha piores condições de vida, salários mais baixos, menos formação, menos acesso a políticas públicas”, diz a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT, Amanda Corcino.
É uma marcha para exigir reparação histórica, justiça e reconhecimento- Amanda CorcinoLeia mais: Marcha histórica das Mulheres Negras toma Brasília por justiça racial e reparação
O Dia Internacional pelo Fim da Violência contra a Mulher
A data internacional tem origem na resistência das irmãs dominicanas Mirabal — Patria, Minerva e María Teresa, assassinadas em 1960 pela ditadura de Rafael Trujillo. Em 1999, a ONU oficializou o 25 de novembro como dia global de mobilização. Passados 25 anos, a própria Organização Mundial da Saúde alerta que a violência contra a mulher permanece praticamente no mesmo patamar em todo o mundo: 840 milhões de mulheres entre 15 e 49 anos já sofreram violência sexual ou doméstica, o equivalente a uma em cada três.
Políticas públicas: Convenções 190 e 156 e o combate à misoginia
O enfrentamento à violência passa também por medidas estruturais ligadas ao mundo do trabalho:
A manutenção das desigualdades econômicas, incluindo a diferença salarial e a precarização, amplia a vulnerabilidade das mulheres, sobretudo negras, ao ciclo de violência.
O que é misoginia?
A definição mais comum para o termo misoginia é o é o ódio e aversão às mulheres. Mas é preciso observar que ela se apresenta de várias formas – o desprezo, o desrespeito, o menosprezo, além da violência e objetificação do corpo da mulher. Isso significa a sexualização do corpo feminismo.
O que é feminicidio?
Trata-se de um crime de ódio baseado no gênero, amplamente definido como o assassinato de mulheres. É a intenção ou o propósito do ato que está sendo dirigido às mulheres especificamente porque são mulheres.
Tipos de violência contra a mulher são:
Mulheres com deficiência
A violência contra a mulher atinge pessoas de todas as idades, raças, níveis sociais, etnias e atinge também as mulheres com deficiência. Desde 2019, a Lei 13.836 obriga a informação dessa condição da vítima nos boletins de ocorrência. E isso agrava a pena do agressor.
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